sexta-feira, 26 de fevereiro de 2021

A Dança Pelo Brasileirão: O Final


Chegou ao fim o Campeonato Brasileiro 2020, o que faz com que eu sinta a necessidade de complementar o pequeno conto que escrevi ao final do primeiro turno da competição. Lembrando que na história os clubes são representados por seus mascotes em uma disputa na pista de dança.

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Logo após a 20ª rodada da competição, o Saci (Internacional) escorrega e vai ao chão, enquanto que o Urubu (Flamengo) tropeça nas próprias pernas. Santo Paulo (São Paulo), que dançava e observava a cena a alguns metros de distância ao lado de Guerreirinho (Fluminense) e Peixe (Santos), aproveita a situação e passa a dominar a pista.

“Eu falei que eles iam se enrolar sozinhos”, grita Santo Paulo.

Apesar da falha, o Urubu ainda consegue se levantar com certa rapidez, mantendo seu ritmo na pista aos trancos e barrancos. Mas o mesmo não pode ser dito sobre o Saci, que se encontra atordoado e emocionalmente abalado. A situação chega a ser desesperadora. Na preferência dos jurados que estão distribuindo as notas para cada competidor, Saci chega a ser ultrapassado por Galo (Atlético-MG), Guerreirinho, Porco (Palmeiras) e Peixe, de forma que a disputa parece ter acabado para ele. Até mesmo seu grande rival, o Mosqueteiro Gaúcho (Grêmio), parece estar mais disposto a dançar.

Enquanto isso, nos cantos da pista, ocorre uma briga para ver quem dança pior na competição. Uma disputa centrada em Periquito (Goiás), Almirante (Vasco), Super-Homem Tricolor (Bahia), Vovô Coxa (Coritiba), Leão do Recife (Sport) e Manequinho (Botafogo). O Leão Massa Bruta (Bragantino) até parecia querer entrar na briga com eles. Mas, após beber um bom energético, ele ganha um gás impressionante e passa a fazer movimentos que deixam os juízes de cabelo em pé. Mesmo não chegando ao centro da pista para se destacar em toda sua plenitude, Massa Bruta passa a ter seu estilo e seu ritmo admirados por todos, fazendo adversários teoricamente melhores terem que se superar para impedi-lo de roubar a cena, sendo que alguns falham nisso miseravelmente.

“Imaginem se ele tivesse dançado assim desde o início”, diz um dos membros do júri para seus colegas.

Vendo que sua dança está bem melhor que a de seus adversários, Santo Paulo resolve fazer uma pausa para ir ao banheiro. Lá ele até encontra o Manequinho em um dos mictórios. Aliás, Manequinho não sabia naquela hora, mas perderia tempo demais naquele local, de tão carregada que estava sua bexiga, o que o faria ficar atrás de todos seus adversários de maneira irrecuperável.

É então que, para a surpresa de todos, o Saci finalmente se recupera de sua crise emocional e passa a fazer alguns dos melhores passos da competição, chegando a parecer imbatível. Ele até volta para o centro da pista para disputar a preferência dos jurados. Quando Santo Paulo finalmente retorna de sua pausa, ele mal parece acreditar que está no centro da pista ao lado de um adversário que parecia ter desistido. Sua incredulidade é tanta que ele acaba sendo humilhado pelos passos do Saci, que domina com estilo surpreendente aquela pista, enquanto Urubu e Galo se esforçam para superá-lo.

E assim as coisas permanecem durante algumas boas rodadas e tudo dá a entender que ninguém conseguirá tirar o posto do Saci. Galo e Santo Paulo falham demais em seus passos e ficam pelo caminho. Mesmo se fizessem a dança de suas vidas não conseguiriam conquistar os jurados, que passam a focar apenas no Saci e no Urubu.

No entanto, chegando mais perto do final da competição, logo quando as coisas parecem estar se definindo, o Saci fica sem energias. Seu emocional parece ser derrotado pelo cansaço. Até mesmo o Leão do Recife chega a superá-lo em uma pequena briga em determinado momento. Enquanto isso, o Urubu parece ainda ter um pouco de gasolina em seu tanque, engrenando seus passos e finalmente pegando o centro da pista só para si.

Mas em uma competição dominada pela irregularidade, com participantes que constantemente parecem não ter forças suficientes ou simplesmente não estão muito a fim de ganhar, até o próprio Urubu chega ao final entregando os pontos. Ele olha imediatamente para o Saci, o único adversário ainda capaz de roubar seu posto na pista e vencer de vez a disputa.

“Acho que essa competição é sua, Saci. Aproveite!” – diz o Urubu, que de tão cansado quase não respira direito.

Para sua sorte, porém, o Saci não consegue mais dançar.

“Não tenho mais forças” – diz o Saci.

Neste momento os jurados acionam o alarme, marcando o fim da competição.

Eles correm para o centro da pista e encontram os participantes exauridos. Mas mesmo tontos após 38 rodadas de dança, quase todos os competidores reclamam que seus adversários foram favorecidos em determinados momentos da competição e que esta acabou não sendo justa. Mas para os jurados isso pouco importa e eles sagram um exausto Urubu como campeão de dança pela segunda vez consecutiva. Ao Saci, resta a frustração de quem teve a chance de vencer, mas não aproveitou. Já para Periquito, Almirante, Vovô Coxa e Manequinho, resta a lamentação de quem dançou tão mal que acabou fora da pista.

Mas todos sabem de uma coisa: na temporada seguinte haverá mais dança e, certamente, eles terão que evoluir para ter uma participação melhor.