sábado, 2 de outubro de 2021

Colocando Leituras em Dia

No último post que escrevi, falando sobre alguns livros de literatura policial, comentei que ler estava sendo algo difícil de fazer desde meados do ano passado. Seja pelas distrações que se tem em casa ou pela sensação ruim de confinamento durante a pandemia (situação que me impossibilitou de fazer coisas que gosto, como por exemplo ler no transporte público), ter vontade de pegar um livro e se concentrar nele parecia o equivalente a escalar o Monte Everest. 

Pois bem. Não sei dizer se foi a terapia, se foi o fato de minha amiga Mila Marcet ter começado a falar sobre livros no Instagram (me incentivando por tabela) ou se foi alguma empolgação com o último post. Mas aparentemente o foco na leitura retornou nos últimos dias, o que fez eu finalmente encerrar O Iluminado e ainda ler em poucos dias o thriller A Garota do Lago, de Charlie Donlea.

E quando digo “finalmente” encerrar O Iluminado, é finalmente mesmo. Afinal, as dificuldades que citei anteriormente fizeram com que eu levasse mais de um ano para terminar a obra clássica de Stephen King, mesmo ela ficando longe de ser uma leitura ruim. Aqui vemos a história de Jack Torrance, escritor e ex-professor que começa um trabalho como zelador no Overlook Hotel no período de inverno, quando o lugar fica inabitado. Tendo apenas a companhia de sua esposa Wendy e do filho pequeno deles Danny, cujas misteriosas habilidades psíquicas o tornam alguém chamado de “iluminado”, Jack aos poucos descobre o passado assustador do Overlook, cujos fantasmas passam a influencia-lo da pior maneira possível e a amedrontar sua família.

Stephen King pode até perder um pouco a noção do ridículo em alguns momentos (admito que ri quando arbustos em forma de animais começam a ganhar vida e atacar os personagens), mas no geral concebe uma narrativa que raramente dá espaço para que nos sintamos tranquilos quanto a seu desenrolar. E elementos não faltam para causar essa inquietação. Além da inospitalidade do Overlook e seus fantasmas, temos também um protagonista alcóolatra e instável, contribuindo para a imprevisibilidade da trama (e isso vale mesmo para quem, como eu, assistiu o clássico filme de Stanley Kubrick, já que o diretor modificou vários rumos da história). Stephen King concebe tudo isso enquanto desenvolve personagens interessantes, e nosso envolvimento com eles potencializa o terror ali presente.

A Garota do Lago se revelou uma experiência frustrante. Como já falei, literatura policial em geral é o tipo de história que mais gosto de ler, mas Charlie Donlea mostra-se disposto a encher sua trama com o que há de pior no gênero. A trama basicamente mostra o assassinato da jovem estudante Becka Eckersley na pequena cidade de Summit Lake, um caso que choca as autoridades locais que nunca viram um homicídio ser cometido por ali. É então que conhecemos a jornalista Kelsey Castle, que é enviada para a cidade com o objetivo de investigar o ocorrido e escrever um artigo para a revista na qual trabalha, podendo no processo cicatrizar um trauma recente que sofreu.

Charlie Donlea estrutura o livro de forma a intercalar duas linhas temporais, uma focada em como vinha sendo a vida de Becka antes do assassinato e outra que mostra a investigação feita por Kelsey. Somando isso aos capítulos curtos e que terminam quase sempre em pequenos ganchos, o autor faz A Garota do Lago ser uma leitura difícil de largar, por mais que não traga nada de particularmente memorável. Porém, a barca de Donlea começa a afundar feio quando ele finalmente começa a solucionar os mistérios do livro, já que a partir daí ele mostra não ter sido muito honesto com o leitor durante o desenvolvimento da trama. É normal que uma história de mistério tente surpreender e pregar peças em quem a lê, o que é até prazeroso quando isso é feito de um jeito sutil, inteligente e coerente. Mas definitivamente não é assim que Donlea conduz as peças de seu quebra-cabeça, estabelecendo detalhes que servem apenas para nos enganar de maneira profundamente irritante.

De qualquer forma, devo dizer que fico feliz que o livro ao menos tenha me ajudado a retomar o ritmo de leitura. E espero conseguir não só manter os livros em dia, mas também comentar mais alguns deles futuramente aqui na minha Caixa de Sucata.