quinta-feira, 26 de novembro de 2020

Empacotando Jason

Como escrevi dias atrás, eu tenho me divertido bastante jogando Mortal Kombat X. E um dos atrativos desse exemplar da franquia é a participação especial de personagens clássicos do cinema de horror, estando entre eles Jason Vorhees, o serial killer aparentemente imortal da série Sexta-Feira 13.

Tendo isso em vista, aproveitei um tempo livre em casa para usar a minha câmera e os programas de edição a fim de dar vida ao pequeno vídeo a seguir. A ideia pareceu divertida na minha cabeça e espero que divirta vocês.

Obs.: Não recomendado para menores de 18 anos e pessoas de estômago fraco.


quarta-feira, 25 de novembro de 2020

Descanse em paz, Don Diego

Com a palavra, o mestre uruguaio Eduardo Galeano, em seu livro Futebol ao Sol e à Sombra.

“[...] Julgá-lo era fácil, e era fácil condená-lo, mas não era tão fácil esquecer que Maradona vinha cometendo há anos o pecado de ser o melhor, o delito de denunciar de viva voz as coisas que o poder manda calar e o crime de jogar com a canhota, que segundo o Pequeno Larousse Ilustrado significa ‘com a esquerda’ e também significa 'o contrário de como se deve fazer’.

Estava esgotado pelo peso de sua própria personagem. Tinha problemas na coluna vertebral, desde o longínquo dia em a multidão havia gritado seu nome pela primeira vez. Maradona carregava uma carga chamada Maradona, que fazia sua coluna estalar. O corpo como metáfora: suas pernas doíam, não podia dormir sem comprimidos. Não tinha demorado a perceber que era insuportável a responsabilidade de trabalhar como deus nos estádios, mas desde o princípio soube que era impossível deixar de fazê-lo. ‘Necessito que me necessitem’, confessou, quando já tinha há muitos anos o halo na cabeça, submetido à tirania do rendimento sobre-humano, intoxicado de cortisona, analgésicos e ovações, acossado pelas exigências de seus devotos e pelo ódio dos que ofendera.

Quando Maradona foi, finalmente, expulso do Mundial de 94, os campos de futebol perderam seu rebelde mais clamoroso. E perderam também um jogador fantástico. Maradona é incontrolável quando fala, mas muito mais quando joga: não há quem possa prever as diabruras deste criador de surpresas, que jamais se repete e goza desconcertando os computadores. Não é um jogador veloz, tourinho de pernas curtas, mas leva a bola costurada no pé e tem olhos em todo o corpo. Seus malabarismos inflamam o campo. Ele pode resolver uma partida disparando um tiro fulminante de costas para o gol ou servindo um passe impossível, de longe, quando está cercado por milhares de pernas inimigas, e não há quem o pare quando se lança a driblar adversários.”

Obrigado por ter compartilhado seu talento futebolístico com o mundo, Don Diego. Descanse em paz.

 Diego Armando Maradona

(30 de outubro de 1960 – 25 de novembro de 2020)

segunda-feira, 23 de novembro de 2020

Kombate Nostálgico


Quando eu era apenas um Toquinho, ainda na segunda metade dos anos 1990, era comum meus pais fazerem reuniões com o grupo da igreja que eles costumavam frequentar. Nesses eventos, eu geralmente ficava me divertindo com outras crianças, sem que os adultos atrapalhassem. Um desses encontros foi particularmente marcante, tendo colocado eu e meus amiguinhos diante de um Super Nintendo e de um jogo de luta. Estava feita a diversão dos pequenos ali presentes.

Porém, pra alguém que estava mais acostumado com Street Fighter, o jogo em questão se mostrou diferente. Era um pouco mais violento. Pude perceber isso principalmente no momento em que um ninja verde tirou sua máscara e revelou ser uma espécie de lagarto, esticando sua língua até prendê-la envolta da cabeça do adversário. Quando a língua voltou para a boca do ninja, a cabeça veio junto, servindo de refeição para o lutador. "Fatality", disse o locutor.


Não cheguei a perceber na hora, mas foi naquele momento que meu fascínio por Mortal Kombat teve início.

Desde então, a franquia criada por Ed Boon e John Tobias é presença frequente na vida da pessoa que vos fala, seja através dos jogos ou dos filmes e séries de TV que foram produzidas. Apenas minha irmã deve saber quantas horas de vida já gastei com Mortal Kombat, até porque eu sou culpado por ela também ter dedicado sua parcela de tempo para isso (Mortal Kombat 4 marcou bastante nossas diversões). No entanto, apesar dos esforços para ficar atualizado com a franquia ao longo dos anos, até pouco tempo atrás eu infelizmente ainda não havia jogado seus exemplares mais recentes, muito por conta de minha vida de gamer ter parado na década passada. Mas por influência de amigos e também por estarmos em meio a uma pandemia que às vezes nos deixa sem muitas opções de diversão, voltei a jogar algumas coisas no computador, adquirindo recentemente Mortal Kombat X, penúltimo jogo da série e que foi lançado em 2015 (eu sei, a franquia já lançou Mortal Kombat 11 no ano passado e estou chegando bem atrasado na festa, mas por ora é o que temos disponível).


E acho que o tempo fez bem a franquia. O último Mortal Kombat que eu havia jogado foi Armageddon, lançado há 14 anos. Imaginem, portanto, o meu choque ao começar a jogar Mortal Kombat X e ver como a série evoluiu não só em termos de gráficos (o que já seria esperado), mas também nos diversos modos de jogo. É bacana, por exemplo, acompanhar a história contada aqui, ao passo que as lutas em si parecem mais ágeis comparadas com o que eu lembrava de jogos anteriores. Ficar empolgado com os combates e com a criatividade dos golpes desferidos por cada lutador torna-se algo até natural em meio a isso. E é quase impossível não ficar feliz com as participações especiais de Predador, Jason Vorhees, Alien e Leatherface, personagens famosos por derramarem sangue em suas respectivas obras cinematográficas e que aqui tornam-se lutadores dignos de Mortal Kombat.


Mas mais do que ser um ótimo jogo de luta de uma série que adoro, Mortal Kombat X me conquistou também pela nostalgia que tem me proporcionado. Ao entrar naquele universo repleto de peculiaridades, escolher um personagem (geralmente Sub-Zero) e encher os outros de porrada, acabo lembrando do Toquinho que tanto se divertiu com os primeiros exemplares da série. Uma época gostosa na qual as grandes dificuldades enfrentadas se resumiam a fazer os deveres de casa antes de trilhar o caminho para a diversão.

Espero não demorar muito para conseguir jogar Mortal Kombat 11, mas até isso acontecer acho que Mortal Kombat X irá me deixar bem satisfeito.

sexta-feira, 20 de novembro de 2020

Racismo no Brasil existe sim

Arte de Carlos Latuff

“Não existe racismo no Brasil”, disse Hamilton Mourão, vice-presidente do Brasil.

“Não existe racismo no Brasil”, disse o vice-presidente do país onde os negros são 75% das pessoas mortas pela polícia.

“Não existe racismo no Brasil”, disse o vice-presidente do país em que mulheres negras representam 61% das vítimas de feminicídio.

“Não existe racismo no Brasil”, disse o vice-presidente do país onde o homem negro tem um risco 74% maior de ser assassinado, enquanto a mulher negra tem o risco de 64,4%.

“Não existe racismo no Brasil”, disse o vice-presidente do país onde negros formam 66% da população carcerária.

“Não existe racismo no Brasil”, disse o vice-presidente do país onde 71% das pessoas que ficaram sem emprego no segundo semestre de 2020 são negras.

Racismo no Brasil existe sim e não é apenas uma prática preconceituosa. É um sistema. Um sistema que trabalha para privilegiar a cor da pele de uns e menosprezar/aniquilar a de outros. Quem nega a existência disso só ajuda a fazer com que esse sistema (e dados como os citados) se perpetuem.

“Não existe racismo no Brasil”. Eu não tenho como falar pelos outros, mas tenho a impressão de que pessoas como João Alberto Silveira FreitasLuana Barbosa dos Reis, Rodrigo Alexandre da Silva Serrano, Rogério Ferreira da Silva Júnior, Ana Lúcia Martins e Nataly Ventura da Silva discordariam dessa afirmação.

sábado, 14 de novembro de 2020

Power Up: Obrigado, AC/DC!

Tem mais ou menos uns dez anos que, se alguém me pergunta qual é a minha banda favorita, eu respondo "AC/DC" sem precisar pensar muito. A apreciação que tenho por esse grupo australiano não é resultado apenas do excelente som que eles produzem com seus instrumentos, mas também por sua energia descomunal e contagiante. São detalhes que se unem em uma proposta que parece apenas querer criar uma música que empolgue e mantenha o astral do público lá em cima, algo sintetizado pela presença do guitarrista Angus Young, com sua excentricidade e seu figurino escolar característico. Esses aspectos têm se mantido firmes ao longo dos quase 50 anos de estrada da banda, que lança agora Power Up, seu mais novo álbum e que foi produzido em homenagem ao guitarrista Malcolm Young, que faleceu em 2017.

Não pretendo fazer comentários detalhistas sobre este novo trabalho dos caras, até porque não posso dizer que entendo alguma coisa de música para fazer isso com propriedade. O que quero fazer neste post (como indica o título) é apenas agradecer a AC/DC. Como já comentei em outras ocasiões, esse ano não está sendo dos mais fáceis, e haja saúde mental para lidar com dificuldades que ainda prometem tomar uma parte de 2021 (no mínimo). Sendo assim, acho que precisamos todos nos divertir um pouco, fugir brevemente da realidade fazendo algo que a torne mais leve. E AC/DC sabe divertir. Até por isso acredito que este novo disco não poderia ter vindo em uma hora melhor e também não poderia ter um título melhor (power up pode ser traduzido como "energizar").

O disco no total tem pouco menos de 40 minutos, mas cada uma de suas canções me contagiou com seu ritmo eletrizante, inevitavelmente me deixando com um sorriso no rosto enquanto eu batia o pé no chão e bangueava a cabeça com meu cabelo de quarentena. Para completar, é sempre muito bacana ver artistas que já estão na casa dos 70 anos aparentarem ter uma energia maior que a de muitos adolescentes por aí.

Por tudo isso... Muito obrigado, AC/DC!

Deixo abaixo o clipe daquela que se tornou a minha faixa favorita de Power Up.

terça-feira, 10 de novembro de 2020

O Amadorismo do Futebol Brasileiro

Há cerca de duas semanas, Internacional e Flamengo fizeram um jogo que foi considerado como a melhor partida do Campeonato Brasileiro de 2020 até agora. Teve comentarista esportivo (Paulo Vinicius Coelho) classificando a partida como a melhor do futebol mundial naquele fim de semana. Mas quis o destino que os dois clubes ficassem sem seus treinadores ao mesmo tempo. Ontem, o argentino Eduardo Coudet (ou “Chacho”, como nos acostumamos a chamá-lo) pediu para sair do Inter, ao passo que o espanhol Domènec Torrent foi demitido do Flamengo.

O 9 de novembro deveria ficar marcado como Dia Nacional do Amadorismo no Futebol. Particularmente falando, foi só isso que vi ao longo de toda essa segunda-feira. Coudet e Torrent obviamente não são à prova de críticas e cometeram seus erros. Mas mesmo assim Inter e Flamengo atualmente estão nas disputas das três principais competições da temporada, sendo líderes no Campeonato Brasileiro e estando classificados na Libertadores e na Copa do Brasil. Os treinadores se despedem deixando números positivos (o colorado com 61,5% de aproveitamento e o flamenguista com 62,3%) e até semana passada ambos sustentavam algumas boas rodadas invictos no Brasileirão. Como dois clubes que estão em ordem em termos de resultados conseguem ficar sem seus treinadores?

Claro que nada acontece de uma hora para outra. Na opinião deste mero torcedor que vos fala, essa segunda-feira serviu apenas para mostrar mais uma vez como os dirigentes brasileiros são despreparados. Não há convicção em suas escolhas. Não há ambição de projeto a longo prazo. Existe apenas a preocupação com resultados do momento e com o próprio ego/poder. No caso de Coudet, houve tensão nos bastidores, com os conflitos entre treinador e diretoria criando um ambiente cada vez mais inóspito para o argentino. Mesmo com seus erros e teimosias, me tornei um admirador do trabalho de Coudet, que fazia o melhor que podia com o grupo de jogadores que tinha em mãos. Nem sempre era agradável de ver, mas os resultados no geral são ótimos. E fico indignado que figuras como o presidente Marcelo Medeiros e o diretor Rodrigo Caetano tenham contribuído para que as coisas ficassem tão insustentáveis a ponto de o treinador pedir demissão.

Já Domènec Torrent é um caso diferente. O espanhol chegou ao Brasil no meio do ano e, apesar de ter perdido alguns jogos sofrendo goleadas acachapantes, me parece que foi demitido mais por não ter exibido a regularidade que o Flamengo tinha com o técnico anterior, Jorge Jesus. Uma vítima da expectativa criada pelo clube, que parece ter contratado o técnico mais pela grife europeia do que propriamente por seu currículo. Mas foram pouco mais de três meses de trabalho. Será que este tempo foi suficiente para o treinador se adaptar e formar um time competitivo com suas ideias? Ainda assim volto a dizer que os resultados não são ruins, apesar dos pesares.

Não há como dizer que o futebol brasileiro vai bem quando vemos a tabela da Série A do Brasileirão e, dos vinte clubes ali presentes, apenas três mantêm hoje o mesmo treinador com o qual iniciaram o ano: o Grêmio com Renato Portaluppi (no clube desde 2016), o Fluminense com Odair Hellman e o São Paulo com Fernando Diniz. Claro que nem sempre são os dirigentes os culpados, já que temos técnicos por aí que, mesmo fazendo bons trabalhos em um bom ambiente e com respaldo da diretoria, não hesitam em deixar suas equipes ao receberem propostas de times considerados maiores (Vagner Mancini e Rogério Ceni são exemplos recentes disso). Mas certamente isso mostra a total falta de planejamento, de ideias claras e até mesmo de competência entre os profissionais do futebol nacional. Infelizmente, o nosso futebol hoje tem figuras limitadas movimentando sua engrenagem.

segunda-feira, 2 de novembro de 2020

A Dança Pela Liderança

O primeiro turno do Campeonato Brasileiro 2020 chegou ao fim. Ou pelo menos quase isso, já que alguns clubes ainda têm partidas atrasadas para disputar. De qualquer forma, deixo aqui um pequeno conto que escrevi sobre a corrida pela liderança na 19ª rodada do campeonato.

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Imaginem que a Série A do Brasileirão é uma grande pista de dança.

20 times são representados por seus mascotes em uma bela disputa pra ver quem dança melhor ao longo de 38 rodadas. O meio da pista é reservado para quem está se destacando mais e mostrando mais estilo dentro de suas competências, liderando nas pontuações da competição. Ali, o Saci (Internacional), o Urubu (Flamengo) e o Galo (Atlético-MG) estão mostrando um gingado interessante ao som de Bee Gees, chamando atenção enquanto tentam (apenas “tentam” mesmo) imitar os passos de John Travolta em Os Embalos de Sábado à Noite.

Chegando a 19ª rodada da disputa, o Saci olha um pouco cansado para o Urubu.

“Colega, pode ficar com a liderança” – diz o Saci – “preciso dar uma ajuda pro Gavião Mosqueteiro (Corinthians) que está quase fora da pista”. (Corinthians 1 x 0 Internacional)

O Urubu fica surpreso com a atitude do Saci, sentindo-se por um lado lisonjeado por poder ficar com a liderança, mas também compadecido diante da bondade mostrada pelo adversário. O Urubu sorri para o Saci.

“Ora, não se preocupe, meu caro. Pode ir ajudar o Mosqueteiro, mas insisto que fique com a liderança”, diz o Urubu. (Flamengo 1 x 4 São Paulo)

O Saci não acredita no que acaba de ouvir. Será possível tamanha integridade por parte de seu rival?

“Mas isso não é justo com você” – insiste o Saci – “Você está dançando tão bem. Não pode desperdiçar uma chance de liderar sozinho a competição”.

Nesse momento, ambos olham para o Galo que dança sorridente ao seu lado. A dupla mantém o ritmo da dança enquanto se aproxima de seu companheiro. O Urubu puxa assunto.

“Galo, eu e o Saci estávamos aqui pensando. Você não está a fim de...”

“NÃO!” – interrompe o Galo – “Não vou pegar essa liderança. Eu não me sentiria bem assumindo uma posição que vocês merecem tanto quanto eu”. (Palmeiras 3 x 0 Atlético-MG)

As três figuras começam a discutir amigavelmente enquanto dançam no meio da pista. Próximos dali, Guerreirinho (Fluminense), Peixe (Santos) e Santo Paulo (São Paulo) assistem a cena, mas sem deixar de tentar aprimorar suas coreografias, o que ocorre aos trancos e barrancos. (Fortaleza 0 x 1 Fluminense; Santos 3 x 1 Bahia)

“Será que avisamos que eles estão dando espaço para nós no meio da pista?”, pergunta Guerreirinho, deixando Santo Paulo e Peixe pensativos.

“Não” – responde o Santo – “Vamos deixar eles se enrolarem sozinhos”.