Houve um momento em que olhei para o meu pai e disse a ele que eu seria gremista.
O
ano era 2002. Nós morávamos em Bento Gonçalves, o Brasil havia acabado de
conquistar o pentacampeonato mundial e o Inter lutava para escapar do
rebaixamento no Campeonato Brasileiro, enquanto que o Grêmio
vivia seus bons dias sob o comando de Tite (naquele ano, foram semifinalistas
tanto no Brasileirão quanto na Libertadores). Neste contexto, no
qual eu mal acompanhava futebol, alguns amigos da escola diziam que o Grêmio
era melhor e que o Inter era horrível, o que admito ter feito um pouco a
minha cabeça. Porém, quando falei ao meu pai que eu iria ser gremista ele logo
me cortou. Mas não me importei nenhum pouco de continuar sendo colorado, até
porque eu já estava mais do que acostumado a me identificar dessa forma.
Depois
que voltamos a morar em Porto Alegre, algo que ocorreu no final daquele ano, surgiu
a ideia de ir ao Beira-Rio assistir a um jogo, até porque eu havia começado
a gostar muito de futebol (coloco a culpa disso nas famosas pedaladas de
Robinho). Não lembro se a ideia partiu de mim ou de meu pai, mas ela certamente
serviria para fincar meus pés no lado vermelho da Força. Tentando fazer a ideia
sair do papel, sugeri que fossemos a um Gre-Nal, mas meu pai colocou uma
condição superprotetora: a gente deveria ir num jogo que não envolvesse
rivalidade. Ele achava que jogos assim tinham mais chances de rolar violência
entre torcidas e não queria me ver nesse tipo de situação. Convenhamos, a preocupação
dele não era descabida (mesmo hoje ela não seria).
Com
isso em mente, eu vi passar na televisão o comercial do jogo do Inter
contra o Remo (do Pará), que se enfrentariam pela segunda fase da Copa
do Brasil de 2003. Seria o jogo da volta na disputa entre os dois clubes, com
o Inter precisando reverter uma vantagem do Remo, que havia
vencido o jogo de ida em Belém por 1x0. Se não me engano vi o comercial em um
domingo e o jogo seria na quarta-feira à noite. Olhei para o meu pai e ele
topou quase imediatamente.
Quando
chegou o dia, lamentei não ter uma camisa do time para poder ir ao estádio. Mas
coloquei uma camiseta preta comum e, junto com meu pai, saí de casa rumo ao Gigante
da Beira-Rio (aliás, nessa época eu já gostava demais de poder chamar o estádio
de Gigante). Chegamos lá depois de dois ônibus e uma breve caminhada,
sendo que esta última parte do trajeto já fez eu ir curtindo aquele ambiente do
jogo, vendo várias e várias pessoas de vermelho e branco indo para o mesmo
lugar que eu e com o mesmo propósito. Na bilheteria meu pai comprou seu
ingresso, momento no qual pude apreciar um pouco a vantagem de ser criança: eu
entrava de graça.
Com ingresso da arquibancada inferior comprado, finalmente entramos no estádio. Foi então que, após a bela expectativa criada pela escada que dá acesso a arquibancada, me vi diante do campo e de toda a torcida, uma imagem que me encantou bastante. Até hoje, subir as escadas e dar de cara com isso é o meu momento favorito de ir ao Beira-Rio. Eu e meu pai nos ajeitamos no concreto da arquibancada enquanto mais torcedores chegavam e preenchiam os espaços do estádio. Nesse meio tempo, estava rolando um jogo no campo. Se bem entendi, o Inter permitia que torcedores marcassem uma partida amistosa antes do evento principal, algo que não se vê mais hoje em dia. E era divertido ver “pessoas comuns” se aventurando naquele gramado.
Terminado
isso veio a hora do jogo e aos poucos me vi aprendendo a torcer. Sem nunca ter
estado naquele ambiente, eu praticamente fui apenas imitando as coisas que eu
via ao meu redor. Sendo assim, quando as escalações apareceram, aplaudi cada
nome colorado que foi anunciado nos autofalantes do estádio e vaiei (timidamente)
os nomes do time adversário. Durante a partida, me mantinha sentado durante
lances desinteressantes, mas vi que podia me levantar quando havia uma chance
de gol. Quando Daniel Carvalho pegava na bola e partia para o ataque, eu falava
“Vai, Daniel! Vai, Daniel!” da mesma forma que um torcedor que estava próximo de
mim falava, até porque Daniel Carvalho era o único jogador do Inter que
eu sabia dizer quem era naquele momento. E pontualmente eu olhava para trás, já
que acabei ficando preocupado após meu pai falar que torcedores têm o hábito de
jogar copos de xixi nas pessoas que se encontram em pé mais à frente (até hoje
nunca vi isso acontecer, mas era bom se precaver).
Já a partida em si eu lembro de ter gostado. Não foi um jogo chato de
assistir, já que valia uma classificação para a fase seguinte da competição. Aos
27 minutos do primeiro tempo, o atacante André abriu o placar para o Inter.
Mas aos 3 minutos do segundo tempo, Ivan empatou para o Remo,
complicando mais a vida colorada. Ficamos na frente do placar novamente quando o
zagueiro Sangaletti ganhou uma disputa com os defensores adversários, aos 19
minutos. Depois disso, vimos todas as grandes chances que criávamos pararem nas
mãos do goleiro Ivair, que virou um paredão embaixo das traves (ao longo dos
anos pude notar que isso acontece bastante com goleiros adversários no Beira-Rio).
O jogo acabou 2x1. No placar agregado, 2x2, mas o gol feito fora de casa deu a
classificação ao Remo.