Quando criei esta Caixa de Sucata, o objetivo era ter um lugar em que eu pudesse escrever sobre qualquer coisa, sendo que uma das principais ideias era poder comentar alguns dos livros que leio. Com exceção de algumas histórias em quadrinhos, porém, isso foi algo que infelizmente não cheguei a fazer em momento algum desde que lancei este espaço no ano passado. O principal motivo para isso é a dificuldade que tenho tido de simplesmente focar, algo que nesses tempos de pandemia tem sido um grande problema (isso quando minha vontade não me direciona para outras atividades de lazer).
Mas mesmo com essa dificuldade,
fiquei com vontade de escrever um pouco sobre alguns livros que gosto. Mais
especificamente livros de thrillers policiais, gênero pelo qual tenho total
adoração e que é o meu favorito. O que vocês lerão a seguir não se trata de uma
lista de melhores obras do gênero, até porque ainda tenho muitos clássicos para
ler antes de pensar em fazer uma lista desse tipo. Mas são livros que me
empolgaram com as habilidades de seus escritores para criar tramas intrigantes.
O Assassinato de Roger Ackroyd, de Agatha Christie:
Agatha Christie é a minha escritora
favorita. E O Assassinato de Roger Ackroyd é, por sua vez, meu livro
favorito dentre os que foram escritos por ela. Aqui a escritora britânica
constrói com elegância uma investigação envolvente, além de trazer aquela que
na minha humilde opinião é sua melhor reviravolta. Narrado todo em primeira
pessoa, o livro traz o grande Hercule Poirot saindo da aposentadoria a fim de
investigar o assassinato de seu amigo Roger Ackroyd, tendo para isso o auxílio
do Dr. James Sheppard, o narrador da história. E é melhor nem dar mais detalhes,
já que uma das coisas mais divertidas dos livros de Agatha Christie é
exatamente ver Poirot e outros personagens seguindo pistas, questionando tudo e
todos, se deparando com grandes revelações e chegando finalmente a grande
conclusão.
Segundo livro que Thomas Harris
escreveu usando o canibal Hannibal Lecter como personagem central, O
Silêncio dos Inocentes talvez seja mais conhecido pela adaptação
cinematográfica lançada em 1991 (uma verdadeira obra-prima e que venceu cinco
Oscars, incluindo Melhor Filme). Mas é bom lembrar que o livro original em si
também é uma narrativa policial da mais excelente qualidade, colocando o leitor
junto da jovem agente Clarice Starling, que recebe a tarefa de contatar
Hannibal Lecter na prisão para que ele auxilie o FBI a capturar o serial killer
Buffalo Bill. Thomas Harris concebe não só uma trama policial difícil de
largar, mas também personagens absolutamente fantásticos, com os momentos de interrogatório
entre Starling e Lecter parecendo um jogo de xadrez psicológico.
Apelo às Trevas, de Dennis Lehane:
Se Agatha Christie é minha
escritora predileta, Dennis Lehane vem logo atrás. Nativo da cidade de Boston,
onde situa quase todas suas histórias, o escritor é mais conhecido por Sobre
Meninos e Lobos, Ilha do Medo (ambos renderam filmes brilhantes
pelas mãos de Clint Eastwood e Martin Scorsese) e a série de livros protagonizada
pelos detetives particulares Patrick Kenzie e Angela Gennaro, da qual este Apelo
às Trevas faz parte. Aqui, Kenzie e Gennaro são contratados por uma psiquiatra
para proteger ela e seu filho, além de tentar descobrir por que e por quem eles
estão sendo ameaçados. E aos poucos nos vemos envolvidos numa história muito
maior que o imaginado inicialmente, com Patrick e Angela se deparando com um
mundo que impressiona por sua sujeira, imoralidade e brutalidade, algo que
Lehane sintetiza muito bem na figura do vilão. Dito isso, posso até estar
colocando apenas Apelo às Trevas nessa pequena lista, mas recomendo
muito a série Kenzie/Gennaro como um todo.
Bom Dia, Verônica, de Raphael Montes e Ilana Casoy:
Bom Dia, Verônica foi
lançado em 2016 como o primeiro livro da escritora Andrea Killmore. Na época já
era sabido que se tratava de um pseudônimo, mas apenas em 2019 foi revelado que
Raphael Montes e Ilana Casoy eram os responsáveis pelo livro. E que livro! A
história é centrada na escrivã Verônica Torres, que resolve provar seu valor
como investigadora ao encarar sozinha dois casos envolvendo violência contra
mulheres e que estavam sendo deixados de lado na delegacia onde trabalha em São
Paulo, casos estes que são capazes de revoltar e chocar em medidas iguais.
Partindo disso, a obra de Montes e Casoy guia o leitor por uma narrativa muito bem
amarrada, com Verônica se mostrando uma protagonista interessantíssima, não só por
sua visão de mundo e sede de justiça, mas também porque sua falta de
experiência como investigadora a deixa mais propensa a cometer equívocos, que
por sua vez a tornam mais humana. Recentemente o livro foi adaptado pela dupla
de autores como uma série na Netflix, e vale dizer que a produção faz jus ao
ótimo material original.