segunda-feira, 26 de dezembro de 2022

Minha experiência com Doom

Um longo caminho capaz de gerar até certo receio de seguir adiante em determinados momentos, mas cujos obstáculos e demônios nós ainda assim enfrentamos. E caso a gente venha a falhar (e somos capazes de falhar várias e várias vezes), podemos tentar novamente ao ganharmos uma nova chance, buscando assim superar os demônios que encontramos.

Eu poderia estar falando da vida, mas estou apenas falando da minha experiência de jogar algo como Doom (de 2016). Sim, acabei de fazer uma analogia comparando a vida a um jogo de tiro em primeira pessoa no qual precisamos enfrentar demônios que estão invadindo a Terra. Aposto que ninguém esperava por isso. Mas entre analogias e tensões, jogar Doom foi uma das experiencias mais... Recompensadoras que pude ter em 2022.

Mas antes de eu me debruçar mais no porquê de eu estar escrevendo sobre isso, quero trazer um pouco de contexto. Quando eu era criança, meu pai encontrava jogos para o computador, e alguns deles eram jogos de tiro em primeira pessoa com um nível de violência relativamente elevado. Três desses jogos acabaram se tornando particularmente marcantes: Duke Nukem 3D (lançado em 1996), Quake (também de 1996) e Doom (de 1993). Por algum motivo que não sei explicar, este último era o que mais me agradava, de forma que lembro de dedicar muitas e muitas horas atirando nas criaturas demoníacas que surgiam em cada fase, mesmo que eu tivesse um pouco de medo e não entendesse nada sobre o que o jogo se tratava.

Corta para 2022 e me vi com vontade de voltar ao universo de Doom após mais de 20 anos sem saber nada sobre a franquia, partindo logo para os jogos mais recentes: o reboot Doom e Doom Eternal (de 2020). Mas meu retorno a esses jogos não foi sem o já citado medo que eu costumava ter, tanto que quando iniciei a primeira fase de Doom numa madrugada de um dia qualquer, eu precisei parar no meio do caminho e sair do jogo, tamanho era o meu estresse a casa passo que eu dava pelo ambiente hostil daquele universo.


Mas, curiosamente, na manhã seguinte acordei determinado a fazer todos os demônios pagarem por terem se metido comigo. Isso fez eu concluir que o terror que eu senti vinha da imagem que eu havia estabelecido quando criança para a série Doom ao invés de vir do jogo em si, que até tem sim um bom nível de tensão e causa sustos quando estamos desatentos, mas está muito longe de ser uma experiência que cause altos arrepios. Na verdade, Doom busca fazer o contrário disso. Não à toa o jogo nos coloca na pele de um personagem que podemos classificar apenas como “fodão”. Tendo as mais diversas armas, uma armadura poderosa e uma vontade inabalável de trucidar demônios, o indivíduo conhecido como Doom Slayer (ou Doom Guy) é uma força difícil de ser parada, fazendo a pessoa que o controla se sentir capaz de qualquer coisa naquele universo.

Esse é o único papel do personagem, que é uma figura temida pelos demônios, mas não ganha muito desenvolvimento para além disso, reforçando a ideia de que ele é o nosso avatar ali dentro. E creio que o fato de o jogador ter um alter ego tão simples, porém tão foda (na falta de outra palavra) sintetiza bem a experiência de jogar Doom. É um jogo que não traz grandes histórias ou grandes objetivos ao longo das fases, mas ainda assim cria um caos divertidíssimo enquanto corremos e matamos instintivamente as criaturas que nos atacam. Todo esse conceito simples é expandido em Doom Eternal, que assim consegue ser uma continuação ainda mais empolgante e insana.


Mas o que me pegou meio de surpresa ao jogar essas maluquices foi ver a diversão desses jogos se misturar com a nostalgia de voltar ao universo de Doom depois de tanto tempo. Acho que foi essa mistura que fez eu me converter oficialmente em fã incondicional dessa série, a ponto de agora eu poder dizer que tenho uma estátua em miniatura do Doom Slayer no meu quarto. Creio que assim os demônios vão pensar duas vezes antes de virem me infernizar.

domingo, 18 de dezembro de 2022

Que final foi essa???


Pouco depois da metade do segundo tempo de Argentina x França, final da Copa do Mundo de 2022, eu comecei a fazer pequenas anotações de coisas que eu poderia utilizar nesse texto. Coisas que poderiam descrever e justificar o que, até aquele momento, era uma vitória tranquila e mais do que merecida da Argentina.

E então chegamos aos 80 minutos de partida (ou 35 minutos do segundo tempo) e precisei jogar fora todas as anotações.

O que ocorreu no Catar foi um jogo que podemos classificar com uma série de adjetivos grandiosos que temos no dicionário.

Épico? Sim.

Catártico? Sim.

Insano? Sim.

Histórico? Não tenham dúvidas de que sim.

As seleções de Argentina e França fizeram algo que não se vê todo dia: transformaram a final da Copa não só no melhor jogo do campeonato (como deve ser), mas também em um jogo que provavelmente será lembrado por muitos e muitos anos pelos admiradores do futebol.


Um jogo que desafiou emoções e até a lógica. Durante 79 minutos, a Argentina mostrava uma vontade digna de campeões e uma organização impressionante, sendo que até o acaso parecia estar jogando ao lado de Lionel Messi e companhia, com tudo dando certo. Quando um jogador argentino chutava a bola para longe de sua área, ela fazia o capricho de desviar em um francês no meio do caminho e sair pela lateral do outro lado do campo. Quando a Argentina estava em plena velocidade no ataque e arriscava um passe, a bola passava sabe-se lá como entre as pernas de um francês. Assim, os argentinos pareciam que iriam levar a taça com serenidade, tendo construído uma vantagem de 2x0 ainda no primeiro tempo (gols de Messi e Di Maria) que os fazia desafiar até mesmo declarações como a do craque francês Kylian Mbappé, que há alguns meses disse que o futebol sul-americano não estava no mesmo alto nível do futebol europeu.

Mas quando chegamos aos 80 minutos de jogo, foi como se os deuses do futebol resolvessem mostrar que existem e tivessem decidido virar a chavezinha que controla a partida. Aos 80 minutos, pênalti para a França e 2x1. Aos 81, 2x2. Os dois momentos protagonizados exatamente por Mbappé, que assim fez a final virar uma apoteose ímpar. E então tudo começou a dar certo para a França. Toda bola rebatida encontrava um pé francês para dominá-la. Se durante a maior parte do tempo os franceses pareciam estar dormindo, nessa hora eles já estavam mais do que acordados. Estavam ligados no 220v, surpreendendo ao ficar mais perto de uma virada do que de uma derrota, o que seria um golpe profundamente duro nos argentinos que tanto dominaram a partida. A essa altura do jogo, mesmo quem não torcia para nenhum dos times era capaz de estar de olhos arregalados.

Os franceses, porém, não souberam aproveitar esse momento de superioridade física e psicológica para matar o jogo, até porque a defesa argentina não permitiu mesmo com o time claramente exaurido em campo. Talvez por isso, durante a prorrogação, os deuses do futebol tenham decidido virar a chavezinha novamente, e Messi aos trancos e barrancos fez 3x2.

Estaria agora a vitória assegurada? A resposta é... Não, já que futebol é um esporte em que mínimos detalhes importam. E mesmo quando você está seguro em campo, administrando bem o jogo e chutando a bola para a torcida para que não aconteça mais nada, um braço estendido do seu jogador dentro da sua área pode colocar tudo a perder. Chavezinha virada novamente, mais um pênalti para a França e 3x3, com Mbappé fazendo um hat-trick e se consolidando como artilheiro da Copa. E o atacante Kolo Muani ainda poderia ter evitado a disputa de pênaltis e dado a vitória aos “Les Bleus”... Isso se não houvesse um gigante chamado Emiliano Martínez preparado para fazer no último minuto o que podemos chamar de “A Defesa da Copa”. E acho que nesse momento, os deuses viraram novamente a chavezinha a favor dos argentinos.


Na loteria dos pênaltis, há dois pontos de vista: ou a França deu o azar de não poder colocar Mbappé em todas as cobranças, ou a Argentina que teve a sorte de contar com Martínez no gol, além de ter tido a competência para converter seus pênaltis. 4x2 e tricampeonato mundial finalmente assegurado. Um título merecido e que não coroa apenas o futebol argentino depois de 36 anos de insucessos em mundiais. Coroa também a genialidade de Lionel Messi.

Já fazem quase 20 anos que Messi encanta o mundo inteiro com seu futebol, seja com um passe, com um gol ou com uma jogada isolada em um canto do campo, fazendo coisas difíceis parecerem simples. Por óbvio, nem sempre o objetivo de levar sua equipe ao gol e, consequentemente, a vitória se cumpriu, principalmente se formos pensar nos últimos anos ou na maior parte de sua carreira na seleção argentina. Mas ele alcançou feitos incríveis, conquistou vários grandes títulos no Barcelona e se estabeleceu como um os melhores jogadores que já pisaram em um campo de futebol (para muitos, ele é o melhor e creio que há vários argumentos para sustentar tal afirmação). Ele conseguiu isso tudo sem ter uma Copa do Mundo, de forma que não ganhar esse campeonato provavelmente não mudaria seu status icônico, com o fracasso sendo uma mera nota de rodapé em sua história. Mas agora, aos 35 anos e se aproximando do fim da carreira, ele conseguiu ao lado de seus companheiros uma Copa para chamar de sua. Uma Copa na qual ele foi eleito o craque com toda justiça. Uma Copa na qual ele marcou gols decisivos em todos os jogos de mata-mata. Uma Copa na qual ele chamou a responsabilidade para si quando o time precisou. Uma Copa que, enfim, acaba com hipotéticas notas de rodapé e traz qualquer que fosse o brilho que faltava para um dos maiores nomes do esporte.

Parabéns, Messi. Parabéns, hermanos. Aproveitem a festa.