quinta-feira, 31 de dezembro de 2020

2020: O Ano Que Inexistiu

"Há um ano recebíamos o convite

O convite para 2020

Mas um ano após ter aceitado tal convite

Creio que qualquer um admite

Que imaginava qualquer coisa para 2020

Menos que ele fosse ser um inferno sem limites"

Eu pensei em falar de 2020 através de um poema, mas meu estoque de criatividade não é grande a esse ponto. Os versos acima foram os únicos que consegui bolar. Gostaria de poder chegar aqui hoje e dizer que esse foi um ótimo ano, repleto de realizações e de experiências ricas, mas isso seria papo furado. Afinal, ao menos pra quem vive no mundo real, não foi possível viver 2020. Ao invés disso, foi necessário ficar trancado dentro de casa pela maior parte do tempo e mantendo contato à distância com familiares e amigos. Essencialmente, 2020 acabou em março.

Desde então o tempo parece brincar com nossas percepções (janeiro e fevereiro parecem ter acontecido há anos) enquanto que todo dia se mostrou um novo dia para ficar indignado e triste com notícias na TV ou na internet.

Mas por mais que eu fique reclamando de 2020, é claro que ele não teve culpa de nada disso. As pessoas é que vão formando a maneira como um ano será lembrado. 2020 apenas deu azar que muitas pessoas parecem ter decidido de vez por se deixarem levar pela falta de noção, pela ignorância e pelo ódio. E quando isso não nos indignava, havia outras coisas para nos abater (a morte do lendário Ennio Morricone, particularmente, foi um grande soco no estômago).

Mas mesmo diante de um ano caótico em que não foi possível fazer muitas coisas, eu ainda sinto que preciso agradecer. No caso, agradecer as pessoas que tenho ao meu redor, sejam elas família ou amigos, já que foram elas (e meu antidepressivo) que ajudaram a fazer com que os eventos de 2020 fossem suportáveis. A família pode sim dar uma boa dose de dor de cabeça, mas são pessoas que me dão uma base primordial, ao passo que os amigos não só estiveram sempre presentes através do famoso "zapzap", mas também conseguiram fazer com que eu me acostumasse e gostasse das tais chamadas de vídeo (até então, eu as odiava pelo simples fato de não curtir ver a minha cara no canto da tela).

Com exceção de alguns momentos prazerosos, como a vitória de Parasita no Oscar e a derrota de Donald Trump nas eleições dos Estados Unidos, 2020 infelizmente será lembrado por mim quase como um vazio. O começo de 2021 não parece ser tão promissor, mas deixo aqui a torcida para que possamos formar um ano mais digno.

Desejo a todos um Feliz Ano Novo!

quinta-feira, 17 de dezembro de 2020

Onde eu estava quando o Inter conquistou o mundo?

Desde 2006, a pergunta que intitula este post talvez seja feita por todos (ou quase todos) os colorados a cada 17 de dezembro riscado no calendário anualmente. Ver seu time se sagrar Campeão do Mundo não é algo que acontece todo dia, e o Internacional alcançou isso há exatos 14 anos, em uma data cuja aura é atipicamente deliciosa. Em um dia como aquele, acho que os sentidos dos colorados se tornaram verdadeiras câmeras, buscando gravar o máximo possível de cada segundo daquelas 24 horas. Assim elas se tornariam inesquecíveis e poderíamos tentar revivê-las através das memórias.

Onde eu estava na manhã em que o Inter conquistou o mundo? Bem, eu estava sozinho em casa. Sim, sozinho. Minha irmã havia se inscrito em um concurso público para tentar uma vaga de professora na rede municipal de Sapucaia do Sul, e a organização achou uma boa ideia marcar a prova exatamente para aquela manhã. Meus pais pegaram o carro que tínhamos na época e levaram minha irmã até o local da prova (a ULBRA, exatamente a universidade na qual eu me formaria quase uma década depois), ficando em um pequeno bar enquanto esperavam por ela, algo que durou a manhã inteira. Sendo assim, fiquei sozinho em casa, tendo que compartilhar meu nervosismo apenas com nossa cachorrinha, Duda, que tenho quase certeza que não fazia ideia do que estava acontecendo.


E haja nervosismo. Sendo honesto, eu não via muita chance de o Inter conquistar aquele campeonato, considerando o time que o Barcelona tinha. Eles podiam não contar com Samuel Eto'o e um tal de Leonel Messi, ambos lesionados, mas nomes como Victor Valdés, Carles Puyol, Rafa Márquez, Andrés Iniesta, Xavi Hernández, Deco e Ronaldinho já eram muito mais que o suficiente para que um menino de 14 anos sentisse medo por quem os enfrentasse. Com isso, cada jogada de ataque do Barcelona resultava em uma unha a menos nos meus dedos. Cada boa chance desperdiçada pelo Inter resultava em alguns fios de cabelo arrancados, já que não havia como saber se apareceriam outras oportunidades. E foi assim durante quase o jogo inteiro.

Aos 30 minutos do segundo tempo, quando o ídolo Fernandão sentiu a panturrilha e foi substituído por Adriano Gabiru, a esperança (quase inexistente) de que aquele jogo terminaria de forma positiva para o Inter diminuiu ainda mais. Afinal, saía uma das grandes referências do time e entrava um dos jogadores mais contestados daquela temporada. Via-se ali um exemplo de como a vida não funciona da maneira como gostaríamos ou esperamos, o que tornou ainda mais surpreendente o fato de que, cinco minutos depois de colocar o pé em campo, Adriano colocou a bola na rede de Victor Valdés e correu pro abraço. Mas mesmo ali a incredulidade gritava na cabeça deste que vos fala, fazendo eu pensar imediatamente que nosso camisa 16 estava impedido na hora do passe de Iarley. Na minha cabeça, simplesmente não era concebível o que estava acontecendo. Seria uma falha na Matrix? O trio de arbitragem do jogo prestou atenção no lance? O gol realmente valeu?

Foram necessários o reinício do jogo e o 1x0 marcado no placar da Globo para que eu finalmente começasse a pular de felicidade em frente à televisão. Mas o nervosismo não demorou a voltar a tomar conta de minhas entranhas, já que Deco deu uma resposta imediata após o Barcelona sofrer o gol, metendo uma patada no ângulo direito e que Clemer espalmou em uma das defesas mais lindas que já tive a oportunidade de ver. E pouco depois disso Ronaldinho ainda cobrou para fora uma falta frontal que quase tirou tinta da trave. Dias depois, minha saudosa avó Aracy contou que nesse momento ela havia pego um de seus bonecos de artesanato e dado um nó em suas pernas (se foi isso que fez Ronaldinho errar aquela cobrança, aí é algo que deixo para vocês decidirem).


Após a conquista, meus pais e minha irmã chegaram em casa e pude, finalmente, compartilhar a alegria com outros seres humanos. Isso na verdade parece ter sido a grande tarefa do dia, considerando que eu e meu pai ainda decidimos caminhar pela vizinhança devidamente fardados com nossas camisetas do Inter, conversando com um ou outro colorado que surgia na rua. Em casa, a televisão ficou sintonizada quase exclusivamente na extinta emissora gaúcha TVCOM, que reprisou várias vezes o jogo ao longo do dia.

E foi bom ver estas reprises sabendo o resultado final. Nelas pude ver que o nervosismo e o pessimismo podiam ter me dominado durante o jogo, mas não dominaram o meu time. O Barcelona até poderia ter alguns dos melhores jogadores do mundo, mas o Inter tinha uma estratégia e a executou com a confiança de quem sabe que a lógica não entra em campo no futebol. Abel Braga e seus comandados jogaram, enfim, como verdadeiros Gigantes da Beira-Rio. E espero nunca esquecer disso.

domingo, 13 de dezembro de 2020

Habemus Podcast

Há cerca de seis anos, quando estávamos na reta final de nossas trajetórias como alunos de Audiovisual da ULBRA, meu caríssimo amigo Jeferson Derfim propôs a ideia de nos juntarmos para fazer um podcast. Na época, se eu não estou enganado, a mídia vinha recém ganhando popularidade no Brasil. Nós até chegamos a nos reunir na livraria/cafeteria que ficava na universidade, tendo como objetivo desenvolver mais a ideia e ver que tipo de assuntos poderíamos abordar, além claro de apreciar o bom café vendido no local. Infelizmente, seja por falta de recursos e de tempo ou por outros motivos que enrolaram nossas rotinas, o projeto não chegou a andar pra frente na época.

E isso se manteve até semana passada. Quando a Warner Bros. anunciou que iria lançar seus filmes de 2021 tanto nos cinemas quanto em seu novo serviço de streaming (HBO Max), algo que caiu como uma bomba no meio cinematográfico, nós acabamos debatendo um pouco sobre o assunto. E foi nesse contexto que Jeferson propôs repentinamente: “Que tal a gente gravar o primeiro episódio do nosso podcast falando sobre essa decisão da Warner?”

Topei na hora.

O resultado disso é o Tem Pauta!, cujo primeiro episódio entrou no ar neste fim de semana. Nessa ocasião podemos até ter tido como assunto algo relacionado ao Cinema, arte pela qual tanto eu quanto Jeferson temos absoluto apreço (temos até diplomas para provar). Mas, como o próprio nome do podcast indica, nosso plano não é falar só sobre isso. O importante, basicamente, é ter uma pauta sobre a qual possamos nos debruçar em uma conversa, não importa sobre o que ela seja. Apesar de ainda não termos recursos, esperamos conseguir fazer um trabalho bacana, talvez até chamar amigos para contribuírem com seus comentários e sua visão de mundo.

O primeiro episódio já pode ser conferido no Spotify. Ficamos na torcida para que gostem. Se gostarem, recomendem para seus amigos, seus parentes, seus vizinhos, seus colegas. Toda forcinha já nos ajuda nesse começo de trajetória na “podosfera”. E, claro, se não gostarem, podem nos xingar também, sem problema algum.

quinta-feira, 26 de novembro de 2020

Empacotando Jason

Como escrevi dias atrás, eu tenho me divertido bastante jogando Mortal Kombat X. E um dos atrativos desse exemplar da franquia é a participação especial de personagens clássicos do cinema de horror, estando entre eles Jason Vorhees, o serial killer aparentemente imortal da série Sexta-Feira 13.

Tendo isso em vista, aproveitei um tempo livre em casa para usar a minha câmera e os programas de edição a fim de dar vida ao pequeno vídeo a seguir. A ideia pareceu divertida na minha cabeça e espero que divirta vocês.

Obs.: Não recomendado para menores de 18 anos e pessoas de estômago fraco.


quarta-feira, 25 de novembro de 2020

Descanse em paz, Don Diego

Com a palavra, o mestre uruguaio Eduardo Galeano, em seu livro Futebol ao Sol e à Sombra.

“[...] Julgá-lo era fácil, e era fácil condená-lo, mas não era tão fácil esquecer que Maradona vinha cometendo há anos o pecado de ser o melhor, o delito de denunciar de viva voz as coisas que o poder manda calar e o crime de jogar com a canhota, que segundo o Pequeno Larousse Ilustrado significa ‘com a esquerda’ e também significa 'o contrário de como se deve fazer’.

Estava esgotado pelo peso de sua própria personagem. Tinha problemas na coluna vertebral, desde o longínquo dia em a multidão havia gritado seu nome pela primeira vez. Maradona carregava uma carga chamada Maradona, que fazia sua coluna estalar. O corpo como metáfora: suas pernas doíam, não podia dormir sem comprimidos. Não tinha demorado a perceber que era insuportável a responsabilidade de trabalhar como deus nos estádios, mas desde o princípio soube que era impossível deixar de fazê-lo. ‘Necessito que me necessitem’, confessou, quando já tinha há muitos anos o halo na cabeça, submetido à tirania do rendimento sobre-humano, intoxicado de cortisona, analgésicos e ovações, acossado pelas exigências de seus devotos e pelo ódio dos que ofendera.

Quando Maradona foi, finalmente, expulso do Mundial de 94, os campos de futebol perderam seu rebelde mais clamoroso. E perderam também um jogador fantástico. Maradona é incontrolável quando fala, mas muito mais quando joga: não há quem possa prever as diabruras deste criador de surpresas, que jamais se repete e goza desconcertando os computadores. Não é um jogador veloz, tourinho de pernas curtas, mas leva a bola costurada no pé e tem olhos em todo o corpo. Seus malabarismos inflamam o campo. Ele pode resolver uma partida disparando um tiro fulminante de costas para o gol ou servindo um passe impossível, de longe, quando está cercado por milhares de pernas inimigas, e não há quem o pare quando se lança a driblar adversários.”

Obrigado por ter compartilhado seu talento futebolístico com o mundo, Don Diego. Descanse em paz.

 Diego Armando Maradona

(30 de outubro de 1960 – 25 de novembro de 2020)

segunda-feira, 23 de novembro de 2020

Kombate Nostálgico


Quando eu era apenas um Toquinho, ainda na segunda metade dos anos 1990, era comum meus pais fazerem reuniões com o grupo da igreja que eles costumavam frequentar. Nesses eventos, eu geralmente ficava me divertindo com outras crianças, sem que os adultos atrapalhassem. Um desses encontros foi particularmente marcante, tendo colocado eu e meus amiguinhos diante de um Super Nintendo e de um jogo de luta. Estava feita a diversão dos pequenos ali presentes.

Porém, pra alguém que estava mais acostumado com Street Fighter, o jogo em questão se mostrou diferente. Era um pouco mais violento. Pude perceber isso principalmente no momento em que um ninja verde tirou sua máscara e revelou ser uma espécie de lagarto, esticando sua língua até prendê-la envolta da cabeça do adversário. Quando a língua voltou para a boca do ninja, a cabeça veio junto, servindo de refeição para o lutador. "Fatality", disse o locutor.


Não cheguei a perceber na hora, mas foi naquele momento que meu fascínio por Mortal Kombat teve início.

Desde então, a franquia criada por Ed Boon e John Tobias é presença frequente na vida da pessoa que vos fala, seja através dos jogos ou dos filmes e séries de TV que foram produzidas. Apenas minha irmã deve saber quantas horas de vida já gastei com Mortal Kombat, até porque eu sou culpado por ela também ter dedicado sua parcela de tempo para isso (Mortal Kombat 4 marcou bastante nossas diversões). No entanto, apesar dos esforços para ficar atualizado com a franquia ao longo dos anos, até pouco tempo atrás eu infelizmente ainda não havia jogado seus exemplares mais recentes, muito por conta de minha vida de gamer ter parado na década passada. Mas por influência de amigos e também por estarmos em meio a uma pandemia que às vezes nos deixa sem muitas opções de diversão, voltei a jogar algumas coisas no computador, adquirindo recentemente Mortal Kombat X, penúltimo jogo da série e que foi lançado em 2015 (eu sei, a franquia já lançou Mortal Kombat 11 no ano passado e estou chegando bem atrasado na festa, mas por ora é o que temos disponível).


E acho que o tempo fez bem a franquia. O último Mortal Kombat que eu havia jogado foi Armageddon, lançado há 14 anos. Imaginem, portanto, o meu choque ao começar a jogar Mortal Kombat X e ver como a série evoluiu não só em termos de gráficos (o que já seria esperado), mas também nos diversos modos de jogo. É bacana, por exemplo, acompanhar a história contada aqui, ao passo que as lutas em si parecem mais ágeis comparadas com o que eu lembrava de jogos anteriores. Ficar empolgado com os combates e com a criatividade dos golpes desferidos por cada lutador torna-se algo até natural em meio a isso. E é quase impossível não ficar feliz com as participações especiais de Predador, Jason Vorhees, Alien e Leatherface, personagens famosos por derramarem sangue em suas respectivas obras cinematográficas e que aqui tornam-se lutadores dignos de Mortal Kombat.


Mas mais do que ser um ótimo jogo de luta de uma série que adoro, Mortal Kombat X me conquistou também pela nostalgia que tem me proporcionado. Ao entrar naquele universo repleto de peculiaridades, escolher um personagem (geralmente Sub-Zero) e encher os outros de porrada, acabo lembrando do Toquinho que tanto se divertiu com os primeiros exemplares da série. Uma época gostosa na qual as grandes dificuldades enfrentadas se resumiam a fazer os deveres de casa antes de trilhar o caminho para a diversão.

Espero não demorar muito para conseguir jogar Mortal Kombat 11, mas até isso acontecer acho que Mortal Kombat X irá me deixar bem satisfeito.

sexta-feira, 20 de novembro de 2020

Racismo no Brasil existe sim

Arte de Carlos Latuff

“Não existe racismo no Brasil”, disse Hamilton Mourão, vice-presidente do Brasil.

“Não existe racismo no Brasil”, disse o vice-presidente do país onde os negros são 75% das pessoas mortas pela polícia.

“Não existe racismo no Brasil”, disse o vice-presidente do país em que mulheres negras representam 61% das vítimas de feminicídio.

“Não existe racismo no Brasil”, disse o vice-presidente do país onde o homem negro tem um risco 74% maior de ser assassinado, enquanto a mulher negra tem o risco de 64,4%.

“Não existe racismo no Brasil”, disse o vice-presidente do país onde negros formam 66% da população carcerária.

“Não existe racismo no Brasil”, disse o vice-presidente do país onde 71% das pessoas que ficaram sem emprego no segundo semestre de 2020 são negras.

Racismo no Brasil existe sim e não é apenas uma prática preconceituosa. É um sistema. Um sistema que trabalha para privilegiar a cor da pele de uns e menosprezar/aniquilar a de outros. Quem nega a existência disso só ajuda a fazer com que esse sistema (e dados como os citados) se perpetuem.

“Não existe racismo no Brasil”. Eu não tenho como falar pelos outros, mas tenho a impressão de que pessoas como João Alberto Silveira FreitasLuana Barbosa dos Reis, Rodrigo Alexandre da Silva Serrano, Rogério Ferreira da Silva Júnior, Ana Lúcia Martins e Nataly Ventura da Silva discordariam dessa afirmação.

sábado, 14 de novembro de 2020

Power Up: Obrigado, AC/DC!

Tem mais ou menos uns dez anos que, se alguém me pergunta qual é a minha banda favorita, eu respondo "AC/DC" sem precisar pensar muito. A apreciação que tenho por esse grupo australiano não é resultado apenas do excelente som que eles produzem com seus instrumentos, mas também por sua energia descomunal e contagiante. São detalhes que se unem em uma proposta que parece apenas querer criar uma música que empolgue e mantenha o astral do público lá em cima, algo sintetizado pela presença do guitarrista Angus Young, com sua excentricidade e seu figurino escolar característico. Esses aspectos têm se mantido firmes ao longo dos quase 50 anos de estrada da banda, que lança agora Power Up, seu mais novo álbum e que foi produzido em homenagem ao guitarrista Malcolm Young, que faleceu em 2017.

Não pretendo fazer comentários detalhistas sobre este novo trabalho dos caras, até porque não posso dizer que entendo alguma coisa de música para fazer isso com propriedade. O que quero fazer neste post (como indica o título) é apenas agradecer a AC/DC. Como já comentei em outras ocasiões, esse ano não está sendo dos mais fáceis, e haja saúde mental para lidar com dificuldades que ainda prometem tomar uma parte de 2021 (no mínimo). Sendo assim, acho que precisamos todos nos divertir um pouco, fugir brevemente da realidade fazendo algo que a torne mais leve. E AC/DC sabe divertir. Até por isso acredito que este novo disco não poderia ter vindo em uma hora melhor e também não poderia ter um título melhor (power up pode ser traduzido como "energizar").

O disco no total tem pouco menos de 40 minutos, mas cada uma de suas canções me contagiou com seu ritmo eletrizante, inevitavelmente me deixando com um sorriso no rosto enquanto eu batia o pé no chão e bangueava a cabeça com meu cabelo de quarentena. Para completar, é sempre muito bacana ver artistas que já estão na casa dos 70 anos aparentarem ter uma energia maior que a de muitos adolescentes por aí.

Por tudo isso... Muito obrigado, AC/DC!

Deixo abaixo o clipe daquela que se tornou a minha faixa favorita de Power Up.

terça-feira, 10 de novembro de 2020

O Amadorismo do Futebol Brasileiro

Há cerca de duas semanas, Internacional e Flamengo fizeram um jogo que foi considerado como a melhor partida do Campeonato Brasileiro de 2020 até agora. Teve comentarista esportivo (Paulo Vinicius Coelho) classificando a partida como a melhor do futebol mundial naquele fim de semana. Mas quis o destino que os dois clubes ficassem sem seus treinadores ao mesmo tempo. Ontem, o argentino Eduardo Coudet (ou “Chacho”, como nos acostumamos a chamá-lo) pediu para sair do Inter, ao passo que o espanhol Domènec Torrent foi demitido do Flamengo.

O 9 de novembro deveria ficar marcado como Dia Nacional do Amadorismo no Futebol. Particularmente falando, foi só isso que vi ao longo de toda essa segunda-feira. Coudet e Torrent obviamente não são à prova de críticas e cometeram seus erros. Mas mesmo assim Inter e Flamengo atualmente estão nas disputas das três principais competições da temporada, sendo líderes no Campeonato Brasileiro e estando classificados na Libertadores e na Copa do Brasil. Os treinadores se despedem deixando números positivos (o colorado com 61,5% de aproveitamento e o flamenguista com 62,3%) e até semana passada ambos sustentavam algumas boas rodadas invictos no Brasileirão. Como dois clubes que estão em ordem em termos de resultados conseguem ficar sem seus treinadores?

Claro que nada acontece de uma hora para outra. Na opinião deste mero torcedor que vos fala, essa segunda-feira serviu apenas para mostrar mais uma vez como os dirigentes brasileiros são despreparados. Não há convicção em suas escolhas. Não há ambição de projeto a longo prazo. Existe apenas a preocupação com resultados do momento e com o próprio ego/poder. No caso de Coudet, houve tensão nos bastidores, com os conflitos entre treinador e diretoria criando um ambiente cada vez mais inóspito para o argentino. Mesmo com seus erros e teimosias, me tornei um admirador do trabalho de Coudet, que fazia o melhor que podia com o grupo de jogadores que tinha em mãos. Nem sempre era agradável de ver, mas os resultados no geral são ótimos. E fico indignado que figuras como o presidente Marcelo Medeiros e o diretor Rodrigo Caetano tenham contribuído para que as coisas ficassem tão insustentáveis a ponto de o treinador pedir demissão.

Já Domènec Torrent é um caso diferente. O espanhol chegou ao Brasil no meio do ano e, apesar de ter perdido alguns jogos sofrendo goleadas acachapantes, me parece que foi demitido mais por não ter exibido a regularidade que o Flamengo tinha com o técnico anterior, Jorge Jesus. Uma vítima da expectativa criada pelo clube, que parece ter contratado o técnico mais pela grife europeia do que propriamente por seu currículo. Mas foram pouco mais de três meses de trabalho. Será que este tempo foi suficiente para o treinador se adaptar e formar um time competitivo com suas ideias? Ainda assim volto a dizer que os resultados não são ruins, apesar dos pesares.

Não há como dizer que o futebol brasileiro vai bem quando vemos a tabela da Série A do Brasileirão e, dos vinte clubes ali presentes, apenas três mantêm hoje o mesmo treinador com o qual iniciaram o ano: o Grêmio com Renato Portaluppi (no clube desde 2016), o Fluminense com Odair Hellman e o São Paulo com Fernando Diniz. Claro que nem sempre são os dirigentes os culpados, já que temos técnicos por aí que, mesmo fazendo bons trabalhos em um bom ambiente e com respaldo da diretoria, não hesitam em deixar suas equipes ao receberem propostas de times considerados maiores (Vagner Mancini e Rogério Ceni são exemplos recentes disso). Mas certamente isso mostra a total falta de planejamento, de ideias claras e até mesmo de competência entre os profissionais do futebol nacional. Infelizmente, o nosso futebol hoje tem figuras limitadas movimentando sua engrenagem.

segunda-feira, 2 de novembro de 2020

A Dança Pela Liderança

O primeiro turno do Campeonato Brasileiro 2020 chegou ao fim. Ou pelo menos quase isso, já que alguns clubes ainda têm partidas atrasadas para disputar. De qualquer forma, deixo aqui um pequeno conto que escrevi sobre a corrida pela liderança na 19ª rodada do campeonato.

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Imaginem que a Série A do Brasileirão é uma grande pista de dança.

20 times são representados por seus mascotes em uma bela disputa pra ver quem dança melhor ao longo de 38 rodadas. O meio da pista é reservado para quem está se destacando mais e mostrando mais estilo dentro de suas competências, liderando nas pontuações da competição. Ali, o Saci (Internacional), o Urubu (Flamengo) e o Galo (Atlético-MG) estão mostrando um gingado interessante ao som de Bee Gees, chamando atenção enquanto tentam (apenas “tentam” mesmo) imitar os passos de John Travolta em Os Embalos de Sábado à Noite.

Chegando a 19ª rodada da disputa, o Saci olha um pouco cansado para o Urubu.

“Colega, pode ficar com a liderança” – diz o Saci – “preciso dar uma ajuda pro Gavião Mosqueteiro (Corinthians) que está quase fora da pista”. (Corinthians 1 x 0 Internacional)

O Urubu fica surpreso com a atitude do Saci, sentindo-se por um lado lisonjeado por poder ficar com a liderança, mas também compadecido diante da bondade mostrada pelo adversário. O Urubu sorri para o Saci.

“Ora, não se preocupe, meu caro. Pode ir ajudar o Mosqueteiro, mas insisto que fique com a liderança”, diz o Urubu. (Flamengo 1 x 4 São Paulo)

O Saci não acredita no que acaba de ouvir. Será possível tamanha integridade por parte de seu rival?

“Mas isso não é justo com você” – insiste o Saci – “Você está dançando tão bem. Não pode desperdiçar uma chance de liderar sozinho a competição”.

Nesse momento, ambos olham para o Galo que dança sorridente ao seu lado. A dupla mantém o ritmo da dança enquanto se aproxima de seu companheiro. O Urubu puxa assunto.

“Galo, eu e o Saci estávamos aqui pensando. Você não está a fim de...”

“NÃO!” – interrompe o Galo – “Não vou pegar essa liderança. Eu não me sentiria bem assumindo uma posição que vocês merecem tanto quanto eu”. (Palmeiras 3 x 0 Atlético-MG)

As três figuras começam a discutir amigavelmente enquanto dançam no meio da pista. Próximos dali, Guerreirinho (Fluminense), Peixe (Santos) e Santo Paulo (São Paulo) assistem a cena, mas sem deixar de tentar aprimorar suas coreografias, o que ocorre aos trancos e barrancos. (Fortaleza 0 x 1 Fluminense; Santos 3 x 1 Bahia)

“Será que avisamos que eles estão dando espaço para nós no meio da pista?”, pergunta Guerreirinho, deixando Santo Paulo e Peixe pensativos.

“Não” – responde o Santo – “Vamos deixar eles se enrolarem sozinhos”.

segunda-feira, 26 de outubro de 2020

Um Pecado Colorado


Apesar de não praticar mais o catolicismo com o qual cresci, ainda lembro quais são os dez mandamentos. Não irei lista-los aqui porque acredito que todos saibam quais são, mesmo quem segue outras religiões. No entanto, na religião do Internacional parece haver um 11º mandamento: “Não tomarás gol no fim da partida”. E para o azar de quem segue a religião colorada, este é um mandamento que têm trazido consequências frustrantes, para dizer o mínimo.

Não posso dizer que faltou entrega ao Inter no jogo contra o Flamengo, que transcorreu sem maiores problemas ontem, durante um quente início de noite em Porto Alegre. O time foi valente e em alguns momentos surpreendeu até o mais pessimista dos colorados, que talvez esperasse uma grande derrota frente ao time carioca, que possui hoje o elenco mais completo do país. Mesmo entrando no gramado do Estádio Beira-Rio sem algumas peças importantes de seu esquema (Diego Alves, Diego Ribas, Rodrigo Caio, De Arrascaeta, Gabriel), o time treinado pelo espanhol Domènec Torrent ainda conseguiu suprir tais faltas com jogadores de qualidade, algo que poucos times brasileiros têm conseguido fazer. E ainda assim o Inter forçou erros do adversário e ficou duas vezes na frente do placar, fazendo por merecer o resultado de 2x1. Só não chegou assim no momento do apito final porque, além do óbvio crescimento ofensivo do Flamengo (que poderia até perder, mas venderia caro a derrota), o time não resiste a um pecado, cedendo o empate aos 49 minutos da etapa final.

Não é a primeira vez que isso ocorre em 2020. Palmeiras (empate em 1x1), Bahia (empate em 2x2) e mais recentemente os chilenos da Universidad Católica (derrota por 1x2 pela Libertadores) aproveitaram esse pecado colorado. Há duas semanas, o Athlético-PR por muito pouco também não entrou neste seleto grupo, algo que só não aconteceu porque a mão esquerda de Marcelo Lomba milagrosamente se esticou aos 46 minutos do segundo tempo, lembrando o braço de Michael Jordan no épico final de Space Jam (há rumores de que, após aquela vitória por 2x1, o goleiro saiu canonizado do Beira-Rio).


Não sei se é por desconcentração, desgaste físico, falta de qualidade técnica de alguns jogadores de seu elenco (figuras como Damián Musto e William Pottker ainda têm chances com o técnico Eduardo Coudet, seja por teimosia deste ou por falta de alternativa) ou um misto de tudo isso. Mas sei que os minutos finais de alguns jogos do Inter têm se mostrado verdadeiros testes para cardíacos, fazendo religiosos rezarem o terço inteiro na esperança de que os seres humanos vestidos de alvirrubro no gramado contenham a pressão adversária até a hora do apito final. Uma esperança que tem conduzido à frustração em jogos cruciais.

Ceder o empate no fim do jogo nunca traz boas sensações, mas lógico que empatar com o Flamengo ainda é um resultado normal e plenamente aceitável, ainda mais em um jogo tão disputado, que muitas vezes ganhou tons de batalha épica (aliás, os operadores de som do Beira-Rio perderam a chance de tocar a trilha de Game of Thrones durante a partida). Com quatro gols, bola batendo na trave duas vezes, jogador impedindo gol em cima da linha duas vezes, onze cartões amarelos e até técnicos discutindo à beira do campo (mas exibindo um claro respeito mútuo logo depois disso), o 2x2 entre Internacional e Flamengo que aconteceu ontem foi um jogo notável desse Campeonato Brasileiro, mostrando duas equipes que estão fazendo por merecer a posição em que se encontram na tabela (líder e vice-líder). Mas é claro que, como colorado, torço para que o Inter vá logo confessar seus pecados e não volte a repeti-los tão cedo, já que estes estão custando vitórias importantes em um campeonato que o clube não vence há mais de 40 anos.

quinta-feira, 15 de outubro de 2020

Equação Thomica

O Inter jogava contra o Sport ontem à noite pelo Campeonato Brasileiro. Foi um belo jogo, no qual o Inter agraciou a mim e a outros colorados com uma vitória por 5x3 que ainda marcou o esperado retorno de Rodrigo Dourado, volante que estava há mais de um ano sem entrar em campo. Mas por melhor que tenha sido ver tudo isso, hoje não falarei do jogo em si, mas de um momento bem específico que ocorreu durante ele.

Poucos devem saber sobre essas coisas que irei contar, já que raramente falo sobre meus pais publicamente. Mas acho importante compartilhar ao menos certas características deles a fim de dar sentido a esse post. Sendo assim, devo dizer que meu pai tem o hábito de se mostrar irritado com coisas que muitas vezes são bem simples, exibindo uma reação muito desproporcional (e raramente ele se desculpa por isso). Já minha mãe é uma pessoa sensível, com mais noção quanto aos sentimentos dos outros e que faz questão de mostrar sua indignação com o que vê de errado. E é claro que esses aspectos já renderam grandes discussões, mesmo ficando longe de resumir essas duas pessoas.

Mas voltemos rapidamente à partida. Como podem imaginar pelo resultado, foi um jogo movimentado, de forma que foi inevitável ficar um pouco exaltado com algumas coisas que iam acontecendo, rendendo gritos e reclamações por parte de mim e de meu pai. Estávamos fissurados diante da televisão quando minha mãe se aproximou de nós.

“Me deixa contar essa pra vocês”, ela disse.

“AGORA NÃO!”, respondi em um tom mais alto que o necessário.

Não precisei de muito tempo para notar que pisei na bola. Dois segundos depois, olhei para a cara de minha mãe e ela me encarava com um olhar misto de indignação e decepção que me fizeram imediatamente falar a palavra que precisava ser falada: “Desculpa”.

Eu costumo achar que todos nós, como filhos, devemos ao menos tentar ser pessoas melhores que nossos pais. Isso quer dizer que eles são figuras ruins? De forma alguma. Teoricamente falando, essa busca apenas nos mantém em uma constante evolução como seres humanos. Evolução esta que deverá ser continuada por nossos filhos e depois pelos filhos deles e assim por diante. Mas como essa minha breve cena durante o jogo indica, podemos até tentar ser melhores, mas dificilmente seremos muito diferentes. Foi um raro momento no qual percebi que sou mesmo o resultado da equação de Seu Sérgio e Dona Maria Luiza. Uma soma da exaltação de um e da sensibilidade e empatia da outra. E até que o resultado está num caminho evolutivo satisfatório (ao menos por enquanto).

O mais engraçado foi ter precisado de um jogo do Inter para refletir sobre isso.

sexta-feira, 9 de outubro de 2020

Poema Difícil


O que fazer quando se quer escrever

Mas não se sabe exatamente sobre o quê?

Aqui a procura por assunto é uma grande constante

Mas devo dizer que a conclusão se mantém distante

Tão distante quanto Porto Alegre é de Sidney ou de Londres


Poucos sabem, mas escrever é difícil

É complicado

Mas eu também não gosto de ficar tão calado

Ao encontrar as palavras até solto fogos de artifício


Mas agora não sei sobre o que escrever,

Só sei que ando sem foco

Do “novo normal” a culpa pode ser

Mas espero que a concentração volte logo

Ando meio cansado de dedicar ela apenas para jogos


Enquanto isso não acontece

E a nação gradualmente padece

Deixo aqui uma simples perguntinha

Afinal, esse negócio não era só uma gripezinha?

segunda-feira, 21 de setembro de 2020

O Inter Me Obriga a Beber...

Acho que todo torcedor que conhece seu time de futebol já espera algumas coisas dele, não importa se o clube é considerado grande ou pequeno ou se essas coisas são boas ou ruins. Com o Internacional não é diferente. Eu diria que é fácil se iludir com o time, bastando uma pequena sequência de ótimos jogos para que tenhamos a sensação de que a equipe fará bonito nos campeonatos. Em 2020, nas mãos do técnico argentino Eduardo Coudet acho que isso surgiu com um pouco mais de força que nos anos anteriores. No entanto, há certas manias que parecem estagnadas no DNA do time, não importando quem está no elenco ou na comissão técnica, e com as quais me irrito mesmo que não me surpreendam mais. Manias capazes de acabar com chances de título e, sabe-se lá como, sempre conseguem surgir quando o time só depende de si para alçar voos altos no Brasileirão.

Se o Inter tiver alguma chance de avançar no campeonato, é quase certo que ele irá perder ou empatar, desperdiçando a chance de deixar para trás alguns adversários diretos na tabela. Se o Inter for jogar com um clube em crise ou afundado na zona de rebaixamento, há uma grande possibilidade de que ele irá perder a partida e dar uma sobrevida ao adversário no campeonato (se estivesse no universo das histórias em quadrinhos, o Inter seria o Poço de Lázaro da DC Comics). E num costume relativamente comum em boa parte dos clubes, o Inter sofre para jogar bem quando está longe de sua casa, o Estádio Beira-Rio, o que dificulta a conquista de vitórias.

Podemos ver essas coisas voltando um pouco no tempo. Em 2003, o Inter chegou a última rodada precisando apenas de um empate para se garantir na Libertadores de 2004. Acabou levando 5x0 do São Caetano no Estádio Anacleto Campanella e dando a vaga ao Coritiba. Em 2013, o então líder Inter vinha de quatro vitórias seguidas num bom começo de Brasileirão, uma sequência interrompida quando perdeu de 3x0 para o então lanterna Náutico. Em 2016, o Inter teve três jogos em casa que poderiam garantir a permanência na Série A (contra São Paulo, Santa Cruz e Ponte Preta), mas empatou os três, perdendo até um pênalti.

Voltemos para 2020. Após uma certa demora para engrenar (algo que também teve como obstáculo a parada devido a pandemia do novo coronavírus), o time se mostrou admirável defensiva e ofensivamente logo no começo do Campeonato Brasileiro, além de exibir um jogo de toque de bola bonito de se ver (o que dizer do gol de Gabriel Boschilia contra o Botafogo?). E conseguiu isso mesmo tendo falhas em algumas peças, como na lateral-esquerda, uma posição que há anos não vê um titular minimamente eficiente. Com um início de Brasileirão empolgante (o melhor do clube na competição desde 1979, ano de seu último título brasileiro), o Inter chegou à liderança tendo o melhor ataque e a melhor defesa, se posicionando como um possível campeão. Mas os velhos costumes, que pareciam estar controlados, voltaram a dar as caras nas últimas semanas.

Nas sétima e oitava rodadas, o Inter empatou com Palmeiras e Bahia, entregando gols para os adversários nos minutos finais e perdendo pontos que poderiam criar a chamada “gordurinha”, que o distanciaria ainda mais do segundo colocado na tabela e o isolaria na liderança. Na décima rodada, após um jogo eficiente e vitorioso contra o Ceará, o Inter enfrentou um Goiás em crise, na lanterna do campeonato e que jogou a partida inteira com um jogador a menos. A fama do Inter de ressuscitar os “mortos” é tão grande que na manhã do jogo eu e meu pai comentamos que esse era o tipo de partida que o time gosta de perder. O resultado: 1x0 para o Goiás. E na rodada desse fim de semana, tivemos mais uma derrota de 1x0 fora do Beira-Rio, dessa vez para o bom time do Fortaleza comandado por Rogério Ceni, uma derrota que acabou acarretando na perda da liderança do campeonato para o Atlético-MG.


Claro que pode ser uma perda momentânea de liderança. Temos ainda 27 rodadas pela frente, o Inter tem alguns bons jogadores em seu elenco, já mostrou que pode jogar melhor e Eduardo Coudet (que, na humilde opinião deste colorado, é um técnico excepcional) faz um trabalho digno de confiança, ao passo que vários outros possíveis candidatos ao título (como Flamengo, Atlético-MG, São Paulo e Palmeiras) também têm exibido irregularidades. Mas se o time quiser alcançar coisas boas, ele precisa parar de tropeçar nas próprias pernas. Do contrário, o Inter vai sempre me obrigar a beber para esquecer as frustrações.

domingo, 20 de setembro de 2020

A Hell Zone nos Tempos de Quarentena

Os últimos meses têm sido difíceis para o mundo inteiro. Pra algumas pessoas mais que pra outras. A pandemia do novo coronavírus acabou com planos, rotinas e causou uma verdadeira tragédia no sistema de saúde dos países afetados (nosso Brasil sendo um dos principais deles, já alcançando quase 140 mil mortos no momento em que escrevo este post). Se você está lendo isso e é um ser humano minimamente responsável, você deve estar passando esse período majoritariamente em casa, saindo apenas quando necessário, não encontrando amigos ou familiares e talvez esteja se sentindo um tanto isolado, se indignando com o noticiário e com pessoas que não levam a atual realidade a sério. Ficar em casa tem sido uma das principais formas de evitar uma maior proliferação desse vírus maldito, sendo um exercício de compaixão para com profissionais de saúde e quaisquer outras pessoas que estejam sofrendo por conta da pandemia. No entanto, ao ficar em casa também nos vemos enfrentando coisas não muito agradáveis e usarei o post de hoje para falar sobre uma delas: a hell zone.

É natural que todo mundo passe por dias ruins, mas a hell zone (ou “zona do inferno”, na tradução literal) é algo diferente. Vi a expressão pela primeira vez tempos atrás, quando por acaso me deparei com um comentário do comediante americano Dan Sheehan, e desde então tenho a usado com amigos para descrever um período em que ficamos meio desligados. Por “desligados” não quero dizer distraídos, mas sim desligados mesmo, sem energia.

A hell zone surge repentinamente. As coisas estão indo bem, os dias estão tranquilos dentro do possível, mas de repente... Boom, entramos numa espécie de baixo-astral. Na hell zone, há tarefas para serem realizadas, porém não há nenhuma motivação. Pode haver uma vontade de fazer alguma coisa, mas não se sabe o quê. Ficamos tristes, melancólicos e mal humorados, porém nada de especificamente ruim aconteceu para que nos sintamos assim. É uma sensação de pura inutilidade que simplesmente chega, nos assombra por um determinado período (pode ser alguns dias) e depois vai embora como se nunca tivesse estado ali, finalmente nos permitindo voltar ao normal. Ao menos até ela retornar e começar tudo de novo.

Não acho que a hell zone seja um tipo de depressão, mas pode ser que ela seja um sintoma. Na verdade, ela pode muito bem sempre ter estado conosco em maior ou menor grau, mas provavelmente o ato de ficar em casa durante a maior parte do tempo tornou ela um pouco mais perceptível, já que ficamos todos muito mais concentrados no nosso próprio espaço, não tendo para onde fugir. Particularmente falando, já tive um bom número de hell zones ao longo dos últimos seis meses, de forma que estou escrevendo esse post quase como uma forma de terapia. E por experiência própria, afirmo que a hell zone é uma merda, acabando com nossa produtividade exatamente quando mais precisamos nos sentir produtivos.

Mas por mais que a hell zone goste de nos deixar isolados, falar sobre ela é uma maneira interessante de lidar com as sensações que ela desperta. Podemos até nos sentir inúteis, mas não precisamos nos sentir inúteis sozinhos, seja durante uma hell zone ou durante uma pandemia.

sábado, 19 de setembro de 2020

Asilo Arkham: Uma Séria Casa em Um Sério Mundo


“– Mas não quero me encontrar com gente louca – observou Alice.

– Você não pode evitar isso – replicou o gato – Todos nós aqui somos loucos. Eu sou louco. Você é louca.

– Como sabe que eu sou louca? – indagou Alice.

– Deve ser. Ou não teria vindo aqui.”

Essa passagem de Alice no País das Maravilhas usada como prefácio em Asilo Arkham: Uma Séria Casa em Um Sério Mundo mostra o tipo de narrativa que encontraremos na graphic novel. A cultuada obra concebida por Grant Morrison e Dave McKean não é uma história comum do Batman, com ele salvando o dia de alguma forma em meio a tensão constante de Gotham City. Focando bastante na ambientação do hospital que mantém sob custódia as figuras psicologicamente desequilibradas que o herói enfrenta, o trabalho de Morrison e McKean joga o leitor em um submundo perturbado, com uma trama que faz jus a isso.

Em Asilo Arkham, os internos assumem o controle do hospital, fazendo Batman ser chamado por James Gordon para intervir, já que vilões como Coringa e Duas-Caras desejam falar com ele pessoalmente. Lá, com o Coringa brincando com sua cabeça, o herói se vê diante de uma espiral de loucura que parece querer mostrar que ele pertence àquele lugar tanto quanto os vilões. Ao mesmo tempo, acompanhamos em flashbacks situados várias décadas antes, contando a história de Amadeus Arkham, o fundador do local e cuja própria vida é repleta de insanidades e tragédias.

Asilo Arkham se aproxima muito mais de um terror psicológico que de uma trama de super-herói. As artes de McKean, por exemplo, apresentam um universo que remete a pesadelos, abordando todos os elementos da narrativa de maneira mais monstruosa (o próprio Batman parece uma assombração). Isso casa perfeitamente com a proposta da história de Morrison, cujas duas linhas narrativas (com Batman no presente e com Amadeus Arkham no passado) jamais fogem da brutalidade ali presente. Aliás, é interessante notar o paralelo feito entre o herói e o fundador do Asilo Arkham, sendo eles dois indivíduos cujas vidas foram drástica e psicologicamente impactadas pela violência ao seu redor. Violência esta que surge de um jeito mais gráfico, até porque os vilões retratados aqui parecem muito mais desequilibrados que o normal, o que reflete o próprio ambiente e o tratamento do hospital.

Por mais angustiantes que sejam a arte e a história de Asilo Arkham, trata-se de uma graphic novel difícil de largar. Grant Morrison e Dave McKean conseguiram criar uma obra que constantemente instiga o leitor a saber o que acontecerá naquelas páginas. No processo, temos uma história que ajuda a expandir a visão quanto ao quão complexo o universo de Batman pode ser.

quinta-feira, 10 de setembro de 2020

Visitando a História de Sobrevivência nos Andes


Julho de 2017. Pela primeira vez eu fui visitar outro país. Na ocasião, eu e minha irmã entramos em um ônibus a caminho de Montevidéu, a bela capital uruguaia, onde chegamos depois de doze horas de viagem. Foram quatro ótimos dias turistando, conhecendo a cultura e o ambiente uruguaio e criando boas histórias para contar. Sem dúvida é uma viagem que pretendo repetir outras vezes, até porque quatro dias ainda é pouco tempo e não foi possível conferir tudo o que a cidade tem a oferecer. Talvez no futuro eu escreva um post mais abrangente sobre esses dias, mas no momento quero me focar apenas em uma das partes que mais gostei na viagem: a visita ao Museu dos Andes.

Para quem não sabe, em 13 de outubro de 1972, um avião saiu de Montevidéu a caminho da capital chilena, Santiago. Entre os 45 passageiros, estavam os membros de um time uruguaio de rugby chamado Clube dos Cristãos Velhos, além de seus familiares, amigos e a tripulação. No Chile, o time estava programado para jogar uma partida contra uma equipe britânica, algo que não aconteceu porque, após um erro dos pilotos causado pelas péssimas condições climáticas, o avião acabou caindo na Cordilheira dos Andes. Das 45 pessoas a bordo, 33 sobreviveram à queda, mas muitas tiveram ferimentos graves e morreram nos dias seguintes. Sem ninguém para resgatar o grupo, foi iniciada uma verdadeira luta pela sobrevivência, o que durou 72 dias e fez com que as pessoas se alimentassem da carne de seus falecidos entes queridos, no ponto que mais marcou a tragédia e mostra como a situação era desesperadora. O caso teve conclusão depois que dois membros do time, Fernando Parrado e Roberto Canessa, corajosamente atravessaram a cordilheira por dez dias e conseguiram ajuda. No final, 16 pessoas sobreviveram e voltaram para casa.



A história foi contada em vários livros, sendo que o mais famoso deles talvez seja Os Sobreviventes, escrito pelo britânico Piers Paul Read e publicado em 1974. Já o Museu dos Andes foi concebido não só para preservar a memória de uma tragédia que causou grande comoção no Uruguai, mas também para honrar as vidas que foram perdidas tanto no acidente quanto nos dias que se sucederam. Dizer que curti essa parte do passeio por Montevidéu talvez nem seja a melhor forma de definir a sensação durante a visita ao museu, já que podemos sentir um certo embrulho no estômago só de saber que uma situação como essa ocorreu. Mas ainda que seja algo difícil de digerir, acho importante ter conhecimento de histórias desse tipo, até para saber o que o ser humano é capaz de fazer em situações extremas. Nessa visita ao Museu dos Andes, eu e minha irmã nos deparamos com um silêncio que parecia querer ressaltar o impacto daquele acontecimento. Isso enquanto caminhávamos por ambientes que traziam vários itens do acidente (como partes do avião), assim como resgates históricos interessantes (como uma linha do tempo que mostra o que acontecia no mundo enquanto os sobreviventes estavam na cordilheira).





Meses depois da viagem (repito: meses), eu estava checando os livros mais antigos que estavam na estante da minha casa quando notei um em especial: uma edição de 1983 de Os Sobreviventes. Sim, o livro que relata a história pela qual tanto me interessei estava bem debaixo do meu nariz, fazendo parte da pequena coleção de livros dos meus pais desde antes de eu nascer. Sendo meu pai um piloto de avião (hoje aposentado), em algum momento de sua vida ele se interessou pela história e adquiriu o livro, de forma que fiquei um pouco indignado por ele não ter avisado da existência deste exemplar quando eu e minha irmã falamos da viagem. Mas indignações à parte, é claro que não perdi muito tempo e peguei o livro para ler.

Mesmo que Piers Paul Read seja britânico e, portanto, tenha acompanhado o caso à distância na época, podemos ver ao longo das páginas que ele fez um trabalho de pesquisa impressionante, entrevistando os envolvidos e ficando por dentro de tudo sobre o acidente. Sendo assim, o que se vê em Os Sobreviventes é um relato bastante detalhista sobre a queda do avião e os 72 dias que as pessoas ficaram na Cordilheira dos Andes. O autor também estabelece bem o contexto da época do acidente e mostra toda a logística por trás das tentativas de resgate por parte do governo, além de explorar os efeitos que aqueles dias tiveram (e acredito que ainda tenham) nos sobreviventes. Essencialmente, o que temos aqui é uma história de superação e esperança, e o autor merece créditos por conseguir contar tudo isso sem amenizar o peso dos acontecimentos e das difíceis decisões tomadas por aquelas pessoas. Read até avisa no prefácio que não romanceou nenhuma passagem do livro, permitindo que os fatos causem impacto por si mesmos.

Em 1993, o livro foi adaptado para o cinema pelo diretor e produtor Frank Marshall em Vivos, filme que trouxe Ethan Hawke e Josh Hamilton nos papeis de Fernando Parrado e Roberto Canessa, respectivamente. Apesar de contar com bons momentos e um elenco esforçado, o longa não chega a ter uma narrativa que reflita o peso emocional da história. Os Sobreviventes, porém, se mantém como um livro instigante e bastante completo sobre uma tragédia que o povo uruguaio jamais vai se permitir esquecer, ao passo que o Museu dos Andes é um ponto turístico que merece ser visitado.

segunda-feira, 7 de setembro de 2020

Bem-Vindo, Toco 2.8!

“Vamos pedir um cento de salgadinhos pra segunda-feira?”, perguntou minha mãe há alguns dias.

“Tá... Mas por quê?”, perguntei.

“Pro teu aniversário!”, ela disse fazendo uma cara de surpresa, o que é normal para alguém que falava uma obviedade.

Eu sei, eu sei. Salgadinhos são bons e não é preciso um motivo especial para encomenda-los. Logo, minha pergunta não tinha lá muito sentido. Mas foi nesse diálogo com a minha mãe que percebi que minha noção de tempo nesse ano foi para as cucuias. Os meses, os dias e as horas têm se confundido, de forma que não é raro o meu cérebro dar algumas voltas até concluir em que ponto do calendário estamos e o que tenho planejado. Sinais da idade ou do fato de os dias ultimamente estarem parecendo iguais? Eis uma questão a se pensar.

Mas hoje é segunda-feira, 07 de setembro de 2020. Para muitos (senão a maioria), é um feriado de Dia da Independência como os que temos todos os anos. Para mim, é o dia que completo mais um ano de vida. Normalmente isso seria comemorado de alguma forma, seja juntando a família para comer pizza ou chamando os amigos para beber. Ou as duas coisas, se possível. Mas todo esse contexto envolvendo a maior pandemia dos últimos 100 anos faz com que este 2020 não seja um ano normal, impossibilitando quaisquer comemorações normais. Na verdade, a pandemia até tira o desejo de fazer algo assim.

Mas não vou escrever um post deprimente. Ou pelo menos não pretendo. O que eu quero é apenas tentar processar como estou hoje.

Como todo ser humano que tem noção de que não nasceu sabendo tudo, eu acho que sou um constante trabalho em desenvolvimento. Dia após dia eu procuro ser uma pessoa melhor do que eu era no dia anterior. Chego aos 28 anos ainda tendo muitos dos medos, incertezas e inseguranças com os quais cresci, detalhes que constantemente formam na minha cabeça uma parede difícil de derrubar e que me impede de ser alguém um pouco mais satisfeito consigo mesmo (eu sei, eu preciso de terapia). No entanto, vale dizer que gosto mais de quem eu sou hoje do que de quem eu era há alguns anos, o que certamente aponta que se as coisas não estão perfeitas, ao menos estão longe de estarem ruins e já evoluíram alguma coisa.

Se eu penso e sinto isso, provavelmente o tal trabalho em desenvolvimento está correndo por bons caminhos. Como sei disso? Não há bem uma resposta lógica. Apenas levo em consideração o carinho que recebo todos os dias de familiares e amigos (que não são poucos, felizmente). Gosto de pensar que extraio os melhores aprendizados dessas pessoas com quem tenho uma relação de afeto e admiração recíprocas, de forma que elas certamente acabam ajudando este ser humano aqui a evoluir. E sou grato por ter essas pessoas na minha vida (não citarei nomes, mas elas sabem quem são).

Sabendo que ainda tenho uma longa jornada a percorrer e muitos objetivos para alcançar, dou as boas-vindas ao Toco 2.8, e desejo a ele sorte para se manter em um bom caminho. E, se possível, espero que ele tenha um texto mais bem escrito quando a versão 2.9 chegar daqui um ano.