Julho de 2017. Pela primeira vez
eu fui visitar outro país. Na ocasião, eu e minha irmã entramos em um ônibus a
caminho de Montevidéu, a bela capital uruguaia, onde chegamos depois de doze
horas de viagem. Foram quatro ótimos dias turistando, conhecendo a cultura e o
ambiente uruguaio e criando boas histórias para contar.
Sem dúvida é uma viagem que pretendo repetir outras vezes, até porque quatro
dias ainda é pouco tempo e não foi possível conferir tudo o que a cidade tem a oferecer.
Talvez no futuro eu escreva um post mais abrangente sobre esses dias, mas no
momento quero me focar apenas em uma das partes que mais gostei na viagem: a
visita ao Museu dos Andes.
Para quem não sabe, em 13 de
outubro de 1972, um avião saiu de Montevidéu a caminho da capital chilena, Santiago.
Entre os 45 passageiros, estavam os membros de um time uruguaio de rugby
chamado Clube dos Cristãos Velhos, além de seus familiares, amigos e a
tripulação. No Chile, o time estava programado para jogar uma partida contra uma
equipe britânica, algo que não aconteceu porque, após um erro dos pilotos causado
pelas péssimas condições climáticas, o avião acabou caindo na Cordilheira dos
Andes. Das 45 pessoas a bordo, 33 sobreviveram à queda, mas muitas tiveram
ferimentos graves e morreram nos dias seguintes. Sem ninguém para resgatar o
grupo, foi iniciada uma verdadeira luta pela sobrevivência, o que durou 72 dias
e fez com que as pessoas se alimentassem da carne de seus falecidos entes
queridos, no ponto que mais marcou a tragédia e mostra como a situação era
desesperadora. O caso teve conclusão depois que dois membros do time, Fernando
Parrado e Roberto Canessa, corajosamente atravessaram a cordilheira por dez
dias e conseguiram ajuda. No final, 16 pessoas sobreviveram e voltaram para
casa.
A história foi contada em vários
livros, sendo que o mais famoso deles talvez seja Os Sobreviventes, escrito
pelo britânico Piers Paul Read e publicado em 1974. Já o Museu dos Andes foi
concebido não só para preservar a memória de uma tragédia que causou grande
comoção no Uruguai, mas também para honrar as vidas que foram perdidas tanto no
acidente quanto nos dias que se sucederam. Dizer que curti essa parte do
passeio por Montevidéu talvez nem seja a melhor forma de definir a sensação durante
a visita ao museu, já que podemos sentir um certo embrulho no estômago só de
saber que uma situação como essa ocorreu. Mas ainda que seja algo difícil de
digerir, acho importante ter conhecimento de histórias desse tipo, até para
saber o que o ser humano é capaz de fazer em situações extremas. Nessa visita ao
Museu dos Andes, eu e minha irmã nos deparamos com um silêncio que parecia
querer ressaltar o impacto daquele acontecimento. Isso enquanto caminhávamos
por ambientes que traziam vários itens do acidente (como partes do avião), assim
como resgates históricos interessantes (como uma linha do tempo que mostra o
que acontecia no mundo enquanto os sobreviventes estavam na cordilheira).
Meses depois da viagem (repito:
meses), eu estava checando os livros mais antigos que estavam na estante da
minha casa quando notei um em especial: uma edição de 1983 de Os
Sobreviventes. Sim, o livro que relata a história pela qual tanto me
interessei estava bem debaixo do meu nariz, fazendo parte da pequena coleção de
livros dos meus pais desde antes de eu nascer. Sendo meu pai um piloto de avião
(hoje aposentado), em algum momento de sua vida ele se interessou pela história
e adquiriu o livro, de forma que fiquei um pouco indignado por ele não ter avisado
da existência deste exemplar quando eu e minha irmã falamos da viagem. Mas indignações
à parte, é claro que não perdi muito tempo e peguei o livro para ler.
Mesmo que Piers Paul Read seja
britânico e, portanto, tenha acompanhado o caso à distância na época, podemos
ver ao longo das páginas que ele fez um trabalho de pesquisa impressionante,
entrevistando os envolvidos e ficando por dentro de tudo sobre o acidente. Sendo
assim, o que se vê em Os Sobreviventes é um relato bastante detalhista sobre
a queda do avião e os 72 dias que as pessoas ficaram na Cordilheira dos Andes. O
autor também estabelece bem o contexto da época do acidente e mostra toda a
logística por trás das tentativas de resgate por parte do governo, além de explorar
os efeitos que aqueles dias tiveram (e acredito que ainda tenham) nos
sobreviventes. Essencialmente, o que temos aqui é uma história de superação e
esperança, e o autor merece créditos por conseguir contar tudo isso sem amenizar
o peso dos acontecimentos e das difíceis decisões tomadas por aquelas pessoas. Read
até avisa no prefácio que não romanceou nenhuma passagem do livro, permitindo
que os fatos causem impacto por si mesmos.
Em 1993, o livro foi adaptado
para o cinema pelo diretor e produtor Frank Marshall em Vivos, filme que
trouxe Ethan Hawke e Josh Hamilton nos papeis de Fernando Parrado e Roberto
Canessa, respectivamente. Apesar de contar com bons momentos e um elenco
esforçado, o longa não chega a ter uma narrativa que reflita o peso emocional
da história. Os Sobreviventes, porém, se mantém como um livro instigante
e bastante completo sobre uma tragédia que o povo uruguaio jamais vai se
permitir esquecer, ao passo que o Museu dos Andes é um ponto turístico que merece ser visitado.
3 comentários:
WOOOOW! Tá aí uma história incrivelmente estarrecedora. E o ponto que tu colocou, sobre encontrar em histórias como essa sinais de como se comportam os seres humanos em situações extremas, é o que mais me move sobre isso tudo. Eu me pergunto: Que tipo de mudança psicológica essa situação provocou nessas pessoas?
É uma ótima maneira de se lembrar de uma viagem como essa, a uma cidade tão linda e gostosa como Montevideo
Abração!!!
Eu escuto essa história há tempos, e mesmo tendo passado tanto tempo em Montevideo, nunca visitei o museu. Bom programa para a próxima.
Nossa, que estômago para ler esse livro. Não sei se tenho, mas fico curiosa igual haha
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