sábado, 19 de setembro de 2020

Asilo Arkham: Uma Séria Casa em Um Sério Mundo


“– Mas não quero me encontrar com gente louca – observou Alice.

– Você não pode evitar isso – replicou o gato – Todos nós aqui somos loucos. Eu sou louco. Você é louca.

– Como sabe que eu sou louca? – indagou Alice.

– Deve ser. Ou não teria vindo aqui.”

Essa passagem de Alice no País das Maravilhas usada como prefácio em Asilo Arkham: Uma Séria Casa em Um Sério Mundo mostra o tipo de narrativa que encontraremos na graphic novel. A cultuada obra concebida por Grant Morrison e Dave McKean não é uma história comum do Batman, com ele salvando o dia de alguma forma em meio a tensão constante de Gotham City. Focando bastante na ambientação do hospital que mantém sob custódia as figuras psicologicamente desequilibradas que o herói enfrenta, o trabalho de Morrison e McKean joga o leitor em um submundo perturbado, com uma trama que faz jus a isso.

Em Asilo Arkham, os internos assumem o controle do hospital, fazendo Batman ser chamado por James Gordon para intervir, já que vilões como Coringa e Duas-Caras desejam falar com ele pessoalmente. Lá, com o Coringa brincando com sua cabeça, o herói se vê diante de uma espiral de loucura que parece querer mostrar que ele pertence àquele lugar tanto quanto os vilões. Ao mesmo tempo, acompanhamos em flashbacks situados várias décadas antes, contando a história de Amadeus Arkham, o fundador do local e cuja própria vida é repleta de insanidades e tragédias.

Asilo Arkham se aproxima muito mais de um terror psicológico que de uma trama de super-herói. As artes de McKean, por exemplo, apresentam um universo que remete a pesadelos, abordando todos os elementos da narrativa de maneira mais monstruosa (o próprio Batman parece uma assombração). Isso casa perfeitamente com a proposta da história de Morrison, cujas duas linhas narrativas (com Batman no presente e com Amadeus Arkham no passado) jamais fogem da brutalidade ali presente. Aliás, é interessante notar o paralelo feito entre o herói e o fundador do Asilo Arkham, sendo eles dois indivíduos cujas vidas foram drástica e psicologicamente impactadas pela violência ao seu redor. Violência esta que surge de um jeito mais gráfico, até porque os vilões retratados aqui parecem muito mais desequilibrados que o normal, o que reflete o próprio ambiente e o tratamento do hospital.

Por mais angustiantes que sejam a arte e a história de Asilo Arkham, trata-se de uma graphic novel difícil de largar. Grant Morrison e Dave McKean conseguiram criar uma obra que constantemente instiga o leitor a saber o que acontecerá naquelas páginas. No processo, temos uma história que ajuda a expandir a visão quanto ao quão complexo o universo de Batman pode ser.

2 comentários:

Bruno disse...

EU AMO essa pegada séria de drama psicológico que certas obras do universo Batman adotam. Caralho, to afim de ler essa aí!

Mila disse...

Para de me fazer querer ler DC hahah