segunda-feira, 26 de dezembro de 2022

Minha experiência com Doom

Um longo caminho capaz de gerar até certo receio de seguir adiante em determinados momentos, mas cujos obstáculos e demônios nós ainda assim enfrentamos. E caso a gente venha a falhar (e somos capazes de falhar várias e várias vezes), podemos tentar novamente ao ganharmos uma nova chance, buscando assim superar os demônios que encontramos.

Eu poderia estar falando da vida, mas estou apenas falando da minha experiência de jogar algo como Doom (de 2016). Sim, acabei de fazer uma analogia comparando a vida a um jogo de tiro em primeira pessoa no qual precisamos enfrentar demônios que estão invadindo a Terra. Aposto que ninguém esperava por isso. Mas entre analogias e tensões, jogar Doom foi uma das experiencias mais... Recompensadoras que pude ter em 2022.

Mas antes de eu me debruçar mais no porquê de eu estar escrevendo sobre isso, quero trazer um pouco de contexto. Quando eu era criança, meu pai encontrava jogos para o computador, e alguns deles eram jogos de tiro em primeira pessoa com um nível de violência relativamente elevado. Três desses jogos acabaram se tornando particularmente marcantes: Duke Nukem 3D (lançado em 1996), Quake (também de 1996) e Doom (de 1993). Por algum motivo que não sei explicar, este último era o que mais me agradava, de forma que lembro de dedicar muitas e muitas horas atirando nas criaturas demoníacas que surgiam em cada fase, mesmo que eu tivesse um pouco de medo e não entendesse nada sobre o que o jogo se tratava.

Corta para 2022 e me vi com vontade de voltar ao universo de Doom após mais de 20 anos sem saber nada sobre a franquia, partindo logo para os jogos mais recentes: o reboot Doom e Doom Eternal (de 2020). Mas meu retorno a esses jogos não foi sem o já citado medo que eu costumava ter, tanto que quando iniciei a primeira fase de Doom numa madrugada de um dia qualquer, eu precisei parar no meio do caminho e sair do jogo, tamanho era o meu estresse a casa passo que eu dava pelo ambiente hostil daquele universo.


Mas, curiosamente, na manhã seguinte acordei determinado a fazer todos os demônios pagarem por terem se metido comigo. Isso fez eu concluir que o terror que eu senti vinha da imagem que eu havia estabelecido quando criança para a série Doom ao invés de vir do jogo em si, que até tem sim um bom nível de tensão e causa sustos quando estamos desatentos, mas está muito longe de ser uma experiência que cause altos arrepios. Na verdade, Doom busca fazer o contrário disso. Não à toa o jogo nos coloca na pele de um personagem que podemos classificar apenas como “fodão”. Tendo as mais diversas armas, uma armadura poderosa e uma vontade inabalável de trucidar demônios, o indivíduo conhecido como Doom Slayer (ou Doom Guy) é uma força difícil de ser parada, fazendo a pessoa que o controla se sentir capaz de qualquer coisa naquele universo.

Esse é o único papel do personagem, que é uma figura temida pelos demônios, mas não ganha muito desenvolvimento para além disso, reforçando a ideia de que ele é o nosso avatar ali dentro. E creio que o fato de o jogador ter um alter ego tão simples, porém tão foda (na falta de outra palavra) sintetiza bem a experiência de jogar Doom. É um jogo que não traz grandes histórias ou grandes objetivos ao longo das fases, mas ainda assim cria um caos divertidíssimo enquanto corremos e matamos instintivamente as criaturas que nos atacam. Todo esse conceito simples é expandido em Doom Eternal, que assim consegue ser uma continuação ainda mais empolgante e insana.


Mas o que me pegou meio de surpresa ao jogar essas maluquices foi ver a diversão desses jogos se misturar com a nostalgia de voltar ao universo de Doom depois de tanto tempo. Acho que foi essa mistura que fez eu me converter oficialmente em fã incondicional dessa série, a ponto de agora eu poder dizer que tenho uma estátua em miniatura do Doom Slayer no meu quarto. Creio que assim os demônios vão pensar duas vezes antes de virem me infernizar.

domingo, 18 de dezembro de 2022

Que final foi essa???


Pouco depois da metade do segundo tempo de Argentina x França, final da Copa do Mundo de 2022, eu comecei a fazer pequenas anotações de coisas que eu poderia utilizar nesse texto. Coisas que poderiam descrever e justificar o que, até aquele momento, era uma vitória tranquila e mais do que merecida da Argentina.

E então chegamos aos 80 minutos de partida (ou 35 minutos do segundo tempo) e precisei jogar fora todas as anotações.

O que ocorreu no Catar foi um jogo que podemos classificar com uma série de adjetivos grandiosos que temos no dicionário.

Épico? Sim.

Catártico? Sim.

Insano? Sim.

Histórico? Não tenham dúvidas de que sim.

As seleções de Argentina e França fizeram algo que não se vê todo dia: transformaram a final da Copa não só no melhor jogo do campeonato (como deve ser), mas também em um jogo que provavelmente será lembrado por muitos e muitos anos pelos admiradores do futebol.


Um jogo que desafiou emoções e até a lógica. Durante 79 minutos, a Argentina mostrava uma vontade digna de campeões e uma organização impressionante, sendo que até o acaso parecia estar jogando ao lado de Lionel Messi e companhia, com tudo dando certo. Quando um jogador argentino chutava a bola para longe de sua área, ela fazia o capricho de desviar em um francês no meio do caminho e sair pela lateral do outro lado do campo. Quando a Argentina estava em plena velocidade no ataque e arriscava um passe, a bola passava sabe-se lá como entre as pernas de um francês. Assim, os argentinos pareciam que iriam levar a taça com serenidade, tendo construído uma vantagem de 2x0 ainda no primeiro tempo (gols de Messi e Di Maria) que os fazia desafiar até mesmo declarações como a do craque francês Kylian Mbappé, que há alguns meses disse que o futebol sul-americano não estava no mesmo alto nível do futebol europeu.

Mas quando chegamos aos 80 minutos de jogo, foi como se os deuses do futebol resolvessem mostrar que existem e tivessem decidido virar a chavezinha que controla a partida. Aos 80 minutos, pênalti para a França e 2x1. Aos 81, 2x2. Os dois momentos protagonizados exatamente por Mbappé, que assim fez a final virar uma apoteose ímpar. E então tudo começou a dar certo para a França. Toda bola rebatida encontrava um pé francês para dominá-la. Se durante a maior parte do tempo os franceses pareciam estar dormindo, nessa hora eles já estavam mais do que acordados. Estavam ligados no 220v, surpreendendo ao ficar mais perto de uma virada do que de uma derrota, o que seria um golpe profundamente duro nos argentinos que tanto dominaram a partida. A essa altura do jogo, mesmo quem não torcia para nenhum dos times era capaz de estar de olhos arregalados.

Os franceses, porém, não souberam aproveitar esse momento de superioridade física e psicológica para matar o jogo, até porque a defesa argentina não permitiu mesmo com o time claramente exaurido em campo. Talvez por isso, durante a prorrogação, os deuses do futebol tenham decidido virar a chavezinha novamente, e Messi aos trancos e barrancos fez 3x2.

Estaria agora a vitória assegurada? A resposta é... Não, já que futebol é um esporte em que mínimos detalhes importam. E mesmo quando você está seguro em campo, administrando bem o jogo e chutando a bola para a torcida para que não aconteça mais nada, um braço estendido do seu jogador dentro da sua área pode colocar tudo a perder. Chavezinha virada novamente, mais um pênalti para a França e 3x3, com Mbappé fazendo um hat-trick e se consolidando como artilheiro da Copa. E o atacante Kolo Muani ainda poderia ter evitado a disputa de pênaltis e dado a vitória aos “Les Bleus”... Isso se não houvesse um gigante chamado Emiliano Martínez preparado para fazer no último minuto o que podemos chamar de “A Defesa da Copa”. E acho que nesse momento, os deuses viraram novamente a chavezinha a favor dos argentinos.


Na loteria dos pênaltis, há dois pontos de vista: ou a França deu o azar de não poder colocar Mbappé em todas as cobranças, ou a Argentina que teve a sorte de contar com Martínez no gol, além de ter tido a competência para converter seus pênaltis. 4x2 e tricampeonato mundial finalmente assegurado. Um título merecido e que não coroa apenas o futebol argentino depois de 36 anos de insucessos em mundiais. Coroa também a genialidade de Lionel Messi.

Já fazem quase 20 anos que Messi encanta o mundo inteiro com seu futebol, seja com um passe, com um gol ou com uma jogada isolada em um canto do campo, fazendo coisas difíceis parecerem simples. Por óbvio, nem sempre o objetivo de levar sua equipe ao gol e, consequentemente, a vitória se cumpriu, principalmente se formos pensar nos últimos anos ou na maior parte de sua carreira na seleção argentina. Mas ele alcançou feitos incríveis, conquistou vários grandes títulos no Barcelona e se estabeleceu como um os melhores jogadores que já pisaram em um campo de futebol (para muitos, ele é o melhor e creio que há vários argumentos para sustentar tal afirmação). Ele conseguiu isso tudo sem ter uma Copa do Mundo, de forma que não ganhar esse campeonato provavelmente não mudaria seu status icônico, com o fracasso sendo uma mera nota de rodapé em sua história. Mas agora, aos 35 anos e se aproximando do fim da carreira, ele conseguiu ao lado de seus companheiros uma Copa para chamar de sua. Uma Copa na qual ele foi eleito o craque com toda justiça. Uma Copa na qual ele marcou gols decisivos em todos os jogos de mata-mata. Uma Copa na qual ele chamou a responsabilidade para si quando o time precisou. Uma Copa que, enfim, acaba com hipotéticas notas de rodapé e traz qualquer que fosse o brilho que faltava para um dos maiores nomes do esporte.

Parabéns, Messi. Parabéns, hermanos. Aproveitem a festa.

sábado, 26 de novembro de 2022

Insegurança e Autossabotagem

Insegurança é uma merda.

Desculpem essa frase de abertura, mas o óbvio às vezes precisa ser dito dessa forma mais enfática, o que não ocorre quando usamos palavras polidas. Portanto... Insegurança é uma merda.

Em março deste ano vi um artigo que escrevi ser publicado em um livro, algo totalmente inédito para mim. Como membro da Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (ACCIRS), contribuí com o projeto literário sobre o cinema gaúcho que o grupo tinha há algum tempo, escrevendo sobre um dos 50 filmes que aparecem naquelas páginas (“50 Olhares da Crítica Sobre o Cinema Gaúcho” é o nome do livro, e eu escrevi sobre O Homem Que Copiava, de Jorge Furtado). Ter feito essa (pequena) contribuição no projeto foi algo que me deu particular orgulho, e provavelmente meus amigos mais próximos tenham sentido minha empolgação quando falei para eles.

Mas... Insegurança é uma merda, e como resultado disso vi apenas alguns familiares irem ao lançamento do livro no início deste ano, além de ninguém que conheço ter ido na sessão de autógrafos que ocorreu semanas atrás na Feira do Livro de Porto Alegre, um dos eventos mais legais da face da Terra. “Mas que amigos desnaturados você tem”, poderiam dizer alguns. O que esses alguns não saberiam é que se quase ninguém que conheço foi prestigiar a mim (e por tabela, claro, a ACCIRS), isso se deve porque eu não convidei direito as pessoas. E fiz isso conscientemente.

Tenho refletido muito nos últimos dias sobre os motivos para eu ter deixado as coisas rolarem dessa forma. Por que me arrependi de ter confirmado presença na sessão de autógrafos? Por que não mandei mensagens para meus amigos convidando todos eles? Por que apenas compartilhei um convite no Instagram sem realmente dizer que fazia questão da presença das pessoas?

Insegurança é uma merda tão grande que me trouxe uma série de sensações que me colocaram para baixo. Uma sensação de que não sou digno de estar entre os autores do livro, de que eu não merecia ser parte de uma associação como a ACCIRS. Uma sensação de que não sou bom o suficiente naquilo que gosto de fazer (escrever, principalmente sobre cinema). Uma sensação de que ninguém iria se importar caso eu não comparecesse ao evento. Uma série de sensação que, basicamente, se baseiam num medo de ser um fracasso, algo que rivaliza com o medo de ser bem sucedido. É um pouco difícil querer dividir esses momentos marcantes com outras pessoas quando a cabeça fica enrolada nessas ideias.

Ainda assim, curiosamente isso não fez eu desistir de ir a sessão de autógrafos. Talvez isso aponte que sou teimoso com o meu lado que gosta de uma autossabotagem (ou que eu apenas goste de cumprir com meus compromissos). E para a minha surpresa... Essas sensações sumiram quando me juntei aos meus colegas e coautores. Foi uma sessão de autógrafos tranquila, onde tudo correu melhor que o imaginado. E consequentemente isso fez eu me arrepender de não ter convidado as pessoas apropriadamente para que o evento tivesse sido ainda melhor.

Comecei a escrever isso mais como um desabafo, levando a sério a ideia que tive ao criar esse blog para “arquivar” as abobrinhas que passam pela minha cabeça. Se você chegou até essa parte do texto, gostaria de informar que eu até que sou bom dando conselhos para amigos, apesar de eu mesmo não poder dizer que sigo estes conselhos. Mas talvez lendo e imaginando que outra pessoa deu estes conselhos isso mude um pouco. Por isso, digo que devemos procurar acreditar mais em nosso potencial, nos orgulhar plenamente de nossas conquistas e compartilhar o máximo que pudermos com as pessoas que amamos. Vai saber? Podemos estar perdendo de deixar bons momentos ainda melhores.

quarta-feira, 7 de setembro de 2022

Bem-vindo, Toco 3.0!

Ao longo dos últimos anos, vi uma aura especial se moldar ao redor da chegada do 30º aniversário das pessoas. Não sei se só eu tive essa impressão ou se foi algo comum à minha geração (e talvez das gerações anteriores) de modo geral, mas a ideia de chegar aos 30 parecia ser semelhante a chegar aos 18 anos, como se fosse alguma nova marca de maioridade. Até mesmo Friends, há mais de duas décadas, realizou um episódio no qual Rachel completava 30 anos e, de quebra, nós tivemos a oportunidade de ver como os outros personagens chegaram a essa idade. Por conta desse episódio, eu basicamente esperei pelo dia de hoje apenas para repetir o que o grande Joey Tribbiani grita em determinada cena.

“Por que, Deus? Por quê? Nós tínhamos um acordo. Deixe os outros ficarem velhos, não eu!”


O interessante é que eu até posso compartilhar essa cena e satisfazer todo o tempo de espera pelo qual passei para poder usá-la, mas não posso dizer que ela reflete meus reais sentimentos nessa chegada aos 30. Não por eu não ser nada religioso e, por isso, não curtir ficar clamando coisas pra um cara cuja existência eu não consigo dizer que acredito. Mas sim porque acho que já faz um tempo que deixei de ver o processo de envelhecimento como algo negativo ou particularmente pesado.

Já devo ter dito em alguma outra ocasião, mas eu gosto da ideia de que somos todos projetos em desenvolvimento, e a passagem de tempo (somada aos diversos contextos e fases pelas quais passamos) surge como uma oportunidade para tentarmos evoluir gradualmente como seres humanos. Falando por mim, é óbvio que jamais deixarei de ter falhas, mas diante de todo esse processo acho seguro dizer que sou um cara mais legal do que era há alguns anos (ou no mínimo menos idiota), e espero poder voltar a dizer isso quando eu chegar aos 35, aos 40 e assim por diante. Da mesma forma, espero continuar evoluindo ao lado de todas as pessoas queridas que tenho mantido por perto, já que elas contribuem para que os obstáculos da vida e as injustiças do mundo fiquem um pouco mais suportáveis.

Assim dou boas-vindas ao Toco 3.0, esperando que ele tenha sorte e sensatez em sua volta ao redor do Sol.

segunda-feira, 16 de maio de 2022

Há 20 Anos, Direto do Túnel do Tempo

Dias atrás, me deparei com o fato de que o primeiro filme do Homem-Aranha está completando 20 anos desde seu lançamento original, que ocorreu no dia 03 de maio de 2002. Aqui no Brasil o filme ainda levaria mais duas semanas para chegar, o que fez eu lembrar que 18 de maio de 2002, um sábado, foi o dia em que fui ao cinema assistir ao filme pela primeira vez. Pensar nesses detalhes foi o suficiente para que eu começasse uma breve viagem no tempo, voltando a momentos desse ano em específico que me marcaram e sobre os quais deu vontade de escrever.

Eu tinha 10 anos em 2002, morava em Bento Gonçalves, era uma criança extremamente tímida, gordinha e que gostava de passar o tempo jogando videogame e, quando possível, visitando amigos (na vida adulta, acho que todos esses detalhes estão intactos, sendo a única diferença eu ter voltado para Porto Alegre). Dentre as lembranças que vieram em mente, toda a época do lançamento de Homem-Aranha surge como uma das principais. Minha empolgação em relação ao filme era gigante, a ponto de eu ter escrito uma história na escola contando a origem do personagem nas HQs (ou o que eu achava saber da origem do personagem nas HQs). Obviamente o resultado foi bastante infantil, mas lembro de ter me orgulhado de ter escrito três páginas inteiras (acho que a professora teria se contentado com uns três parágrafos rápidos) e recebido aplausos de minha turma quando li a história na aula.

Além disso, eu e um colega resolvemos pesquisar sobre aranhas quando a professora nos deu uma tarefa na aula de Ciências. A tarefa foi feita e entregue, mas os dois malucos empolgados com Homem-Aranha não se deram por satisfeitos, dando continuidade à pesquisa no fim de semana da estreia do filme. Fizemos um trabalho inteiro sobre aranhas sem a menor necessidade, apenas por diversão, realizando uma pausa apenas às 14h daquele sábado para... ir ao cinema e ver Homem-Aranha, sendo que o filme ainda superou todas as expectativas que havíamos criado. Desde então, perdi a conta de quantas vezes vi o filme, seja na TV ou em mídia física, dublado ou legendado.

Mas outras lembranças que marcaram 2002 também passaram pela minha cabeça, principalmente no que se refere a futebol, já que foi naquele ano que eu comecei a gostar do esporte, começando a jogar na escola e assistir a partidas aleatórias na TV. Na escola eu era pavoroso quando entrava em campo, sendo um dos piores da turma, a ponto de um colega pedir que eu ficasse “na zaga” e eu não entender que ele queria que eu ficasse na defesa (quando ele me procurava, lá estava eu no ataque fazendo sabe-se lá o quê). Ainda assim, é difícil esquecer uma partida durante a aula de Educação Física na qual marquei três gols, por pior que eu fosse com a bola no pé. Conseguem imaginar a empolgação de um dos piores jogadores da turma ao marcar um hat-trick? Foi um feito que me deixou com um sorriso de orelha a orelha.

Mas muito do gosto por futebol teve início, claro, com a Copa do Mundo daquele ano. Não posso dizer que acompanhei todos os jogos como tento fazer hoje em dia, mas vivi muito o clima daquela Copa, que rendeu alguns trabalhos na escola e mais momentos marcantes. Como aqui no Brasil os jogos ocorriam de madrugada por conta do fuso horário da Coreia do Sul e do Japão, houve um dia em que acordei às 04h da manhã graças aos gritos e aplausos do meu pai em frente à televisão. Levantei da cama e fui até a sala para ver o motivo de tudo aquilo: Ronaldinho Gaúcho havia marcado seu antológico gol de falta contra a Inglaterra nas quartas de final. Que momento brilhante foi aquele, senhoras e senhores! E claro, não esqueço da comemoração do pentacampeonato conquistado dias depois, quando cheguei a ficar balançando uma bandeirinha do Brasil na hora em que Ronaldo marcou o segundo gol na final contra a Alemanha.


Por esses e outros momentos (que talvez eu conte futuramente, quem sabe?), tenho um apreço especial por essa época, de maneira que lembrar de todas essas coisas acabou sendo uma viagem no tempo gostosa de se fazer, dando aquela sensação natural de nostalgia que a infância é capaz de render.

segunda-feira, 18 de abril de 2022

Muchas gracias, Cabezón!

“Não vai dar certo”.

Foi isso que pensei quando soube que o Internacional havia contratado Andrés Nicolás D’Alessandro, em julho de 2008. No auge da ignorância de meus 15 (quase 16) anos, eu sentia que o argentino não deixaria grandes marcas com a camisa colorada. Um sentimento que acredito ter sido resultado não só da citada ignorância, mas também do fato de na época eu ter visto alguns estrangeiros em ação pelo clube e depois acabarem indo embora sem deixar muitas saudades no torcedor, como o paraguaio Diego Gavilán e o colombiano Fabián Vargas.

Mas logo em seus primeiros meses D’Alessandro ajudou o clube a vencer uma Copa Sul-Americana, e a cada jogo ele mostrava ser um jogador diferenciado. Podia ter um temperamento difícil, que o tornava alvo fácil das provocações de adversários e o fazia bater de frente com os árbitros, resultando em reclamações excessivas e até expulsões. Mas com a bola no pé ele era um craque, desnorteando rivais com passes, gols e dribles (sua “la boba” provou-se algo que beira o infalível). E o cara ainda exibia uma determinação admirável, de forma que ele pode não ter jogado bem em todas as partidas, mas certamente nunca lhe faltou vontade, o que só fortaleceu sua identificação com clube e torcida. Não à toa seus números em quase 15 anos com a camisa do Inter são coisas que não vemos todo dia: 529 jogos (segundo jogador que mais atuou pelo Inter, perdendo apenas para as 803 partidas de Valdomiro), 97 gols, 111 assistências, 12 títulos.

E sua despedida do futebol na noite de ontem foi com chave de ouro. É verdade que o Inter está longe de viver um grande momento, e nem fez uma grande partida contra o Fortaleza de Juan Pablo Vojvoda. Mas D’Alessandro provou que tem estrela, fechando sua trajetória fazendo um golaço, ajudando o time a vencer de virada o jogo e ganhando o carinho da torcida, dos companheiros e até mesmo do árbitro e de jogadores adversários, o que acredito que mostra o quanto ele era respeitado no meio do futebol. Aliás, além do gol e da vitória, o ídolo ainda tomou um cartão por reclamação, para não esquecer seu famoso temperamento. Ou seja, a despedida de D’Alessandro teve a cara de D’Alessandro.

Foi, enfim, uma noite merecidamente memorável para um ídolo. E por todas as alegrias e conquistas com a camisa colorada, digo apenas: muchas gracias, Cabezón!

Segue abaixo meu Top 5 de gols marcados por ele.

5) Internacional 5 x 3 Vasco (07/07/2013)

4) Internacional 2 x 1 Peñarol (06/04/2014)


3) Internacional 4 x 1 Grêmio (28/09/2008)


2) Internacional 4 x 1 Náutico (13/10/2013)


1) Internacional 3 x 1 Atlético-MG (13/05/2015)

sexta-feira, 8 de abril de 2022

O Clube do Crime das Quintas-Feiras

Já faz um tempinho desde que comentei sobre algum livro pela última vez. Então cá estou eu para falar um pouquinho sobre o livro mais recente que tive o prazer de ler.

Lançado em 2020, O Clube do Crime das Quintas-Feiras é o primeiro livro escrito pelo britânico Richard Osman, que pelo que soube é um apresentador de TV e comediante de muito sucesso no Reino Unido. Na história, Osman nos apresenta ao quarteto formado por Elizabeth, Joyce, Ibrahim e Ron, idosos que vivem em um retiro para aposentados e se reúnem todas as quintas-feiras para falar sobre casos policiais. Um hábito com o qual eles se empolgam ainda mais quando um empreiteiro local é assassinado, fazendo os quatro decidirem se envolver na investigação, para desespero dos policiais que lideram o caso.

A partir disso, Richard Osman concebe uma trama policial que equilibra bem o suspense comum do gênero e a leveza decorrente de seus protagonistas. Assim, O Clube do Crime das Quintas-Feiras consegue nos manter interessados em seus mistérios e reviravoltas ao mesmo tempo que diverte com a forma como a investigação se desenrola. E isso se deve em grande parte ao fato de Elizabeth, Joyce, Ibrahim e Ron serem figuras que podem parecer indefesas, mas que sabem utilizar isso muito bem para alcançar objetivos, revelando no processo uma sagacidade e uma energia que dão gosto de acompanhar.

Como thriller, O Clube do Crime das Quintas-Feiras não chega a ter grandes surpresas, mas a maneira como a história é contada somada a imensa simpatia do quarteto principal acabam fazendo o livro ser um verdadeiro deleite. E por conta disso, é bom ver que já temos novas aventuras protagonizadas pelos personagens. Richard Osman lançou no ano passado O Homem Que Morreu Duas Vezes e um terceiro livro já está a caminho para ser lançado ainda este ano. Mal posso esperar para reencontrar esse Clube.

segunda-feira, 21 de março de 2022

O Caso das Dez Baratinhas

Todo verão, Fulaninho e sua família brigavam. Não entre si, apesar de haver lá suas desavenças, mas sim contra seres indesejados. Por motivos que apenas a natureza explica e aceita, a casa de Fulaninho (em particular seu banheiro) tornava-se um lugar muito atraente para baratas. Seria a energia negativa? Seria a sujeira local? Ou os insetos simplesmente gostavam de azucrinar as pessoas que ali moravam?

Mas no verão atual a situação estava fora do normal. As baratas perderam a noção. Estavam ousadas. Ou talvez estivessem achando que faziam parte do filme Joe e as Baratas, onde elas são amigas do protagonista e muito bem-vindas na casa dele.


Um dia Fulaninho foi tomar banho e uma barata pousou em suas costas enquanto ele tirava as roupas. Acabou sendo trucidada sem piedade com um chinelo. Em outro momento, a irmã dele foi ao banheiro e se assustou, gritando por Fulaninho, que precisou parar de ver sua série na televisão para meter uma chinelada nas entranhas de outra barata inconveniente.

Dias depois, Fulaninho estava em seu quarto, sentado diante do computador jogando Fortnite online com os amigos quando uma nova barata apareceu, escalando cautelosamente a parede branca do aposento. Fulaninho foi obrigado a jogar o chinelo sujo na direção do inseto, colocando-o rumo ao encontro de seu Criador.

Mas nada fazia as baratas largarem o osso. Uma guerra aparentemente havia sido declarada. E infelizmente essa não era uma luta do tipo “se não pode vencê-las, junte-se a elas”. A última coisa que Fulaninho faria é dividir as trincheiras com seres de tamanha falta de educação. Uma hora elas apareciam no canto do box do chuveiro, em outra era em cima da pia, e depois embaixo da pia. Nem uma bomba de SBP as convencia de que ali não era o lugar delas.

Em pouco mais de um mês, Fulaninho já havia aniquilado dez parentes do vilão de MIB: Homens de Preto, um número que ele via como inédito para o curto período de tempo. Isso costumava ser mais ou menos o número de baixas de um ano inteiro. E em meio a uma batalha que ele não sabia se estava ou não chegando ao fim, nosso bravo guerreiro decidiu adaptar um famoso poema que podemos encontrar nas páginas de um clássico de Agatha Christie. Compartilho tais palavras abaixo.

“Dez baratinhas foram incomodar humanos enquanto chove;

Uma delas levou uma chinelada, e então sobraram nove.

Nove baratinhas queriam aparecer no Instagram pra ganhar biscoito;

Uma delas se distraiu e então sobraram oito.

Oito baratinhas sonhavam com mascar chiclete;

Uma delas se grudou numa goma e então sobraram sete.

Sete baratinhas adoravam subir paredes, mas eis

Que uma delas viu um gigante e então sobraram seis.

Seis baratinhas corriam com afinco;

Uma delas se perdeu das outras e então sobraram cinco.

Cinco baratinhas voaram atrás de novos ares;

Uma não bateu asas o suficiente, e então sobraram dois pares.

Quatro baratinhas desejavam a droga da vez;

Uma tragou altas doses de SBP, e então sobraram três.

Três baratinhas andavam no banheiro querendo lavar roupa suja;

O chinelo surpreendeu uma, e então sobraram duas.

Duas baratinhas andavam na cozinha sem noção alguma;

Uma delas foi encontrada, e então sobrou só uma.

Uma baratinha está a sós aqui, apenas uma;

Ela então abraçou a morte, e não sobrou nenhuma.”

sábado, 19 de março de 2022

Carta a uma recém-nascida

(Na última quarta-feira minha sobrinha nasceu. E eu resolvi escrever uma carta.)

Cara Isabela,

Enquanto escrevo estas palavras você provavelmente está dormindo ao lado de seus pais no hospital. Considerando que um dia também fui um bebê, arrisco dizer que você não lembrará de nada do que está vivendo neste exato momento. Você irá levar alguns anos até mesmo para ler essa carta. Mas o lado bom disso é que você realmente não precisa se preocupar com nada. Ao menos por enquanto.

Você chega como um verdadeiro encanto nessa família. Não há ninguém aqui que tenha olhado torto para você. Se houver, pode ter certeza que já cuidei da pessoa e ela não será mais um incômodo. Eu, por exemplo, tenho em vídeo o exato momento em que te vi e decidi instantaneamente que serei seu segurança (irei guardar o vídeo pro caso de você querer assistir futuramente). Pretendo ser para você o que Roy Kent é para a sobrinha dele em Ted Lasso, uma série que certamente irei lhe apresentar um dia. O que eu não sei é se você irá se encantar com o mundo em que você chegou, e escrevo essa carta porque espero te deixar mais ou menos preparada para o que você irá encontrar.

Esse mundinho aqui não é fácil de digerir. Admito que não sou um grande estudioso, mas posso te dizer que coisas ruins acontecem todos os dias, sem exceção, e podem atingir muitas ou poucas pessoas. Pessoas estas que, em sua vasta maioria, vivem lidando com obstáculos que as impedem de deitar a cabeça no travesseiro sem preocupações ao final do dia. Trata-se de um mundo muito injusto, infelizmente, e não há muita perspectiva de mudança. Como se isso não fosse o suficiente, ainda temos que lidar com problemas puramente pessoais que podem nos derrubar por mais bobos que possam parecer para os outros (espero que os seus pais reservem dinheiro para a terapia, porque você pode vir a precisar).

Mas esse mundo também é tão complexo que ainda assim pode ser que você goste dele. Ao longo dos próximos anos, pode ter certeza que você será preenchida de amor pela nossa família, descobrirá grandes e pequenos prazeres, conhecerá uma série de outras pessoas que chamará de “amigues” (com quem deverá ter muitas alegrias) e viverá muitas coisas. Terá sofrimento no meio do caminho? Certamente que sim. Mas saiba que você não precisa passar por nada dessas coisas sozinha e espero que tire o melhor proveito de tudo isso, já que no fim das contas todas as nossas vivências ajudam a formar o nosso caráter. E se eu tivesse que lhe dar uma dica agora, acho que diria para você tratar os outros como gostaria de ser tratada (a menos que estejamos falando de babacas, nesse caso apenas sorria e acene enquanto os manda longe mentalmente).

Mas por ora, apenas aproveite o momento sem preocupações e se permita ser altamente paparicada.

Do tio que te ama,

Toco

quarta-feira, 16 de fevereiro de 2022

Combo de spams

Como comentei uma vez por aqui, às vezes gosto de checar a caixa de spams no meu e-mail a fim de ver se há alguma coisa absurda que me divirta. Pois bem, nos últimos tempos tive alguns e-mails bem interessantes e nenhum pouco suspeitos. Compartilho eles logo abaixo. Aproveito para deixar um beijo carinhoso para Evelyne Fontaine, Samuel Manu, Frank Benson e Caroline Abade, cujas ofertas foram bastante tentadoras.

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Bom dia,

Entramos em contato com você por esta carta para informá-lo sobre a sua qualificação. Enviamos este correio eletrónico para informá-lo de que você é um beneficiário.

Você acabou de ganhar a soma de €882.000,00 Euros da nossa loteria. Você é a pessoa escolhida como vencedora na primeira categoria com quatro outras pessoas.

Antes de seguir a marcha do procedimento jurídico com o gabinete do advogado JEAN-LUC CRESCENCE, é pedido que se informe do nosso anúncio completo, conforme dito no PDF em anexo. Certifique-se de seguir as recomendações e não se esqueça de enviar-lhe todos os detalhes que pedem o arquivo, para você poder estar na posse do seu fundo nos próximos dias.

Clique no PDF para consultar, por gentileza, a nossa declaração em grande formato. LOTERIA INTERNACIONAL FRANÇA - PORTUGAL. Número do código - 0023-11 ISO-9001 de Advogados.

Esta escrita é do original português da Europa e se você não encontrar as pontuações sobre as letras como ^ e ç, por favor, desculpe-nos porque esta loteria pertence a todos os países que falam a língua portuguesa.

Agradecemos-lhe e pedimos-lhe que siga corretamente o nosso procedimento para a reclamar do seu prémio com o gabinete de estudo jurídico da loteria internacional.

Esta mensagem é escrita em francês e traduzida para o português, se você encontrar erros de ortografia na sua leitura, por favor desculpe-nos, o advogado fala língua francesa e é francês.

Por favor, respeite as instruções da nossa lotaria e manchas de colocar a sua confiança sobre o Advogado, para obter mais informações sobre o seu lote. Não hesite em confiar no nosso anúncio.

Isto não é nem um ‘spam’, nem um vírus.

Senhora EVELYNE FONTAINE, DIRETORA DE OPERAÇÕES.

Cordialmente, obrigado pela sua compreensão e o seu pedido seria bem ordenada pelo advogado.

DIREÇÃO GERAL (Da Lotaria Internacional)

Mantenha uma coisa, o advogado fala a língua francesa, escreve em português e em francês os procedimentos.

Obs.: Por razões de segurança, esta mensagem é estritamente confidencial.

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Bom dia,

Como você está hoje? Meu nome é Sr. Samuel Manu. Estou trabalhando em um dos maiores bancos aqui em Abidjan Costa do Marfim, na África Ocidental. Eu sei que isso pode soar como uma farsa para você por causa de muitas atividades acontecendo na internet hoje. Tenho a oportunidade de transferir fundos não reclamados $ 8.200.000,00 (Oito milhões e duzentos mil dólares) pertencentes a um de nossos clientes que morreu em um acidente.

Sem ninguém para reclamar o dinheiro que ele depositou em nosso banco, me instruiu como seu oficial de contas para apresentar um membro de sua família ao banco como beneficiário/parente mais próximo do fundo, para que possamos transferir fundos para sua conta bancária em seu país.

Concordo em dividir por 50% para você e 50% para mim. Também quero que saiba que não tem obrigação de aceitar minha oferta. Mas no caso de você estar disposto a fazer parte desta transação e estiver pronto para cooperar comigo para obter este fundo, você vai me enviar um e-mail de volta com os detalhes necessários abaixo. Seu nome completo, seu endereço, sua idade, seu número de telefone, sua profissão para me permitir apresentá-lo ao banco como o novo beneficiário/destinatário dos fundos. então vou te dar mais detalhes sobre essa transação e campos de sua participação.

Sinceramente,

Sr. Samuel Manu

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Saudações meu caro amigo,

Meu nome é Frank Benson, ainda estou esperando o seu resposta aos meus muitos e-mails não respondidos que eu enviado a você sobre seu parente falecido, que morreu antes de nós em nosso país por muitos anos e algo foi deixado para trás. Por favor confirme este e-mail para mais informações.

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Olá e saudações.

Por favor, perdoe-me por contatá-lo desta forma, eu sei que esta carta pode ser uma surpresa para você.

Meu nome é Sra. Caroline Ababe, sou do Sudão do Sul, quero que você me ajude em meus projetos de investimento, que pretendo em seu país.

Herdei algum dinheiro do meu falecido marido (US$ 7,4 milhões). Ele foi morto por rebeldes; os rebeldes atacaram nossa casa em Juba, no Sudão do Sul, e o mataram com dois de meus filhos. Fugi com meu único filho restante e vim para a Costa do Marfim, com a ajuda da agência de refugiados da ONU. O fundo foi escondido em um cofre e mantido em uma empresa de segurança na Europa, por segurança.

Vou apresentá-lo como meu falecido marido parceiro estrangeiro para a empresa de segurança, para a liberação do fundo (cofre) conforme planejado pelo meu falecido marido. Resolvi oferecer a você 25% do dinheiro total (sete milhões, quatrocentos mil dólares americanos) ou como podemos concordar.

Você também me ajudará a investir o restante em investimentos rentáveis; meu falecido marido viu que o Brasil é um país propício para investimentos, e por isso estou me esforçando para vir fazer os investimentos.

Estou aqui em um campo de refugiados, sem dinheiro, comida e amenidades, então, por favor, quero que aceleremos a liberação do fundo, para que eu possa ter vida novamente.

Eu quero que você saiba que este fundo e sua origem é 100% legal e verificado, tenho os documentos disponíveis agora comigo.

Eu aguardo sua resposta.

Obrigado.

Sra. Caroline Ababe