Escrever
nem sempre é fácil. Há dias que as palavras
surgem com mais naturalidade, mas acho que na maior parte do tempo elas se
mantêm escondidas, exigindo um grande esforço para encontrá-las. Muito por
conta disso esse blog está sem uma postagem nova há quase um ano (dediquei o
tempo de escrita nesse período quase que exclusivamente ao Linguagem Cinéfila, meu blog de cinema).
Mas
eis que um filho da mãe na internet alugou um tríplex na minha cabeça ao dizer
que “escrever é encaixar palavras”. E agora cá estou eu processando minha
indignação através da forma com a qual me expresso melhor e que, como já
mencionei algumas vezes, serve quase de maneira terapêutica.
“Encaixar
palavras” é uma forma muito ignorante de descrever a escrita. Dizer isso escanteia
todo o lado criativo de quem se considera escritor. Porque escrever não é um
quebra-cabeça onde as peças do texto já vêm prontas e exigem apenas que a gente
raciocine em que lugar cada uma vai. Escrever é um processo por vezes árduo onde
nos esforçamos para encontrar as palavras certas para deixar claro aquilo que desejamos,
seja ao contar uma história ou ao produzir uma crônica qualquer como essa que
você está lendo. Escrever até põe à prova possíveis inseguranças (afinal, será
que o que temos na cabeça é válido ou bom o bastante para ser exposto?), e a
busca pelas palavras certas nos coloca em batalha constante contra as palavras
erradas. E mesmo assim tem horas que o resultado fica longe de satisfazer o
autor, mas quem escreve sabe que isso faz parte do negócio.
E
exatamente por ter noção disso não consigo evitar de me indignar quando vejo alguém
não só falar do processo de maneira tão simplista, mas também fazer isso com o
objetivo de defender o uso de inteligência artificial na produção de textos.
Isso faz eu pensar cada vez mais que as pessoas, em nome de um maior comodismo,
aos poucos deixarão de lado tudo aquilo que manifeste a nossa humanidade.
Mas
isso talvez seja um assunto para outra ocasião.