(Inspirado
em um conceito real)
Porto
Alegre. Manhã de segunda-feira.
O
jovem repórter sai de casa para a redação. Havia começado a trabalhar no jornal
há poucos dias. Seu primeiro emprego na área após anos de estudo. Ficou
aliviado por sua mãe conhecer alguém que conhecia alguém que conhecia alguém
que sabia de um lugar que estava precisando – ou que ao menos queria dar uma
chance a um novato. Não era o melhor veículo, mas era um começo, e ele já estava
pegando as manhas do tipo de pautas que eram aceitas ali. Por conta disso, precisava
ter em mãos uma grande variedade de acontecimentos ou assuntos. E sabia que ao
menos um deveria ser um pouco mais específico que o normal para o agrado do
jornal.
Foi
o primeiro a chegar na redação. Era um hábito que estava se criando. A qualquer
momento um de seus colegas iria perguntar se ele dorme escondido em alguma das
minúsculas salas.
Editor-chefe
Barros chegou pouco depois. Como sempre cheio de energia e com sua caneca de
café em mãos.
“Então,
o que temos pra hoje?”, perguntou.
O
jovem repórter ainda ficava um pouco nervoso antes de falar. Precisou fingir que checava
seu caderninho para que não percebessem a pane em seu cérebro, que durou uns
dez segundos até ele finalmente abrir a boca.
“Teve
uma prisão noite passada na Zona Sul. A polícia de São Paulo estava atrás desse
cara há um tempo. Matou a namorada e vazou pra cá.”
Barros
passou a mão na testa.
“A
namorada era gaúcha?”, perguntou.
“Pelo
que pude apurar até agora, não”, disse o jovem repórter.
“Então
vamos pra próxima”.
O
jovem repórter olhou rapidamente suas páginas. Um colega entrou na sala nesse meio tempo
e olhou surpreso para ele e depois para Barros.
“O guri
dormiu escondido aqui?”, perguntou.
“Não”,
respondeu o jovem repórter antes de continuar. “Hoje está programado pra acontecer o
lançamento de um livr...”
Barros
o interrompeu.
“Ah,
estou sabendo disso. É daquele escritor carioca de suspenses. Se ele ainda
tivesse situado a história do livro aqui pela região a gente até poderia
cogitar. Mas não”.
O
colega aproveitou a deixa e largou uma sugestão.
“Tem
uns gaúchos fazendo excursão na Suécia. Todos devidamente pilchados. Combinei
de fazer uma reportagem com eles por vídeo-chamada. O que acha?”. A pergunta
foi puramente retórica.
“Opa,
manda ver”, disse Barros feliz da vida. “Aliás, vocês viram o amistoso do
Arsenal contra a Roma ontem? Tinha um cara com a camiseta do Inter na torcida. Seria
um feito conseguir um depoimento dele.”
Depois
dessa, o jovem repórter pulou direto pro último assunto que tinha. O único que sabia que
tinha chances de ir pra frente.
“Tem
uma hamburgueria aqui que se especializou em hambúrgueres de erva-mate”.
Barros
imediatamente pareceu interessado.
“Vai
lá e faz uma matéria completa, hein?”
2 comentários:
Ah, o bairrismo gaúcho
Teve uns gaúchos tentando fazer golpe de estado por aí, vai que o Barros se interessa...
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