quarta-feira, 24 de novembro de 2021

Leituras Recentes

Recentemente publiquei alguns textos por aqui comentando que consegui retomar meu hábito de ler, algo que encontrou sérios obstáculos durante a pandemia. E é bom poder dizer que o ritmo das leituras se mantém firme, o que faz eu crer que conseguirei comentar com certa regularidade o que ando lendo.

A começar por Os Sete Maridos de Evelyn Hugo. Escrito por Taylor Jenkins Reid, o livro nos apresenta a Evelyn Hugo, uma grande estrela de cinema que viveu o auge da carreira nos anos 1960 e atualmente vive reclusa. Mas a atriz não era famosa apenas por seu talento e beleza estonteante, tendo tido também uma vida amorosa conturbada, que incluiu sete casamentos. E quando está perto de completar 80 anos, Evelyn decide dar uma entrevista contando sua vida e a história desses relacionamentos, mas apenas se a entrevistadora for a jovem repórter Monique Grant.

À medida que Evelyn Hugo se abre ao longo da entrevista, vemos uma personagem fascinante e complexa, que constantemente se viu tendo que tomar decisões dificílimas (e nem sempre corretas) para crescer na vida e na indústria cinematográfica, com o livro aproveitando isso para abordar temas relevantes como machismo e preconceito. Ao mesmo tempo, Taylor Jenkins Reid pode até estar contando a história de uma estrela de cinema fictícia, mas faz isso certamente fazendo referência a estrelas reais que, em maior ou menor grau, precisaram (e precisam) esconder detalhes essenciais de suas vidas por medo de perderem o prestígio que conquistaram. A autora concebeu em Os Sete Maridos de Evelyn Hugo um livro que instiga o leitor não tanto pela trama, mas sim pelos personagens, nos mantendo curiosos com relação ao destino de todos. E espero conseguir ler outras obras da escritora em breve.

Tendo terminado esse livro, parti para um clássico da ficção científica, Fahrenheit 451, obra na qual Ray Bradbury nos apresenta a uma distopia onde livros são proibidos e queimados por bombeiros. Um desses bombeiros é Guy Montag, que se rebela contra esse sistema autoritário.

É uma trama fantástica, repleta de momentos tensos quando foca os embates do protagonista e seus esforços para preservar os livros que encontra, sendo que Ray Bradbury desenvolve suas ideias de um jeito que não deixa de ser bastante pé no chão. No processo, o autor acaba fazendo uma espécie de homenagem a Literatura e a Arte de modo geral, afirmando como tudo isso é essencial não só em termos de conhecimento humano, mas também para a nossa formação como indivíduos racionais e empáticos.

E para encerrar esse post literário, nada melhor que um bom exemplar de meu gênero favorito. Nesse caso, a bola da vez foi As Musas, novo thriller de Alex Michaelides, autor que já havia me agradado com sua estreia, A Paciente Silenciosa. Dessa vez, Michaelides conta a história de Mariana, psicóloga que ainda sofre com a perda do marido, Sebastian, falecido um ano antes. A sobrinha dela, Zoe, estuda na mesma universidade em que ela se formou. E é lá que ocorre o assassinato de Tara, a melhor amiga de Zoe. Mariana acaba se envolvendo na investigação, sendo que suas suspeitas a levam a um professor famoso da universidade, Edward Fosca.

A narrativa concebida por Alex Michaelides demora um pouco para engrenar, já que ele gasta um bom tempo estabelecendo os personagens e todo o contexto da história. Mas isso acaba sendo recompensador. Ainda que pontualmente dê atenção a uma subtrama descartável envolvendo um paciente de Mariana, durante a maior parte do tempo o autor prende nossa atenção com os mistérios que apresenta, além de conseguir manter a imprevisibilidade de tudo até os momentos finais. Aliás, é preciso dizer que a reta final de As Musas é seu ponto alto, com as coisas ficando realmente eletrizantes e tornando o livro impossível de largar.

Em suma, foram três belas leituras. Espero retornar com novos comentários literários em breve, ainda mais considerando que a Feira do Livro de Porto Alegre rendeu bastante para minha biblioteca particular.

segunda-feira, 22 de novembro de 2021

A Caixa do Juízo Final

Há quem nunca lembre de seus sonhos quando acorda. Há quem lembre vagamente. E há quem sonhe coisas bizarras, lembre de alguns detalhes e então compartilha com as pessoas em um blog. Acredito que eu pertença a este último grupo.

Lá estava eu em meu canto assistindo a um filme. Qual filme? Não sei dizer, já que era uma produção que nem existe no mundo real. Uma obra completamente aleatória, criada com muitos detalhes de filmes que já vi. Mas irei chamar de “A Caixa do Juízo Final” porque precisamos de um título.

A Caixa do Juízo FInal basicamente trazia o Juiz Dredd, o famoso personagem das HQs (interpretado no cinema de maneira esquecível por Sylvester Stallone e memorável por Karl Urban), em uma de suas missões. Aparentemente, ele e mais alguns ajudantes precisavam tirar algo de uma caixa poderosa que se encontrava em uma caverna abandonada, um cenário que parecia ter saído diretamente das aventuras de Brendan Fraser em A Múmia. Caso a missão fracassasse, a caixa se fecharia para sempre e... Bem, acho que uma coisa muito ruim aconteceria considerando que havia uma grande tensão envolta de tudo aquilo. Ao menos foi isso que entendi do filme cujo começo eu não lembro.

Eis que Dredd e seus coleguinhas arrancam o que quer que estivesse dentro da caixa, algo que obviamente acontece quando ela estava prestes a se fechar. No entanto, a caixa não guardava um mero objeto especial, mas sim algum ser muito estranho e que não parecia humano. Com seus tentáculos e aparência viscosa, parecia um alienígena cujo nascimento foi testemunhado por Will Smith e Tommy Lee Jones em MIB: Homens de Preto.

Apesar de lembrar de vários detalhes que compuseram esse sonho, não posso dizer que sei o que aconteceu depois daquilo. O que posso dizer é que Florence Pugh, a atriz indicada ao Oscar e que recentemente estrelou Viúva Negra, estava no elenco desse projeto. E nos minutos derradeiros do filme, é revelado que ela não é exatamente o que parece, tendo sido possuída pelo tal alienígena de tentáculos.

Acho que terei que sonhar com a continuação para saber o que isso significa para o futuro da humanidade.

quinta-feira, 4 de novembro de 2021

Quando Fui Convidado Para Me Associar ao Império Illuminati


Um post para mostrar que de vez em quando é bom checar a caixa de spams no e-mail a fim de dar umas gargalhadas.

“Junte-se aos Illuminati!

Saudações do império da elite mundial Illuminati.

Trazendo os pobres, os necessitados e os talentosos para o holofote da fama, riqueza, poderes e segurança. Seja reconhecido em seus negócios, raça, prática, chegue ao topo em tudo o que fizer, seja protegido espiritual e fisicamente! Tudo isso você alcançará em um piscar de olhos quando for iniciado no grande Império Illuminati. Assim que for iniciado no Império Illuminati, você receberá diversos benefícios, como conhecimento, conexões e também um benefício em dinheiro de doação instantânea de US$ 1,5 milhão como uma recompensa por sua associação com a irmandade Illuminati.

Nota: esta mensagem de e-mail foi criada unicamente para o propósito de nosso esquema de recrutamento que terminará no próximo mês e esta oferta é apenas para alguns únicos. Se você não leva a sério a adesão ao império Illuminati, então é aconselhável não nos contatar em tudo. Isso ocorre porque a deslealdade é altamente não tolerada aqui em nossa organização.

Você concorda em ser um membro da nova ordem mundial Illuminati? Se sim, então por favor, responda-nos em nosso e-mail de recrutamento direto. Por favor, certifique-se de que todas as suas respostas sejam enviadas diretamente para o e-mail indicado.

Nota: alguns provedores de e-mail colocam incorretamente as mensagens oficiais dos Illuminati em suas pastas de spam/lixo ou promoção. Isso pode desviar e excluir nossas respostas aos seus e-mails.

Os Illuminati”

sábado, 2 de outubro de 2021

Colocando Leituras em Dia

No último post que escrevi, falando sobre alguns livros de literatura policial, comentei que ler estava sendo algo difícil de fazer desde meados do ano passado. Seja pelas distrações que se tem em casa ou pela sensação ruim de confinamento durante a pandemia (situação que me impossibilitou de fazer coisas que gosto, como por exemplo ler no transporte público), ter vontade de pegar um livro e se concentrar nele parecia o equivalente a escalar o Monte Everest. 

Pois bem. Não sei dizer se foi a terapia, se foi o fato de minha amiga Mila Marcet ter começado a falar sobre livros no Instagram (me incentivando por tabela) ou se foi alguma empolgação com o último post. Mas aparentemente o foco na leitura retornou nos últimos dias, o que fez eu finalmente encerrar O Iluminado e ainda ler em poucos dias o thriller A Garota do Lago, de Charlie Donlea.

E quando digo “finalmente” encerrar O Iluminado, é finalmente mesmo. Afinal, as dificuldades que citei anteriormente fizeram com que eu levasse mais de um ano para terminar a obra clássica de Stephen King, mesmo ela ficando longe de ser uma leitura ruim. Aqui vemos a história de Jack Torrance, escritor e ex-professor que começa um trabalho como zelador no Overlook Hotel no período de inverno, quando o lugar fica inabitado. Tendo apenas a companhia de sua esposa Wendy e do filho pequeno deles Danny, cujas misteriosas habilidades psíquicas o tornam alguém chamado de “iluminado”, Jack aos poucos descobre o passado assustador do Overlook, cujos fantasmas passam a influencia-lo da pior maneira possível e a amedrontar sua família.

Stephen King pode até perder um pouco a noção do ridículo em alguns momentos (admito que ri quando arbustos em forma de animais começam a ganhar vida e atacar os personagens), mas no geral concebe uma narrativa que raramente dá espaço para que nos sintamos tranquilos quanto a seu desenrolar. E elementos não faltam para causar essa inquietação. Além da inospitalidade do Overlook e seus fantasmas, temos também um protagonista alcóolatra e instável, contribuindo para a imprevisibilidade da trama (e isso vale mesmo para quem, como eu, assistiu o clássico filme de Stanley Kubrick, já que o diretor modificou vários rumos da história). Stephen King concebe tudo isso enquanto desenvolve personagens interessantes, e nosso envolvimento com eles potencializa o terror ali presente.

A Garota do Lago se revelou uma experiência frustrante. Como já falei, literatura policial em geral é o tipo de história que mais gosto de ler, mas Charlie Donlea mostra-se disposto a encher sua trama com o que há de pior no gênero. A trama basicamente mostra o assassinato da jovem estudante Becka Eckersley na pequena cidade de Summit Lake, um caso que choca as autoridades locais que nunca viram um homicídio ser cometido por ali. É então que conhecemos a jornalista Kelsey Castle, que é enviada para a cidade com o objetivo de investigar o ocorrido e escrever um artigo para a revista na qual trabalha, podendo no processo cicatrizar um trauma recente que sofreu.

Charlie Donlea estrutura o livro de forma a intercalar duas linhas temporais, uma focada em como vinha sendo a vida de Becka antes do assassinato e outra que mostra a investigação feita por Kelsey. Somando isso aos capítulos curtos e que terminam quase sempre em pequenos ganchos, o autor faz A Garota do Lago ser uma leitura difícil de largar, por mais que não traga nada de particularmente memorável. Porém, a barca de Donlea começa a afundar feio quando ele finalmente começa a solucionar os mistérios do livro, já que a partir daí ele mostra não ter sido muito honesto com o leitor durante o desenvolvimento da trama. É normal que uma história de mistério tente surpreender e pregar peças em quem a lê, o que é até prazeroso quando isso é feito de um jeito sutil, inteligente e coerente. Mas definitivamente não é assim que Donlea conduz as peças de seu quebra-cabeça, estabelecendo detalhes que servem apenas para nos enganar de maneira profundamente irritante.

De qualquer forma, devo dizer que fico feliz que o livro ao menos tenha me ajudado a retomar o ritmo de leitura. E espero conseguir não só manter os livros em dia, mas também comentar mais alguns deles futuramente aqui na minha Caixa de Sucata.

quarta-feira, 15 de setembro de 2021

Crimes e Investigações: Uma Dose de Literatura Policial

Quando criei esta Caixa de Sucata, o objetivo era ter um lugar em que eu pudesse escrever sobre qualquer coisa, sendo que uma das principais ideias era poder comentar alguns dos livros que leio. Com exceção de algumas histórias em quadrinhos, porém, isso foi algo que infelizmente não cheguei a fazer em momento algum desde que lancei este espaço no ano passado. O principal motivo para isso é a dificuldade que tenho tido de simplesmente focar, algo que nesses tempos de pandemia tem sido um grande problema (isso quando minha vontade não me direciona para outras atividades de lazer).

Mas mesmo com essa dificuldade, fiquei com vontade de escrever um pouco sobre alguns livros que gosto. Mais especificamente livros de thrillers policiais, gênero pelo qual tenho total adoração e que é o meu favorito. O que vocês lerão a seguir não se trata de uma lista de melhores obras do gênero, até porque ainda tenho muitos clássicos para ler antes de pensar em fazer uma lista desse tipo. Mas são livros que me empolgaram com as habilidades de seus escritores para criar tramas intrigantes.

O Assassinato de Roger Ackroyd, de Agatha Christie:

Agatha Christie é a minha escritora favorita. E O Assassinato de Roger Ackroyd é, por sua vez, meu livro favorito dentre os que foram escritos por ela. Aqui a escritora britânica constrói com elegância uma investigação envolvente, além de trazer aquela que na minha humilde opinião é sua melhor reviravolta. Narrado todo em primeira pessoa, o livro traz o grande Hercule Poirot saindo da aposentadoria a fim de investigar o assassinato de seu amigo Roger Ackroyd, tendo para isso o auxílio do Dr. James Sheppard, o narrador da história. E é melhor nem dar mais detalhes, já que uma das coisas mais divertidas dos livros de Agatha Christie é exatamente ver Poirot e outros personagens seguindo pistas, questionando tudo e todos, se deparando com grandes revelações e chegando finalmente a grande conclusão.

O Silêncio dos Inocentes, de Thomas Harris:

Segundo livro que Thomas Harris escreveu usando o canibal Hannibal Lecter como personagem central, O Silêncio dos Inocentes talvez seja mais conhecido pela adaptação cinematográfica lançada em 1991 (uma verdadeira obra-prima e que venceu cinco Oscars, incluindo Melhor Filme). Mas é bom lembrar que o livro original em si também é uma narrativa policial da mais excelente qualidade, colocando o leitor junto da jovem agente Clarice Starling, que recebe a tarefa de contatar Hannibal Lecter na prisão para que ele auxilie o FBI a capturar o serial killer Buffalo Bill. Thomas Harris concebe não só uma trama policial difícil de largar, mas também personagens absolutamente fantásticos, com os momentos de interrogatório entre Starling e Lecter parecendo um jogo de xadrez psicológico.

Apelo às Trevas, de Dennis Lehane:

Se Agatha Christie é minha escritora predileta, Dennis Lehane vem logo atrás. Nativo da cidade de Boston, onde situa quase todas suas histórias, o escritor é mais conhecido por Sobre Meninos e Lobos, Ilha do Medo (ambos renderam filmes brilhantes pelas mãos de Clint Eastwood e Martin Scorsese) e a série de livros protagonizada pelos detetives particulares Patrick Kenzie e Angela Gennaro, da qual este Apelo às Trevas faz parte. Aqui, Kenzie e Gennaro são contratados por uma psiquiatra para proteger ela e seu filho, além de tentar descobrir por que e por quem eles estão sendo ameaçados. E aos poucos nos vemos envolvidos numa história muito maior que o imaginado inicialmente, com Patrick e Angela se deparando com um mundo que impressiona por sua sujeira, imoralidade e brutalidade, algo que Lehane sintetiza muito bem na figura do vilão. Dito isso, posso até estar colocando apenas Apelo às Trevas nessa pequena lista, mas recomendo muito a série Kenzie/Gennaro como um todo.

Bom Dia, Verônica, de Raphael Montes e Ilana Casoy:

Bom Dia, Verônica foi lançado em 2016 como o primeiro livro da escritora Andrea Killmore. Na época já era sabido que se tratava de um pseudônimo, mas apenas em 2019 foi revelado que Raphael Montes e Ilana Casoy eram os responsáveis pelo livro. E que livro! A história é centrada na escrivã Verônica Torres, que resolve provar seu valor como investigadora ao encarar sozinha dois casos envolvendo violência contra mulheres e que estavam sendo deixados de lado na delegacia onde trabalha em São Paulo, casos estes que são capazes de revoltar e chocar em medidas iguais. Partindo disso, a obra de Montes e Casoy guia o leitor por uma narrativa muito bem amarrada, com Verônica se mostrando uma protagonista interessantíssima, não só por sua visão de mundo e sede de justiça, mas também porque sua falta de experiência como investigadora a deixa mais propensa a cometer equívocos, que por sua vez a tornam mais humana. Recentemente o livro foi adaptado pela dupla de autores como uma série na Netflix, e vale dizer que a produção faz jus ao ótimo material original.

quinta-feira, 9 de setembro de 2021

Level 2.9 Unlocked!

 

“Sabendo que ainda tenho uma longa jornada a percorrer e muitos objetivos a alcançar, dou boas-vindas ao Toco 2.8, e desejo a ele sorte para se manter em um bom caminho. E, se possível, espero que ele tenha um texto mais bem escrito quando a versão 2.9 chegar daqui a um ano.”

Foi assim que encerrei o texto que escrevi ano passado, quando completei 28 voltas ao redor do Sol. Achei curioso reler isso considerando que esse ano eu não escrevi nada quando o dia chegou. Muito por não estar lá muito inspirado. Mas na última terça-feira, dia 07 de setembro, enquanto alguns dementes saíam às ruas, eu cheguei ao nível 2.9 do jogo da vida. E se estou escrevendo algo agora não é para marcar a ocasião, mas sim para agradecer aos amigos, já que fui alvejado por mensagens de carinho como nunca fui antes.

Não que isso não acontecesse em anos anteriores. Mas dessa vez as mensagens foram mais numerosas e meus amigos se superaram. Tivemos mensagens de texto, tivemos mensagens de áudio, tivemos ligações e tivemos até mesmo vídeo cantando Happy Birthday (enquanto se dança funk, vale ressaltar). Posso não ter tido contato físico com nenhum deles, já que novamente comemorei meu aniversário em casa apenas com a minha família, mas ainda assim me senti abraçado. Não sei se mereço tanto, porém isso rende um sentimento bom, feliz.

Nem sempre acontece de eu ter um bom dia, sem estresses, mantendo um bom humor e podendo simplesmente me sentir de bem com a vida. Mas este 07 de setembro foi um desses bons dias e agradeço a todos que ajudaram nisso.

Que venham os 30.

segunda-feira, 9 de agosto de 2021

Saudade

Conversando com uma amiga recentemente, concluí que a melhor palavra (ou uma das melhores palavras) pra definir os últimos meses é “saudade”. Talvez esse seja o maior efeito que a atual pandemia provocou em mim, em um nível puramente pessoal.

Tenho saudade dos meus amigos e de visita-los sempre que possível.

Saudade de sair com eles por aí para beber e jogar conversa fora.

Saudade de ir ao cinema e passar o dia por lá, assistindo a três ou quatro filmes quando a programação permite. Aliás, saudades até do cheiro de pipoca que domina a entrada das salas, de tropeçar na escadaria enquanto procuro meu lugar e de ficar indignado com pessoas mexendo no celular durante a sessão.

Saudade de ir a uma cabine de imprensa e falar com meus colegas críticos de cinema.

Saudade de pegar uma cerveja numa barraquinha da Avenida Padre Cacique e ir bebendo a caminho do Beira-Rio, onde encontraria amigos para mais um jogo do Colorado (o momento do time pode não ser dos melhores, mas nós certamente ainda estaríamos lá dando uma força).

Saudade de ir a lugares como a Twin Video e a Zero Distribuidora, onde sempre encontro DVDs e blu-rays para agregar a minha querida coleção de filmes.

Saudade de pegar transporte público (ônibus, trem, lotação, o que for) e ir lendo algum livro até chegar ao meu destino.

Saudade de poder passear pelo Brique da Redenção.

Saudade da Feira do Livro de Porto Alegre, que possivelmente é o único evento que faz eu gostar de andar no meio de uma grande aglomeração de pessoas.

Saudade de ficar em casa por opção.

Enfim... Saudade. E espero que em breve seja possível suprir ao menos um pouco a falta que sinto de tudo isso.

E você, do que tem saudade?

quinta-feira, 5 de agosto de 2021

Vacinado

Foram pouco mais de 500 dias de espera. Um período de tempo marcado por muitos momentos de inferno astral e solidão, articulados em um constante sentimento de inutilidade, coisas que foram (e ainda estão sendo) combatidas por várias chamadas de vídeo com amigos, além de horas e horas gastas com jogos no computador. Isso quando não há obrigações para serem cumpridas. Mais de 500 dias, mas finalmente tomei a primeira dose da vacina para virar jac... Digo, vacina contra covid-19.

Claro, isso não quer dizer que automaticamente a pandemia se encerrou e, portanto, posso voltar a fazer tudo o que amo e que precisei deixar para trás há um ano e meio. Ainda há um longo caminho a ser percorrido. Mas mesmo que este tenha sido apenas o primeiro round, a sensação de alívio foi inevitável. Espero que seja um sinal de que o pesadelo está chegando ao fim.

E para não perder a chance ou o hábito, eis um poema.


Foi numa manhã de quarta-feira que acordei

Obstinado a ir até a vacina com a qual sonhei

Reencontrei na fila o grande Yuri

Amigo, nossos papos não há tédio que segure

 

Glorioso

E marcante foi o sentimento

No instante em que a vacina

Ostentou seu fundamento

Celebro assim o

Início do fim

Diante disso já aviso

“Aqui não, seu vírus maldito!”

sexta-feira, 16 de abril de 2021

Sonho Bizarro de uma Noite de Outono


Nem sempre tenho sonhos bizarros. Mas quando tenho, eles são lembrados em detalhes quando acordo. E às vezes podem ser compartilhados, como neste caso que ocorreu essa semana.

Eu estava na casa de um amigo como faria em qualquer outro momento não-pandêmico. Lá, por algum motivo, ele resolveu me dar os filmes que ele tinha para que eu pudesse incrementar minha coleção (para quem não sabe, eu tenho uma coleção de filmes em casa e talvez um dia eu escreva sobre isso). Entre os filmes estavam os blu-rays de Aladdin e os 40 Ladrões e A Nova Onda do Imperador, famosas animações da Disney que são dificílimas de encontrar no mercado de home video hoje em dia.

Foi então que resolvemos assistir a algum filme. Para isso, fomos até uma locadora. Isso mesmo, nada de Netflix (saudades de ir a uma locadora, aliás). Escolhemos dois filmes, sendo que um deles, por algum motivo, foi Esqueceram de Mim 2. A partir daí, os detalhes do sonho ficaram bizarros além da conta e é possível que talvez eu tenha tido dois sonhos e os misturei em um só na minha mente. O que lembro é que quando fui assistir a um dos filmes, repentinamente me vi em uma sala de cinema com várias outras pessoas e meu amigo havia sumido. Mas na hora não estranhei nada e procurei aproveitar o filme que era projetado na tela.

O filme, aliás, parecia ter um tema político e trazia Tom Cruise no elenco, interpretando um personagem bem parrudo e que visualmente lembrava o produtor Les Grossman, seu papel na comédia Trovão Tropical. A diferença, porém, foi que em determinado momento Cruise começou a tirar toda a maquiagem e enchimentos que o deixavam com aquele visual. Foi então que algumas pessoas que haviam se atrasado para a sessão começaram a entrar no local e alguém ali dentro ficava acendendo as luzes para ajuda-las. E como isso estava acontecendo com frequência, o projecionista parou o filme. Quando olhei para trás para checar a situação, me vi não em uma sala de cinema, mas sim em uma sala de aula com várias pessoas. A tela do cinema deu lugar a uma TV de tubo e o filme estava sendo rodado em um aparelho de DVD.

Mas como o filme havia sido interrompido, a TV estava sem sinal. Foi quando a professora ou diretora que estava na sala me chamou para tentar dar um jeito no problema, já que eu aparentemente era craque em consertar TVs sem sinal. Ao me aproximar, pude notar um áudio saindo direto do aparelho de DVD. Um áudio que concluí ser do Jornal Nacional. Apesar de não lembrar das palavras que estavam sendo faladas, lembro que William Bonner estava dando alguma notícia sobre o governo. Mas creio que não era nada muito animador.

Ao tirar o aparelho de DVD da tomada, uma fumaça começou a sair dele. Não deveria ser surpreendente, já que eu não sabia consertar nada mesmo. Mas imediatamente comecei a me preocupar com o disco que estava dentro do aparelho. “Vai estragar e vou ter que comprar o filme da locadora pra ela não ter prejuízo”, já imaginei. Como se a situação não pudesse piorar, quando olhei novamente para o aparelho ele estava em chamas e a professora usava um extintor para apagar o pequeno incêndio.

Após esse breve momento caótico, me vi de volta a minha casa, apesar de esta parecer mais o apartamento onde vivi com a minha avó durante muitos anos. Ali resolvi conferir os filmes que eu havia ganho do meu amigo. Ao abrir o estojo de Aladdin e os 40 Ladrões, me deparei com um disco quebrado, partido no meio.

Pelo visto, nesse sonho em específico, desgraça pouca era bobagem.

terça-feira, 6 de abril de 2021

Procura-se: Empatia

Ontem à noite, no Big Brother Brasil, o professor João Luiz fez um desabafo, rebatendo uma piada racista que o cantor Rodolffo fez no fim de semana. Rodolffo havia dito que a peruca desgrenhada de homem das cavernas que ele teria que usar no chamado “Castigo do Monstro” parecia o cabelo black power de João. Uma piada de mal gosto e que João não recebeu nada bem, tendo guardado o que pensou e o que sentiu para compartilhar de uma vez só no Jogo da Discórdia que o programa realiza ao vivo toda segunda-feira.

Desde então, vi muitas pessoas se posicionando em apoio ao João, que em seu desabafo disse uma série de coisas que estavam entaladas na garganta dele e de outras pessoas. Mas também vi muitos comentários questionando as palavras do professor. Pessoas falando que João resolveu trazer a situação para o Jogo da Discórdia de caso pensado, para militar e queimar Rodolffo. Pessoas tentando minimizar o assunto, porque João levou a sério demais, que ele deveria ter falado com Rodolffo já que se sentiu tão incomodado, que deveria ter explicado com calma ao cantor, porque Rodolffo não fez por mal.

É difícil engolir que esse mundinho onde vivemos tem tantas pessoas preparadas para julgar a dor do outro e para dizer, nas entrelinhas, que essa dor pouco ou nada importa. Pessoas que, em grande parte, pregam "amai-vos uns aos outros", mas na primeira oportunidade jogam o amiguinho embaixo do caminhão e dizem que a culpa é dele. Já a dor delas próprias... Ah, essa é válida e merece ser discutida.

Não sei exatamente qual seria o problema de João ter planejado fazer este desabafo no Jogo da Discórdia com antecedência, já que isso não torna o sentimento dele menos real e a piada racista de Rodolffo mais aceitável. E se tem algo que os últimos anos têm nos ensinado é que não se tolera o intolerável.

Mas às vezes só um belo "vão se foder" acalenta um pouco a indignação. Porque é exaustivo. E pra quem sofre isso na pele, imagino que seja ainda pior.

Empatia anda em falta.


sexta-feira, 26 de março de 2021

A Primeira Vez no Beira-Rio

Houve um momento em que olhei para o meu pai e disse a ele que eu seria gremista.

O ano era 2002. Nós morávamos em Bento Gonçalves, o Brasil havia acabado de conquistar o pentacampeonato mundial e o Inter lutava para escapar do rebaixamento no Campeonato Brasileiro, enquanto que o Grêmio vivia seus bons dias sob o comando de Tite (naquele ano, foram semifinalistas tanto no Brasileirão quanto na Libertadores). Neste contexto, no qual eu mal acompanhava futebol, alguns amigos da escola diziam que o Grêmio era melhor e que o Inter era horrível, o que admito ter feito um pouco a minha cabeça. Porém, quando falei ao meu pai que eu iria ser gremista ele logo me cortou. Mas não me importei nenhum pouco de continuar sendo colorado, até porque eu já estava mais do que acostumado a me identificar dessa forma.

Depois que voltamos a morar em Porto Alegre, algo que ocorreu no final daquele ano, surgiu a ideia de ir ao Beira-Rio assistir a um jogo, até porque eu havia começado a gostar muito de futebol (coloco a culpa disso nas famosas pedaladas de Robinho). Não lembro se a ideia partiu de mim ou de meu pai, mas ela certamente serviria para fincar meus pés no lado vermelho da Força. Tentando fazer a ideia sair do papel, sugeri que fossemos a um Gre-Nal, mas meu pai colocou uma condição superprotetora: a gente deveria ir num jogo que não envolvesse rivalidade. Ele achava que jogos assim tinham mais chances de rolar violência entre torcidas e não queria me ver nesse tipo de situação. Convenhamos, a preocupação dele não era descabida (mesmo hoje ela não seria).

Com isso em mente, eu vi passar na televisão o comercial do jogo do Inter contra o Remo (do Pará), que se enfrentariam pela segunda fase da Copa do Brasil de 2003. Seria o jogo da volta na disputa entre os dois clubes, com o Inter precisando reverter uma vantagem do Remo, que havia vencido o jogo de ida em Belém por 1x0. Se não me engano vi o comercial em um domingo e o jogo seria na quarta-feira à noite. Olhei para o meu pai e ele topou quase imediatamente.

Quando chegou o dia, lamentei não ter uma camisa do time para poder ir ao estádio. Mas coloquei uma camiseta preta comum e, junto com meu pai, saí de casa rumo ao Gigante da Beira-Rio (aliás, nessa época eu já gostava demais de poder chamar o estádio de Gigante). Chegamos lá depois de dois ônibus e uma breve caminhada, sendo que esta última parte do trajeto já fez eu ir curtindo aquele ambiente do jogo, vendo várias e várias pessoas de vermelho e branco indo para o mesmo lugar que eu e com o mesmo propósito. Na bilheteria meu pai comprou seu ingresso, momento no qual pude apreciar um pouco a vantagem de ser criança: eu entrava de graça.

Com ingresso da arquibancada inferior comprado, finalmente entramos no estádio. Foi então que, após a bela expectativa criada pela escada que dá acesso a arquibancada, me vi diante do campo e de toda a torcida, uma imagem que me encantou bastante. Até hoje, subir as escadas e dar de cara com isso é o meu momento favorito de ir ao Beira-Rio. Eu e meu pai nos ajeitamos no concreto da arquibancada enquanto mais torcedores chegavam e preenchiam os espaços do estádio. Nesse meio tempo, estava rolando um jogo no campo. Se bem entendi, o Inter permitia que torcedores marcassem uma partida amistosa antes do evento principal, algo que não se vê mais hoje em dia. E era divertido ver “pessoas comuns” se aventurando naquele gramado.

Terminado isso veio a hora do jogo e aos poucos me vi aprendendo a torcer. Sem nunca ter estado naquele ambiente, eu praticamente fui apenas imitando as coisas que eu via ao meu redor. Sendo assim, quando as escalações apareceram, aplaudi cada nome colorado que foi anunciado nos autofalantes do estádio e vaiei (timidamente) os nomes do time adversário. Durante a partida, me mantinha sentado durante lances desinteressantes, mas vi que podia me levantar quando havia uma chance de gol. Quando Daniel Carvalho pegava na bola e partia para o ataque, eu falava “Vai, Daniel! Vai, Daniel!” da mesma forma que um torcedor que estava próximo de mim falava, até porque Daniel Carvalho era o único jogador do Inter que eu sabia dizer quem era naquele momento. E pontualmente eu olhava para trás, já que acabei ficando preocupado após meu pai falar que torcedores têm o hábito de jogar copos de xixi nas pessoas que se encontram em pé mais à frente (até hoje nunca vi isso acontecer, mas era bom se precaver).

Já a partida em si eu lembro de ter gostado. Não foi um jogo chato de assistir, já que valia uma classificação para a fase seguinte da competição. Aos 27 minutos do primeiro tempo, o atacante André abriu o placar para o Inter. Mas aos 3 minutos do segundo tempo, Ivan empatou para o Remo, complicando mais a vida colorada. Ficamos na frente do placar novamente quando o zagueiro Sangaletti ganhou uma disputa com os defensores adversários, aos 19 minutos. Depois disso, vimos todas as grandes chances que criávamos pararem nas mãos do goleiro Ivair, que virou um paredão embaixo das traves (ao longo dos anos pude notar que isso acontece bastante com goleiros adversários no Beira-Rio). O jogo acabou 2x1. No placar agregado, 2x2, mas o gol feito fora de casa deu a classificação ao Remo.


A partida ocorreu no dia 26 de março de 2003. Ou seja, fazem exatos 18 anos que uma noite frustrante para o clube ainda assim foi empolgante para uma criança que fazia sua primeira excursão pelo Beira-Rio. Desde então, trocar de clube do coração nunca mais surgiu como opção. Sinto orgulho nas conquistas e tristeza nas derrotas, seja com os ouvidos grudados em um radinho, com os olhos atentos a uma televisão ou marcando presença no Gigante. E como diria um cântico da torcida: não importa o que digam sobre o Inter, sempre o levarei comigo.

terça-feira, 23 de março de 2021

Passeando por Bento usando o Google Maps

Frequentemente acho engraçado como minha cabeça funciona para guardar algumas informações e momentos completamente inúteis, enquanto outras mais importantes ou ficam meio de lado ou se perdem como lágrimas na chuva, como diria o replicante Roy Batty em Blade Runner. Mas recentemente me peguei diante de uma lembrança curiosa dos tempos em que morei na cidade de Bento Gonçalves e que não sabia que ainda estava guardada na minha caixola. Uma lembrança que pode ser resumida simplesmente a trajetos.

Morei em Bento Gonçalves por quase três anos, de 2000 até o finalzinho de 2002. A razão foi porque meu pai aviador conseguiu um emprego como piloto na cidade interiorana. Sendo eu apenas uma criança, foi uma mudança de ares triste inicialmente, já que deixei para trás amigos com quem eu estava crescendo quase como unha e carne e fui para um lugar completamente diferente, que eu nunca tinha ouvido falar e no qual não conhecia ninguém. No fim a tristeza foi bastante em vão, considerando que o período em Bento Gonçalves foi bem divertido e lembro dele de maneira bastante calorosa.

Mas, infelizmente, depois que voltei para Porto Alegre nunca mais coloquei meus pés em Bento Gonçalves. Não por falta de vontade, mas porque a vida simplesmente acontece e ao longo dos últimos 18 anos não tive uma oportunidade de voltar para lá e turistar um pouco. Dias atrás, porém, eu estava deitado em minha cama tentando pegar no sono quando comecei a me perguntar sobre lugares que frequentei na cidade. E foi então que acabei fazendo uma viagem usando o Google Maps.

A primeira pergunta que me fiz foi “Será que a locadora onde eu ia ainda existe?”. Tal locadora, como vim a lembrar pelas pesquisas, se chamava Solar Games e ficava na Galeria Solar, próxima do Colégio Aparecida, onde eu estudava. Era ali que eu costumava não só alugar filmes e jogos para passar o fim de semana, mas também ir jogar videogame por uma ou duas horas de vez em quando. Pois bem, infelizmente não consegui descobrir se a locadora ainda existe, até porque o Google Maps não permite entrar nos lugares. Mas suponho que ela tenha tido o mesmo destino da maioria das locadoras nos últimos anos, já que não encontrei registro algum na internet.

Mas minha viagem não parou por aí. Depois de ficar diante da galeria resolvi ver como é a fachada do Colégio Aparecida. Desci pela Rua Ramiro Barcelos e logo fiquei diante da escola, que pelo que entendi construiu uma espécie de secretaria no lugar por onde os alunos costumavam entrar nos anos em que estudei lá, mudando a entrada principal para o estacionamento (colegas de Bento, se estiverem lendo isso, fiquem à vontade caso queiram explicar melhor o que mudou ao longo dos anos depois que fui embora).

No entanto, essa pequena brincadeira tomou um rumo inesperado quando me fiz uma pergunta mais específica: será que depois de quase 20 anos eu ainda sei o caminho da escola até o condomínio onde morei?

Aqui acho bom explicar um detalhe. Uma das vantagens que tive morando em Bento Gonçalves foi o fato de todas as andanças que fiz pela cidade terem sido a pé. Os lugares que frequentei ao longo daqueles anos não ficavam tão longe da minha casa, de forma que nunca precisei pegar um ônibus como normalmente me vejo fazendo aqui em Porto Alegre (digo “normalmente” porque já faz quase um ano que a pandemia faz eu evitar pegar transporte público). Sendo assim, eu fiz o caminho entre a minha casa (na Rua Góes Monteiro) e a escola (na Ramiro Barcelos) centenas de vezes ao longo de quase três anos. Mas mesmo assim fiquei em dúvida se eu ainda saberia esse caminho, o que rendeu um desafio interessante.

Dessa forma, saí do Aparecida na Ramiro Barcelos e dobrei a esquerda na Avenida Júlio de Castilhos. E segui reto por um bom tempo, até chegar a Igreja Metodista. Eu sabia que indo um pouco mais adiante eu encontraria o supermercado Apolo, que tanto frequentei com a família. Eu imaginei que alguma outra rede de supermercados poderia ter assumido o lugar do Apolo, mas ele se manteve firme ali ao longo desses anos. Chegando ali, eu ainda sabia que, se eu subisse a Rua Cavalheiro Horácio Mônaco, estaria a meio caminho de casa.

Porém, ao final da quadra me vi quase diante de uma encruzilhada. Eu sabia que deveria dobrar a esquerda, mas não lembrava se deveria ir pela rua de baixo ou pela rua de cima. Num pequeno chute, optei por ir por esta última. Entrando ali, segui reto até ver se encontrava algum prédio cinza que tivesse algumas lojas ao redor e um piso de tijolos na entrada.

Notei estar no caminho certo quando passei diante de um posto Ipiranga, que talvez seja a única referência que lembro dentre todas as coisas próximas da minha casa. Inclusive, lembro que meu pai tentou me ensinar a andar de bicicleta em uma área do posto (infelizmente acabei desistindo de aprender depois de uma queda feia). E eis que andando mais um pouco encontrei o edifício, que ainda estava com o mesmo piso de tijolos escuros ao redor, mas agora contava com um portão branco na entrada (pelo que lembro, o portão nos meus tempos era preto).

No entanto, comecei a ter dúvidas se era mesmo o lugar certo, já que eu estava na Rua Saldanha Marinho e não na Góes Monteiro. Olhando o mapa, vi que a Góes Monteiro era a rua que ficava atrás do edifício. “Será que a prefeitura trocou as ruas de lugar?”, pensei. Um pensamento que talvez não tenha muito sentido, mas peço que me deem um desconto porque era madrugada e o sono estava chegando. Foi então que lembrei que estava tudo certo. A Góes Monteiro era a rua do estacionamento do prédio, enquanto que a entrada principal ficava mesmo na Saldanha Marinho. Como os carteiros não se confundiam para encontrar as caixinhas de correspondência dos moradores é algo que ficarei me perguntando.

O desafio foi concluído com sucesso. Aparentemente, é difícil esquecer um caminho feito tantas vezes. Mas o que foi legal nesse pequeno passeio não foi provar que minha memória continua relativamente boa, e sim lembrar de um período divertido em uma cidade que me deu boas lembranças. Quem sabe depois da pandemia ocorra de fazer uma visita pessoalmente? O futuro dirá.

sábado, 20 de março de 2021

Versos de Atenção


Férias tão necessárias me levaram a um lugar
Onde mistérios, diversão e
Risos me 
Aguardavam

Bebi umas e
Outras quando ninguém estava vendo e, de tão maluco,
Lambi o corrimão da escada
Só faltou vomitar na piscina enquanto os
Outros ali 
Nadavam
Após o sol raiar
Rumei em direção ao
Oeste, lugar pouco frequentado, quase deserto

Graças a um andarilho
Encontrei o que eu almejava
Nada muito gratificante, mas
Os meus antepassados muito agraciaram
Com certeza você está lendo
Isso e notando que nada aqui faz muito sentido
De forma que pergunto: você prestou bastante
Atenção no que aqui está escrito?

segunda-feira, 1 de março de 2021

Viagem Universitária


Nem sempre lembro de datas importantes na minha vida. Ano passado até cheguei perto de esquecer de meu aniversário. Mas quando lembro de pequenos momentos históricos, geralmente eles representam o início de alguma etapa que veio a ser parte integral de quem eu sou. Hoje, por exemplo, me ocorreu que há exatos dez anos eu pegava um ônibus em Porto Alegre e ia até Canoas, na Região Metropolitana, a fim de ter a minha primeira aula na faculdade.

Como falei neste espaço em outras ocasiões, cursei Produção Audiovisual na ULBRA, tendo me formado em 2015. Ironicamente, a primeira aula que tive pouco teve a ver com cinema ou televisão, já que era uma disciplina de marketing (uma das cadeiras obrigatórias da universidade). De qualquer forma, considerando o nervosismo e as dúvidas quanto ao que aquele local estaria me reservando nos anos seguintes, aquela aula serviu quase como arrancar o band-aid de uma vez só, me deixando relativamente confortável com aquele ambiente universitário.

Eu não fazia ideia, mas a partir daquele dia eu iniciava uma etapa que, mesmo repleta de altos e baixos, veio a contribuir muito com minha formação como ser humano. Ao longo de todo o curso, conheci uma gama de pessoas que ocupam um espaço especial em minha vida até hoje, desde colegas até professores (como de costume não citarei nomes, mas elas sabem quem são). Graças a essas pessoas, essa viagem universitária rendeu (e ainda rende) memórias divertidas, parcerias profissionais e ótimas piadas internas.

Para ilustrar um pouco as experiências que tive na ULBRA, coloco aqui uns trabalhinhos que fiz ou sozinho (a animação em stop motion) ou com meus colegas (os três vídeos restantes) e que encontrei no meio das bagunças da minha casa. Talvez eu deixe amigos embaraçados por compartilhar essas coisas, mas ninguém mandou eles me deixarem com cópias desses trabalhos.

O primeiro curta-metragem:



Stop motion com Max Steel:



Alerta para salas de cinema:



Pequeno tributo a Breaking Bad:

sexta-feira, 26 de fevereiro de 2021

A Dança Pelo Brasileirão: O Final


Chegou ao fim o Campeonato Brasileiro 2020, o que faz com que eu sinta a necessidade de complementar o pequeno conto que escrevi ao final do primeiro turno da competição. Lembrando que na história os clubes são representados por seus mascotes em uma disputa na pista de dança.

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Logo após a 20ª rodada da competição, o Saci (Internacional) escorrega e vai ao chão, enquanto que o Urubu (Flamengo) tropeça nas próprias pernas. Santo Paulo (São Paulo), que dançava e observava a cena a alguns metros de distância ao lado de Guerreirinho (Fluminense) e Peixe (Santos), aproveita a situação e passa a dominar a pista.

“Eu falei que eles iam se enrolar sozinhos”, grita Santo Paulo.

Apesar da falha, o Urubu ainda consegue se levantar com certa rapidez, mantendo seu ritmo na pista aos trancos e barrancos. Mas o mesmo não pode ser dito sobre o Saci, que se encontra atordoado e emocionalmente abalado. A situação chega a ser desesperadora. Na preferência dos jurados que estão distribuindo as notas para cada competidor, Saci chega a ser ultrapassado por Galo (Atlético-MG), Guerreirinho, Porco (Palmeiras) e Peixe, de forma que a disputa parece ter acabado para ele. Até mesmo seu grande rival, o Mosqueteiro Gaúcho (Grêmio), parece estar mais disposto a dançar.

Enquanto isso, nos cantos da pista, ocorre uma briga para ver quem dança pior na competição. Uma disputa centrada em Periquito (Goiás), Almirante (Vasco), Super-Homem Tricolor (Bahia), Vovô Coxa (Coritiba), Leão do Recife (Sport) e Manequinho (Botafogo). O Leão Massa Bruta (Bragantino) até parecia querer entrar na briga com eles. Mas, após beber um bom energético, ele ganha um gás impressionante e passa a fazer movimentos que deixam os juízes de cabelo em pé. Mesmo não chegando ao centro da pista para se destacar em toda sua plenitude, Massa Bruta passa a ter seu estilo e seu ritmo admirados por todos, fazendo adversários teoricamente melhores terem que se superar para impedi-lo de roubar a cena, sendo que alguns falham nisso miseravelmente.

“Imaginem se ele tivesse dançado assim desde o início”, diz um dos membros do júri para seus colegas.

Vendo que sua dança está bem melhor que a de seus adversários, Santo Paulo resolve fazer uma pausa para ir ao banheiro. Lá ele até encontra o Manequinho em um dos mictórios. Aliás, Manequinho não sabia naquela hora, mas perderia tempo demais naquele local, de tão carregada que estava sua bexiga, o que o faria ficar atrás de todos seus adversários de maneira irrecuperável.

É então que, para a surpresa de todos, o Saci finalmente se recupera de sua crise emocional e passa a fazer alguns dos melhores passos da competição, chegando a parecer imbatível. Ele até volta para o centro da pista para disputar a preferência dos jurados. Quando Santo Paulo finalmente retorna de sua pausa, ele mal parece acreditar que está no centro da pista ao lado de um adversário que parecia ter desistido. Sua incredulidade é tanta que ele acaba sendo humilhado pelos passos do Saci, que domina com estilo surpreendente aquela pista, enquanto Urubu e Galo se esforçam para superá-lo.

E assim as coisas permanecem durante algumas boas rodadas e tudo dá a entender que ninguém conseguirá tirar o posto do Saci. Galo e Santo Paulo falham demais em seus passos e ficam pelo caminho. Mesmo se fizessem a dança de suas vidas não conseguiriam conquistar os jurados, que passam a focar apenas no Saci e no Urubu.

No entanto, chegando mais perto do final da competição, logo quando as coisas parecem estar se definindo, o Saci fica sem energias. Seu emocional parece ser derrotado pelo cansaço. Até mesmo o Leão do Recife chega a superá-lo em uma pequena briga em determinado momento. Enquanto isso, o Urubu parece ainda ter um pouco de gasolina em seu tanque, engrenando seus passos e finalmente pegando o centro da pista só para si.

Mas em uma competição dominada pela irregularidade, com participantes que constantemente parecem não ter forças suficientes ou simplesmente não estão muito a fim de ganhar, até o próprio Urubu chega ao final entregando os pontos. Ele olha imediatamente para o Saci, o único adversário ainda capaz de roubar seu posto na pista e vencer de vez a disputa.

“Acho que essa competição é sua, Saci. Aproveite!” – diz o Urubu, que de tão cansado quase não respira direito.

Para sua sorte, porém, o Saci não consegue mais dançar.

“Não tenho mais forças” – diz o Saci.

Neste momento os jurados acionam o alarme, marcando o fim da competição.

Eles correm para o centro da pista e encontram os participantes exauridos. Mas mesmo tontos após 38 rodadas de dança, quase todos os competidores reclamam que seus adversários foram favorecidos em determinados momentos da competição e que esta acabou não sendo justa. Mas para os jurados isso pouco importa e eles sagram um exausto Urubu como campeão de dança pela segunda vez consecutiva. Ao Saci, resta a frustração de quem teve a chance de vencer, mas não aproveitou. Já para Periquito, Almirante, Vovô Coxa e Manequinho, resta a lamentação de quem dançou tão mal que acabou fora da pista.

Mas todos sabem de uma coisa: na temporada seguinte haverá mais dança e, certamente, eles terão que evoluir para ter uma participação melhor.

quinta-feira, 21 de janeiro de 2021

O Fruto Não Cai Muito Longe do Pé

Eu acho que tinha uns 12 ou 13 anos. Juventude e Inter se enfrentavam no estádio Alfredo Jaconi, em Caxias do Sul. Eu assistia a partida pela televisão junto com meu pai, como de costume. Devia ser um jogo válido pelo Campeonato Gaúcho, mas para falar a verdade não lembro exatamente qual era a competição. Nessa época, quando eu ainda estava iniciando meus passos como torcedor, havia algo na forma como meu pai torcia que me incomodava. Ele gritava, xingava, esperneava, reclamava de tudo. Se irritava com nossos jogadores e com a arbitragem, não importava o tamanho do jogo ou a competição. Nessa partida em específico, eu não aguentei muito aquela forma de torcer. Quando reclamei, meu pai retrucou veementemente dizendo que aquela era a forma de se torcer. Ainda assim não gostei, e preferi ir para o quarto.

Corta para 2021.

O Inter enfrenta o São Paulo no estádio Morumbi. Mais uma vez, eu e meu pai estamos em frente a televisão, sintonizados na partida. Inicialmente, eu estou nervoso e ele bastante tranquilo, já que absorveu a confiança do time logo nos primeiros minutos. Ao final da partida, estamos ambos radiantes e incrédulos diante da vitória acachapante do Inter: 5x1 com direito a hat-trick do jovem Yuri Alberto e liderança do Campeonato Brasileiro retomada. Mas durante a partida não pude evitar de lembrar daquela ocasião de 15 anos atrás. Afinal, durante o jogo eu e meu pai gritamos, xingamos, esperneamos, reclamamos. Vibramos com cada gol como se a nossa sala fosse o próprio Beira-Rio. Sim, eu fiz tudo isso junto com ele. Aparentemente, o fruto não cai muito longe do pé mesmo.

Se o Inter conseguirá se manter na liderança é algo que ainda vamos ver. Mas de qualquer forma agradeço pelo resultado histórico e pela memória.