Os últimos meses têm sido
difíceis para o mundo inteiro. Pra algumas pessoas mais que pra outras. A
pandemia do novo coronavírus acabou com planos, rotinas e causou uma verdadeira
tragédia no sistema de saúde dos países afetados (nosso Brasil sendo um dos principais
deles, já alcançando quase 140 mil mortos no momento em que escrevo este post).
Se você está lendo isso e é um ser humano minimamente responsável, você deve estar
passando esse período majoritariamente em casa, saindo apenas quando
necessário, não encontrando amigos ou familiares e talvez esteja se sentindo um
tanto isolado, se indignando com o noticiário e com pessoas que não levam a
atual realidade a sério. Ficar em casa tem sido uma das principais formas de
evitar uma maior proliferação desse vírus maldito, sendo um exercício de
compaixão para com profissionais de saúde e quaisquer outras pessoas que
estejam sofrendo por conta da pandemia. No entanto, ao ficar em casa também nos
vemos enfrentando coisas não muito agradáveis e usarei o post de hoje para
falar sobre uma delas: a hell zone.
É natural que todo mundo passe
por dias ruins, mas a hell zone (ou “zona do inferno”, na tradução
literal) é algo diferente. Vi a expressão pela primeira vez tempos atrás,
quando por acaso me deparei com um comentário do comediante americano Dan
Sheehan, e desde então tenho a usado com amigos para descrever um período em
que ficamos meio desligados. Por “desligados” não quero dizer distraídos, mas
sim desligados mesmo, sem energia.
A hell zone surge repentinamente.
As coisas estão indo bem, os dias estão tranquilos dentro do possível, mas de
repente... Boom, entramos numa espécie de baixo-astral. Na hell zone, há
tarefas para serem realizadas, porém não há nenhuma motivação. Pode haver uma
vontade de fazer alguma coisa, mas não se sabe o quê. Ficamos tristes,
melancólicos e mal humorados, porém nada de especificamente ruim aconteceu para
que nos sintamos assim. É uma sensação de pura inutilidade que simplesmente
chega, nos assombra por um determinado período (pode ser alguns dias) e depois
vai embora como se nunca tivesse estado ali, finalmente nos permitindo voltar
ao normal. Ao menos até ela retornar e começar tudo de novo.
Não acho que a hell zone
seja um tipo de depressão, mas pode ser que ela seja um sintoma. Na verdade, ela
pode muito bem sempre ter estado conosco em maior ou menor grau, mas
provavelmente o ato de ficar em casa durante a maior parte do tempo tornou ela
um pouco mais perceptível, já que ficamos todos muito mais concentrados no
nosso próprio espaço, não tendo para onde fugir. Particularmente falando, já
tive um bom número de hell zones ao longo dos últimos seis meses, de
forma que estou escrevendo esse post quase como uma forma de terapia. E por
experiência própria, afirmo que a hell zone é uma merda, acabando com
nossa produtividade exatamente quando mais precisamos nos sentir produtivos.
Mas por mais que a hell zone goste de nos deixar isolados, falar sobre ela é uma maneira interessante de lidar com as sensações que ela desperta. Podemos até nos sentir inúteis, mas não precisamos nos sentir inúteis sozinhos, seja durante uma hell zone ou durante uma pandemia.
2 comentários:
Nos últimos meses esse tipo de situação tem sido frequente para muita gente que conheço. Outros parecem mais irritados, ou atacam comida e bebida alcoólica para compensar. Está sendo um ano muito duro em vários níveis, mas compartilhar experiências ajuda a lidar com elas. Vemos que por mais estranhos, não estamos sozinhos.
Quando você usou esse termo para mim me senti tão representada. E importante saber que outras pessoas também não estão lidando tão bem assim com esse período estranho e difícil.
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