quinta-feira, 31 de dezembro de 2020

2020: O Ano Que Inexistiu

"Há um ano recebíamos o convite

O convite para 2020

Mas um ano após ter aceitado tal convite

Creio que qualquer um admite

Que imaginava qualquer coisa para 2020

Menos que ele fosse ser um inferno sem limites"

Eu pensei em falar de 2020 através de um poema, mas meu estoque de criatividade não é grande a esse ponto. Os versos acima foram os únicos que consegui bolar. Gostaria de poder chegar aqui hoje e dizer que esse foi um ótimo ano, repleto de realizações e de experiências ricas, mas isso seria papo furado. Afinal, ao menos pra quem vive no mundo real, não foi possível viver 2020. Ao invés disso, foi necessário ficar trancado dentro de casa pela maior parte do tempo e mantendo contato à distância com familiares e amigos. Essencialmente, 2020 acabou em março.

Desde então o tempo parece brincar com nossas percepções (janeiro e fevereiro parecem ter acontecido há anos) enquanto que todo dia se mostrou um novo dia para ficar indignado e triste com notícias na TV ou na internet.

Mas por mais que eu fique reclamando de 2020, é claro que ele não teve culpa de nada disso. As pessoas é que vão formando a maneira como um ano será lembrado. 2020 apenas deu azar que muitas pessoas parecem ter decidido de vez por se deixarem levar pela falta de noção, pela ignorância e pelo ódio. E quando isso não nos indignava, havia outras coisas para nos abater (a morte do lendário Ennio Morricone, particularmente, foi um grande soco no estômago).

Mas mesmo diante de um ano caótico em que não foi possível fazer muitas coisas, eu ainda sinto que preciso agradecer. No caso, agradecer as pessoas que tenho ao meu redor, sejam elas família ou amigos, já que foram elas (e meu antidepressivo) que ajudaram a fazer com que os eventos de 2020 fossem suportáveis. A família pode sim dar uma boa dose de dor de cabeça, mas são pessoas que me dão uma base primordial, ao passo que os amigos não só estiveram sempre presentes através do famoso "zapzap", mas também conseguiram fazer com que eu me acostumasse e gostasse das tais chamadas de vídeo (até então, eu as odiava pelo simples fato de não curtir ver a minha cara no canto da tela).

Com exceção de alguns momentos prazerosos, como a vitória de Parasita no Oscar e a derrota de Donald Trump nas eleições dos Estados Unidos, 2020 infelizmente será lembrado por mim quase como um vazio. O começo de 2021 não parece ser tão promissor, mas deixo aqui a torcida para que possamos formar um ano mais digno.

Desejo a todos um Feliz Ano Novo!

Um comentário:

Bruno disse...

Me identifiquei plenamente com a confusão de percepção temporal que tu mencionou. Esse ano, para mim, durou mais que qualquer outro, apesar de ter inexistido. É um lance louco!
Baita texto, irmão, e FELIZ 2021!!!