quarta-feira, 25 de novembro de 2020

Descanse em paz, Don Diego

Com a palavra, o mestre uruguaio Eduardo Galeano, em seu livro Futebol ao Sol e à Sombra.

“[...] Julgá-lo era fácil, e era fácil condená-lo, mas não era tão fácil esquecer que Maradona vinha cometendo há anos o pecado de ser o melhor, o delito de denunciar de viva voz as coisas que o poder manda calar e o crime de jogar com a canhota, que segundo o Pequeno Larousse Ilustrado significa ‘com a esquerda’ e também significa 'o contrário de como se deve fazer’.

Estava esgotado pelo peso de sua própria personagem. Tinha problemas na coluna vertebral, desde o longínquo dia em a multidão havia gritado seu nome pela primeira vez. Maradona carregava uma carga chamada Maradona, que fazia sua coluna estalar. O corpo como metáfora: suas pernas doíam, não podia dormir sem comprimidos. Não tinha demorado a perceber que era insuportável a responsabilidade de trabalhar como deus nos estádios, mas desde o princípio soube que era impossível deixar de fazê-lo. ‘Necessito que me necessitem’, confessou, quando já tinha há muitos anos o halo na cabeça, submetido à tirania do rendimento sobre-humano, intoxicado de cortisona, analgésicos e ovações, acossado pelas exigências de seus devotos e pelo ódio dos que ofendera.

Quando Maradona foi, finalmente, expulso do Mundial de 94, os campos de futebol perderam seu rebelde mais clamoroso. E perderam também um jogador fantástico. Maradona é incontrolável quando fala, mas muito mais quando joga: não há quem possa prever as diabruras deste criador de surpresas, que jamais se repete e goza desconcertando os computadores. Não é um jogador veloz, tourinho de pernas curtas, mas leva a bola costurada no pé e tem olhos em todo o corpo. Seus malabarismos inflamam o campo. Ele pode resolver uma partida disparando um tiro fulminante de costas para o gol ou servindo um passe impossível, de longe, quando está cercado por milhares de pernas inimigas, e não há quem o pare quando se lança a driblar adversários.”

Obrigado por ter compartilhado seu talento futebolístico com o mundo, Don Diego. Descanse em paz.

 Diego Armando Maradona

(30 de outubro de 1960 – 25 de novembro de 2020)

Um comentário:

Bruno de Bona Farinon disse...

Bela homanagem, bro.

Vá em paz, Maradona!