Apesar de não praticar mais o catolicismo com o qual cresci, ainda lembro quais são os dez mandamentos. Não irei lista-los aqui porque acredito que todos saibam quais são, mesmo quem segue outras religiões. No entanto, na religião do Internacional parece haver um 11º mandamento: “Não tomarás gol no fim da partida”. E para o azar de quem segue a religião colorada, este é um mandamento que têm trazido consequências frustrantes, para dizer o mínimo.
Não posso dizer que faltou entrega
ao Inter no jogo contra o Flamengo, que transcorreu sem maiores
problemas ontem, durante um quente início de noite em Porto Alegre. O time foi
valente e em alguns momentos surpreendeu até o mais pessimista dos colorados,
que talvez esperasse uma grande derrota frente ao time carioca, que possui hoje
o elenco mais completo do país. Mesmo entrando no gramado do Estádio Beira-Rio
sem algumas peças importantes de seu esquema (Diego Alves, Diego Ribas, Rodrigo
Caio, De Arrascaeta, Gabriel), o time treinado pelo espanhol Domènec Torrent
ainda conseguiu suprir tais faltas com jogadores de qualidade, algo que poucos
times brasileiros têm conseguido fazer. E ainda assim o Inter forçou
erros do adversário e ficou duas vezes na frente do placar, fazendo por merecer
o resultado de 2x1. Só não chegou assim no momento do apito final porque, além do
óbvio crescimento ofensivo do Flamengo (que poderia até perder, mas
venderia caro a derrota), o time não resiste a um pecado, cedendo o empate aos
49 minutos da etapa final.
Não é a primeira vez que isso
ocorre em 2020. Palmeiras (empate em 1x1), Bahia (empate em 2x2)
e mais recentemente os chilenos da Universidad Católica (derrota por 1x2
pela Libertadores) aproveitaram esse pecado colorado. Há duas semanas, o Athlético-PR
por muito pouco também não entrou neste seleto grupo, algo que só não aconteceu
porque a mão esquerda de Marcelo Lomba milagrosamente se esticou aos 46 minutos
do segundo tempo, lembrando o braço de Michael Jordan no épico final de Space
Jam (há rumores de que, após aquela vitória por 2x1, o goleiro saiu
canonizado do Beira-Rio).
Não sei se é por desconcentração, desgaste físico, falta de qualidade técnica de alguns jogadores de seu elenco (figuras como Damián Musto e William Pottker ainda têm chances com o técnico Eduardo Coudet, seja por teimosia deste ou por falta de alternativa) ou um misto de tudo isso. Mas sei que os minutos finais de alguns jogos do Inter têm se mostrado verdadeiros testes para cardíacos, fazendo religiosos rezarem o terço inteiro na esperança de que os seres humanos vestidos de alvirrubro no gramado contenham a pressão adversária até a hora do apito final. Uma esperança que tem conduzido à frustração em jogos cruciais.
Ceder o empate no fim do jogo nunca traz boas sensações, mas lógico que empatar com o Flamengo ainda é um resultado normal e plenamente aceitável, ainda mais em um jogo tão disputado, que muitas vezes ganhou tons de batalha épica (aliás, os operadores de som do Beira-Rio perderam a chance de tocar a trilha de Game of Thrones durante a partida). Com quatro gols, bola batendo na trave duas vezes, jogador impedindo gol em cima da linha duas vezes, onze cartões amarelos e até técnicos discutindo à beira do campo (mas exibindo um claro respeito mútuo logo depois disso), o 2x2 entre Internacional e Flamengo que aconteceu ontem foi um jogo notável desse Campeonato Brasileiro, mostrando duas equipes que estão fazendo por merecer a posição em que se encontram na tabela (líder e vice-líder). Mas é claro que, como colorado, torço para que o Inter vá logo confessar seus pecados e não volte a repeti-los tão cedo, já que estes estão custando vitórias importantes em um campeonato que o clube não vence há mais de 40 anos.
Um comentário:
11 CARTÕES AMARELOS! Vish, mano!
É realmente incrível a maneira que certos esportes mexem com as pessoas.
Ótimo texto, by the way.
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