quinta-feira, 15 de outubro de 2020

Equação Thomica

O Inter jogava contra o Sport ontem à noite pelo Campeonato Brasileiro. Foi um belo jogo, no qual o Inter agraciou a mim e a outros colorados com uma vitória por 5x3 que ainda marcou o esperado retorno de Rodrigo Dourado, volante que estava há mais de um ano sem entrar em campo. Mas por melhor que tenha sido ver tudo isso, hoje não falarei do jogo em si, mas de um momento bem específico que ocorreu durante ele.

Poucos devem saber sobre essas coisas que irei contar, já que raramente falo sobre meus pais publicamente. Mas acho importante compartilhar ao menos certas características deles a fim de dar sentido a esse post. Sendo assim, devo dizer que meu pai tem o hábito de se mostrar irritado com coisas que muitas vezes são bem simples, exibindo uma reação muito desproporcional (e raramente ele se desculpa por isso). Já minha mãe é uma pessoa sensível, com mais noção quanto aos sentimentos dos outros e que faz questão de mostrar sua indignação com o que vê de errado. E é claro que esses aspectos já renderam grandes discussões, mesmo ficando longe de resumir essas duas pessoas.

Mas voltemos rapidamente à partida. Como podem imaginar pelo resultado, foi um jogo movimentado, de forma que foi inevitável ficar um pouco exaltado com algumas coisas que iam acontecendo, rendendo gritos e reclamações por parte de mim e de meu pai. Estávamos fissurados diante da televisão quando minha mãe se aproximou de nós.

“Me deixa contar essa pra vocês”, ela disse.

“AGORA NÃO!”, respondi em um tom mais alto que o necessário.

Não precisei de muito tempo para notar que pisei na bola. Dois segundos depois, olhei para a cara de minha mãe e ela me encarava com um olhar misto de indignação e decepção que me fizeram imediatamente falar a palavra que precisava ser falada: “Desculpa”.

Eu costumo achar que todos nós, como filhos, devemos ao menos tentar ser pessoas melhores que nossos pais. Isso quer dizer que eles são figuras ruins? De forma alguma. Teoricamente falando, essa busca apenas nos mantém em uma constante evolução como seres humanos. Evolução esta que deverá ser continuada por nossos filhos e depois pelos filhos deles e assim por diante. Mas como essa minha breve cena durante o jogo indica, podemos até tentar ser melhores, mas dificilmente seremos muito diferentes. Foi um raro momento no qual percebi que sou mesmo o resultado da equação de Seu Sérgio e Dona Maria Luiza. Uma soma da exaltação de um e da sensibilidade e empatia da outra. E até que o resultado está num caminho evolutivo satisfatório (ao menos por enquanto).

O mais engraçado foi ter precisado de um jogo do Inter para refletir sobre isso.

3 comentários:

Alan Noronha disse...

Cara, fiquei fissurado do início ao fim. O fato de conhecer os personagens pode ter ajudado, mas acho que funciona como texto mesmo para quem não conhece essa família tão latina e tão querida. Gol do Inter.

Bruno disse...

Incrível a viagem por meus próprios momentos de tensão e impaciência para com meus paizinhos em que esse texto me levou. I feel you, bro. Thanks for the lesson.

Maria Luiza disse...

Muito bom texto, filho. É refletindo que amadurecemos e nos tornamos pessoas
melhores. Orgulho de ti.